Walter fala sobre o peso: "Uns têm problemas com drogas, bebida e doping..."
Há anos a conviver com o excesso de peso, o antigo avançado do FC Porto admite um "problema psicológico" e acredita que, se estivesse em forma, estaria a representar a seleção brasileira.
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"Se não fosse o peso, você estaria na seleção brasileira". A frase acima é uma mistura de sonho e frustração para Walter, antigo avançado do FC Porto que hoje representa o Paysandu, da segunda divisão brasileira. Ora é dita por companheiros e adversários, ora é um sentimento do próprio jogador. Ainda vinculado aos dragões, com quem tem contrato até junho de 2019, o brasileiro luta há anos contra a balança. O problema com o peso persegue-o desde o momento em que deixou Portugal para cuidar da saúde da filha, que nasceu prematura.
Sente-se frustrado por não ter tido sucesso no FC Porto?
- Não. Fui muito feliz ao voltar para o Brasil. Consegui muitas coisas, principalmente um bom salário. Não adianta ficar três ou quatro anos na Europa e não ganhar o que já ganhei aqui, e olha que hoje em dia é muito difícil ter um bom salário no Brasil. Jogar na Europa só para falar que jogo na Europa? Não penso assim.
Nunca quis ter uma sequência de mais de dois anos num mesmo clube?
- Seria bom, claro. No Fluminense, por exemplo, estava bem, mas a patrocinadora começou a atrasar o salário e não poderia ficar num sítio sem receber. Não fiquei mais tempo no Atlético Paranaense porque o Goiás chegou ao FC Porto e pagou um milhão e meio pelo empréstimo. Cheguei como ídolo, mas aconteceram alguns problemas e tive de sair. Se não fosse isso, estaria até hoje no Goiás. A minha ideia, e ainda trabalho para isso, é ficar dois ou três anos na equipa. Com todo o respeito pelo Paysandu, sonho jogar no Corinthians, no São Paulo, no Flamengo... Muitos dizem-me: "Walter, você é jogador para clube grande". Mas, para isso, preciso estar bem, focado e em forma. O peso é um problema muito grande para mim. O mercado fica menor por causa do peso e a malta fica sempre desconfiada. Se estivesse no peso ideal, poderia até estar na seleção. Tenho 28 anos, vou fazer tudo para atingir a minha melhor forma com 29 ou 30 anos.
O problema com peso é psicológico?
- Sim. Às vezes controlo, às vezes não. É muito difícil... é um problema que vou enfrentar a vida toda. Preciso ter mais controlo, mas é uma coisa da minha cabeça mesmo.
Como é conviver com a luta para ficar em forma sabendo que tem qualidade técnica?
- Passa um filme na minha cabeça sempre que escuto elogios, é muito complicado. Ouço-os de jogadores, treinadores, do próprio Tite [selecionador do Brasil], que foi o responsável por lançar-me no Internacional. Sempre me cobrou muito.
Chegou a entrar em depressão?
- Não, nunca.
Acha-se menos profissional por estar acima do peso?
- Não. Faço tudo o que os outros fazem. Cada um tem o seu problema. Uns têm problemas com drogas, com bebida, outros chegam bêbados para treinar, são apanhados no doping... O meu problema é gostar de comer.
Considera-se acima da média?
- Sim. Sou diferente. Antes de a bola chegar já estou a pensar na sequência da jogada, sou inteligente, tenho bom passe...
Se não fosse o peso, onde estaria hoje?
- Não sei, talvez nem estivesse agora a conversar contigo. Poderia também não ter dado certo no futebol. Deus deu-me esta vida, com estes obstáculos e preciso de os enfrentar.