"Sou jornalista e servia à mesa", diz de forma desassombrada António Pedro Rocha, que este ano passou a treinar mais e tem colecionado vitórias. Sonha correr por um "grande"
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A S. Silvestre do Porto conheceu este domingo o vencedor mais inesperado da sua história de 25 anos. António Pedro Rocha tem 26 anos, escreve no "Notícias de Vouzela" e ao assinar esta época pelo S. Salvador do Campo ficou com mais tempo para treinar. Os resultados estão à vista: ontem, somou o sétimo triunfo em três meses e já sonha com voos mais altos.
"O António é um jovem atleta de 26 anos, natural de São Pedro do Sul e jornalista de profissão. Trabalho num jornal regional, o "Notícias de Vouzela", e pratico atletismo no final do dia, a um nível já aceitável. Trabalhava de segunda a domingo, acumulava o trabalho de jornalista com o de empregado de mesa, mas nos últimos três meses fui cortando no trabalho de mesa para apostar um pouco mais no atletismo. Conseguindo descansar mais, também consigo treinar mais e a prova de ter tomado as decisões corretas foi chegar aqui e vencer", disse de uma assentada, a O JOGO, o vencedor da maior das corridas de final de ano.
A discurso escorreito prova que o vencedor da S. Silvestre do Porto tem realmente prática como jornalista, surgindo uma enorme interrogação quando se pensa em António Pedro Rocha como atleta: onde andou ele até hoje?
Graças à maior disponibilidade para treinar, festejou ontem a sétima vitória em três meses e seis dias, tendo pelo meio sido terceiro na meia maratona de Macau, onde foi a convite da federação.
"Tinha vitórias em provas de estrada a nível regional, nada desta dimensão. Ao contrário dos outros atletas, que já conseguem ter sustentabilidade no final do mês, eu não consigo. O meu clube paga pouco e tenho de ir à estrada buscar os prémios monetários. Nos últimos meses, fui obrigado a fazê-lo muitas vezes, mas acreditei sempre que no Porto podia fazer um bom resultado. Está à vista. Atingi o ponto alto da minha carreira", narrou Pedro Rocha, que só começou a correr "com 17 anos, no Clube Desportivo de Drizes, um clube de São Pedro do Sul que só aposta no futebol".
A partir de agora, António reforçou a sua meta: "Acredito que posso chegar a um dos grandes clubes. Este ano aquele onde estava não tinha condições para me continuar a pagar, era um subsídio muito pequeno. Procurei outro clube, tive um ou dois contactos, mas ofereciam valores iguais. Eu bem dizia: este vai ser o meu ano, vou fazer um grande ano. Sabia que ia ter mais tempo para treinar, mas talvez não acreditassem em mim. O S. Salvador do Campo acreditou... e aqui estou. Espero um dia acabar num grande clube".
Se a sua ascensão demorou, ele assume a responsabilidade: "Há três ou quatro anos, para mim não era importante se não treinasse todos os dias; andava na 'desportiva', só corria se me sentisse bem. Às vezes tinha bons resultados, mas desligava-me facilmente. Até que consegui juntar um grupo de treino, competente, da minha zona de residência, e fomos puxando uns pelos outros. Agora já treino sempre, sozinho ou acompanhado, faça chuva ou faça sol".
Em Lisboa também houve surpresa das grandes
João Pereira, na sexta vez que participou na São Silvestre de Lisboa, conseguiu uma proeza notável, por não ser normal um especialista de triatlo bater os corredores de fundo, algo que nem Vanessa Fernandes conseguiu. O triatleta do Benfica, quinto nos Jogos do Rio'16, tem na corrida o melhor desempenho dos três da sua modalidade, mas bater por quase um minuto o melhor fundista português nos 10 000 metros da época finda, Samuel Barata - tendo 28m24s, esteve presente nos Europeus de Berlim -, é inesperado e notável.
João Pereira, com 29m30s, conseguiu mesmo ganhar a Guerra dos Sexos, ultrapassando Dulce Félix, vencedora feminina, que partiu 3m53s antes dos homens.
"Foi por um bocadinho que não consegui manter a vantagem. Dei tudo o que tinha, andei sempre na frente, mas faltou alguém que estivesse ao meu nível para continuar num ritmo elevado. No último quilómetro, o João apareceu muito forte e conseguiu ultrapassar-me", referiu Dulce Félix. Já João Pereira adiantou: "À sexta foi de vez! Finalmente triunfei. Desta vez consegui chegar aqui sozinho e isso deu-me mais força para lutar pelo triunfo."
Em 2019, as mulheres - que foram igualadas pelos homens nos cinco triunfos - partirão com 3m58s de avanço.