Seis meses após a invasão da Rússia, a liga arranca sem público nas bancadas e com refúgios junto aos estádios para proteção dos intervenientes
Corpo do artigo
Na véspera do dia nacional da independência, arranca hoje a liga ucraniana, prova que é vista como um grito contra a invasão russa, perpetrada a 24 de fevereiro e que pôs termo à anterior edição sem a atribuição do título. Mais do que a vertente desportiva, o campeonato é apontado como um marco histórico, sabendo-se de antemão que a temporada será atípica, pois, à semelhança do que já aconteceu com os juniores, os desafios são interrompidos mal se ouçam sirenes a dar conta de ataques.
Em Kiev, o Shakhtar recebe o Metalist 1925 no arranque de uma prova com 16 equipas, duas delas para os lugares do Desna Chernihiv, que desistiu e do Mariupol, cuja cidade está sob controlo russo.
Sempre que tal aconteça, os jogadores, staff e equipas de arbitragem têm indicações para se deslocarem para uma zona de refúgio, localizada a um limite de 500 metros dos estádios. À luz do protocolo, desde que estejam reunidas condições, os embates reiniciam-se 25 minutos depois. O clima bélico obriga à ausência de público nas bancadas e segurança reforçada.
Na Ucrânia, estão apenas aprovados quatro recintos, um dos quais o Olímpico de Kiev, palco do primeiro desafio oficial desde o início da guerra: hoje, às 11h00, jogam Shakhtar e Metalist 1925. Em Lviv, Lutsk e Úzhgorod encontram-se os restantes recintos, o que implica uma complexa logística. Porém, já em 2014, quando teve início o conflito no Donbass e a anexação da Crimeia pela Rússia, o Zorya teve de transferir-se de Lugansk para Zaporíjia (jogará agora em Úzhgorod), enquanto o Shakhtar, cujo estádio foi destruído por bombardeamentos, trocou Donetsk por Lviv e Kharkiv antes da mudança definitiva para Kiev.
Conciliar exército e treino
Em prova estão 16 formações, entre as quais o Metalist e o Kryvbass, conjunto da cidade natal do presidente Volodomyr Zelensky e orientado por Yuriy Vernydub, treinador que na época passada liderava o Sheriff e renunciou ao cargo, incorporando-se nas fileiras do exército ucraniano. Com autorização do Ministério de Defesa, tem liberdade para conciliar os treinos com a atividade militar. Ambas ocupavam os dois primeiros lugares do segundo escalão quando a prova foi suspensa e ocupam os postos do Desna Chernihiv, que desistiu por força da guerra, bem como o Mariupol, cidade que passou a estar sob domínio russo.
Êxodo dos estrangeiros
Com a possibilidade de rumar a outros clubes, devido à norma excecional da FIFA estabelecida fora das janelas de transferências, muitos jogadores estrangeiros deixaram os respetivos clubes. Na época passada estavam inscritos 98 atletas, número que desceu para 45, em 2022/23. O Shakhtar foi a principal vítima do êxodo. Há um ano tinha 14 estrangeiros no plantel e inicia a época com apenas três: Djurasek (Croácia), Traoré (Burquina Faso e Kayode (Nigéria). Outrora com diversos brasileiros, o Shakhtar perfila-se como candidato ao título, em conjunto com o recordista Dínamo de Kiev (campeão em 16 edições), que hoje decide com o Benfica a passagem à fase de grupos da Champions.
Única equipa a intrometer-se entre os dois grandes rivais, com o título em 1992, na primeira edição da prova, o Tavriya Simferopol foi extinto aquando da anexação da Crimeia, passando a designar-se TSK Simferopol, entrando em provas russas. Mais tarde retomou atividade sob designação original na segunda liga ucraniana, mas a ocupação russa em Kherson ditou o o seu fim definitivo.