Artur Soares Dias: "Não faz sentido árbitros serem agredidos semana após semana"
Numa ação de recrutamento, alunos do mestrado de futebol ficaram a par do trabalho de preparação dos árbitros e como são tomadas as decisões no campo e no VAR. Nesta formação foram analisados vários lances de possíveis penáltis ocorridos esta época, nos quais o jogador jogou a bola com a mão.
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Foi um dia diferente para 12 alunos do mestrado de futebol da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), que tem um módulo de arbitragem lecionado pelo antigo árbitro Paulo Costa. Estes estudantes tiveram ontem oportunidade de treinar como árbitros e também saber os critérios utilizados nas tomadas de decisão.
Este foi o arranque de uma campanha de recrutamento do Conselho de Arbitragem da FPF e que começou de manhã no Campus do Jogador, em Odivelas. Primeiro, com uma aula teórica, ministrada pelos ex-árbitros João Ferreira e Jorge Sousa, em que foram avaliados lances de mão na bola na área e foram explicados quais os critérios para que seja marcado penálti.
“Em casa, podemos dizer que é logo penálti porque é claro que a bola bate na mão. Mas tivemos uma perspetiva diferente, com termos técnicos, e se o defesa procura mesmo o contacto com a bola”, conta André Baptista, um dos participantes, 21 anos, a O JOGO. O estudante não esconde que “apesar de não fechar portas a essa carreira, a arbitragem não é a primeira opção”. Agora vê os lances “de uma forma diferente”, ele que até é árbitro de basquetebol. “Temos outra perspetiva do jogo, mas a verdade é que se acertarmos dez vezes e errarmos uma todos vão falar é do erro”, lamenta.
Depois da teoria veio um treino prático no relvado, com os jovens e árbitros em vários grupos. Além do treino físico foi simulada a visualização de um lance polémico no VAR. A decisão tinha de ser tomada em poucos segundos e as respostas eram apontadas pelo árbitro Hugo Miguel.
Artur Soares Dias esteve nesta ação e gostou do entusiasmo destes convidados, contando também o que ainda o motiva na arbitragem: “Sempre gostei de desafios elevados e já tive muitas alegrias neste papel ao representar Portugal em competições importantes. São momentos que vou guardar para sempre.”
Outro aspeto que lhe mereceu comentário foi a violência com que o setor por vezes se debate: “Não faz sentido árbitros serem agredidos semana após semana. Têm de deixar os árbitros serem árbitros e estamos a falar de desporto, que deve ser um momento lúdico.”
A ação de recrutamento continuou à tarde, na Cidade do Futebol, com uma aula sobre o funcionamento do VAR.
Faltam mil árbitros a Portugal
José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, lamenta que “o ambiente que se tem vivido no futebol português” esteja a contribuir para o afastamento de jovens da arbitragem. Com 4800 profissionais atualmente, o dirigente já fez as contas a qual seria o número ideal para colmatar as lacunas no setor. “Os estudos que temos feito indicam que, dado o número de praticantes, faltam cerca de 1000 árbitros em Portugal”, enumerou, lembrando alguns fatores positivos desta carreira: “Dentro do futebol, permite praticar desporto. É verdade que os primeiros anos são difíceis, porque fazem a atividade em campos que muitas vezes não têm as melhores condições. Mas depois torna-se uma carreira aliciante e que, quando se alcança patamares superiores, terá o seu retorno financeiro.”
De acordo com José Fontelas Gomes, os organismos têm feito os possíveis para recrutar mais árbitros. “Temos feito a maior campanha de recrutamento de sempre. Quero deixar uma palavra de agradecimento à FPF, associações e à APAF, que têm feito um bom trabalho de angariação”, considerou.