<strong>ENTREVISTA - </strong>O técnico do Olympiacos vai estrear-se na maior prova de clubes europeia depois de ultrapassar três rivais, incluindo o Krasnodar, que eliminou o FC Porto. Sem medos, em especial em casa, aponta, contudo, o título grego como grande meta.
Corpo do artigo
A cumprir a segunda época no emblema do Pireu, Pedro Martins já alcançou um dos grandes objetivos traçados, com um arranque de temporada de grande nível. Quebrar o jejum no campeonato grego é o foco principal do treinador luso, não escondendo satisfação pelo grupo de que dispõe, elogiando o carácter e disponibilidade dos jogadores.
Estreia-se terça-feira na fase de grupos da Champions. O que significa para si jogar esta competição?
-É um marco importante. Também será importante para os jogadores e clube, porque esta é a competição das competições, onde toda a gente está focada. Para mim, como deve calcular, jogar uma prova onde estão todas as grandes equipas, os melhores jogadores e treinadores do mundo é importante. Será certamente uma grande aprendizagem para o meu presente e futuro.
"Na Champions estamos num grupo muito difícil. Tudo o que vier daí, ótimo"
A equipa está preparada para o jogo em casa frente ao Tottenham?
-Estamos tranquilos. Preparámos primeiro o jogo do campeonato, mas o grupo está muito motivado. Há uma atmosfera de grande serenidade, estamos bem física e mentalmente. E um pouco ansiosos, porque todos gostam de participar neste tipo de jogos.
Vai defrontar o finalista vencido da Champions. Que dificuldades espera e como pensa ultrapassá-las?
-Tenho a certeza de que vamos encontrar muitas dificuldades. Temos de ser muito rigorosos e, em muitos momentos, inteligentes. Mas também devo dizer que jogar no Georgios Karaiskakis não é fácil para ninguém. Temos no nosso estádio um elã e atmosfera que fomos alimentando desde que aqui cheguei. Os resultados caseiros têm sido absolutamente fantásticos. Nas competições europeias, ainda não tivemos qualquer derrota e defrontámos grandes equipas, como o Krasnodar e o Basaksehir esta temporada, ou o AC Milan e o Bétis na época passada. Com o nosso público, somos muito fortes.
"Jogar no Georgios Karaiskakis não é fácil para ninguém. Temos um elã e uma atmosfera que fomos alimentando. Os resultados caseiros têm sido fantásticos"
Foi esse o segredo do apuramento nas pré-eliminatórias e play-off?
-Foi, sim. Marcámos dez golos, não sofremos nenhum e ganhámos a Plzen, Basaksehir e Krasnodar.
Teve de iniciar a pré-época muito cedo. Como conseguiu planear o trabalho?
-Este foi um ano um pouco anormal, porque muitos dos nossos internacionais tiveram de interromper as férias para fazerem jogos de seleções. Isso não é benéfico. Mas houve um aspeto importante: grande parte do grupo de trabalho transitou de uma época para a outra e, como esses jogadores já vinham dando boa resposta, deram continuidade ao que vinham fazendo. Fomos integrando os internacionais e os que foram contratados mais tarde, e fomos para estágio com todos disponíveis. Todo o grupo tem estado muito disponível para absorver tudo o que lhe temos passado. Este é um grupo que tem qualidade técnica e individual e que possui também muita gente de enorme carácter.
Falou em continuidade. É isso que justifica o excelente início de temporada?
-É um dos fatores fundamentais. Na época passada, quando cheguei, reestruturámos praticamente 90 por cento do plantel. Houve grande simbiose entre mim, os jogadores e os adeptos, porque perceberam o tipo de desafios que tínhamos pela frente.
Pode dizer-se que foi uma espécie de ano zero?
-Diria que o ano começou até negativo, devido à grande reestruturação que referi, com vários jogadores, como o Guilherme e o Hassan, a chegarem no fecho do mercado. E no ano anterior as coisas não tinham corrido bem ao clube. Mas gradualmente conseguimos formar um bom grupo.
11302466
"TENHO AMBIÇÕES, MAS ESTOU FOCADO NO OLYMPIACOS"
Pedro Martins admite que a Champions é uma montra que dá visibilidade aos treinadores, mas o técnico não olha para o Olympiacos como um degrau para subir na carreira. "Não penso assim. Se reparar, sou um homem de projetos. Estive quase cinco anos no Marítimo, dois anos no Rio Ave e também dois no V. Guimarães. Claro que tenho ambições, mas estou focado no Olympiacos. É evidente que gostaria de fazer história aqui, como fiz noutros clubes, isso é verdade. Mas penso apenas no presente. É onde me sinto bem que aplico o meu esforço e empenho. Se não me sentisse feliz, seria outra história."
"VAI SER UMA LUTA A TRÊS PELO TÍTULO ATÉ AO FIM"
Na Europa, o técnico refreia as ambições e pensa também na Liga Europa.
O Olympiacos está obrigado a lutar pelo título. É esse o grande objetivo da época?
-Sim, sem dúvida. Na Champions, estamos num grupo muito difícil: vamos defrontar o Bayern, um dos clubes com melhor palmarés na Liga dos Campeões; o Tottenham é um candidato ao título na melhor liga do mundo e esteve na final da última Champions. Tudo o que vier daí, ótimo, mas temos a noção de que vamos defrontar duas equipas muito poderosas. Há a possibilidade de irmos para a Liga Europa e teremos, à partida, um confronto direto com o Estrela Vermelha por esse objetivo. Serão jogos difíceis, é uma equipa com qualidade, mas não tem a mesma força, nem é um conjunto de primeira linha como os outros rivais.
Quem vê como principal adversário interno? O campeão PAOK, agora treinado por Abel?
-Há três grandes candidatos: nós, o PAOK e o AEK, que começou a época com o Miguel Cardoso. O Panathinaikos é também um grande clube, mas não o vejo a lutar pelo título. Estou convicto de que vai ser uma luta a três até ao fim.
O técnico do Olympiacos reconhece mérito ao PAOK pelo título passado, mas considera que o mau resultado no confronto direto em casa foi decisivo
O que decidiu o título de 2018/19? As dificuldades iniciais da sua equipa?
-No fundo, acho que se resume ao desafio em casa contra o PAOK: fizemos um jogo soberbo, mas o resultado foi manifestamente negativo. Penso que definiu o campeonato. Mas a parte inicial também terá comprometido, foi um arranque muito difícil e não podemos deixar de dar mérito ao adversário que ganhou.
O que retira de mais positivo da sua primeira época na Grécia?
-A construção da equipa. O que fizemos foi muito difícil, mas toda a gente percebeu que iria dar resultados. O tipo de contratações, de jogadores que fomos buscar. Todos fizeram um excelente trabalho. Temos um plantel jovem, há um presente efetivo e muito futuro, com gente preparada para grandes andanças.
11300090
"RÚBEN SEMEDO É UM CENTRAL DE ELEIÇÃO"
Pedro Martins está contente com os compatriotas do plantel e encontra-lhes várias qualidades.
José Sá e Podence foram contratados na época passada, e Rúben Semedo neste defeso. O que é que cada um destes seus compatriotas dá à equipa?
-São três jogadores muito apreciados, e não se pode esquecer que agora chegou também o Bruno Gaspar, que ainda tem de começar a jogar. O Sá é um guarda-redes de qualidade, não é por acaso que o Olympiacos investiu na sua aquisição; vê nele condições extraordinárias não só para defender a baliza do clube como para, um dia, vir a ser uma mais-valia financeira. O Daniel, não me canso de o dizer, é um jogador muito forte no um contra um, um desequilibrador e que muitas vezes cria mossa aos adversários na Grécia. Já o Rúben é, para mim, um central de eleição. Tenho a certeza de que vai fazer uma carreira extraordinária, porque tem grande potencial. É um líder, é forte fisicamente, é bom pelo ar, tecnicamente evoluído - tem muita qualidade.
"O Olympiacos vê no José Sá condições extraordinárias não só para defender a baliza do clube como para, um dia, vir a ser uma mais-valia financeira"
O Rúben, atualmente lesionado, estava pré-convocado por Fernando Santos, que chamou igualmente José Sá e Podence para os jogos contra a Sérvia e a Lituânia...
-Provavelmente, digo eu, porque só o selecionador saberá, se não tivesse sido operado, talvez fosse chamado.
Acha que essa primeira chamada do Rúben vai suceder em breve?
-Quem pode responder a isso é o Fernando Santos. Eu espero que sim, por aquilo que conheço do Rúben enquanto meu jogador e pela sua qualidade. Mas também reconheço que Portugal tem muitos jogadores bons e que não é fácil para o selecionador, que é quem tem de tomar essas decisões, fazer uma escolha. As decisões que ele toma, aceito-as, sejam elas quais forem. Do que não duvido é que o Rúben tem condições para chegar e jogar na Seleção Nacional.