Paulo Fonseca em entrevista: "As conversas seduziram-me. Lille foi uma escolha feliz"
Técnico explica o seu grau de satisfação na sua terceira experiência fora do país e como se ajustou à natureza mais física da Ligue 1. Feliz por ter encontrado um jogo mais aberto, condizente com a sua mentalidade
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Apurou o Lille para a Liga Conferência com um 5º lugar, melhorando a classificação da equipa em 2021/22: 10º. Com plantel de baixo custo, aspira competir contra os melhores. Em cinco jogos de 2023/24, ocupa o 8º lugar.
Qual o rescaldo do primeiro ano no Lille? Soube a pouco a classificação ou foi um milagre face a certas limitações?
-Foi surpreendente. Se me dissessem no início da época que iríamos atingir as competições europeias, eu duvidaria. Vim para um clube onde o investimento não é forte, encontrei a equipa já sem muitos daqueles que foram campeões franceses. Foi construir uma equipa nova a baixo custo. Foi extremamente positivo alcançar a UEFA e, ao mesmo tempo, valorizar jogadores com uma forma de jogar muito reconhecida em França.
Como sente que foi a taxa de aprovação dos adeptos?
-Acho que era difícil conseguir melhor. Os adeptos gostaram do que viram, apreciaram a nossa forma corajosa de jogar fosse contra quem fosse. Viram qualidade. Foi fantástica essa relação, tal como foi fantástico treinar em França. Foi um ano incrível numa das "Big Five" da Europa.
O que implicou este passo para a França no que respeita à sua adaptação à dimensão física da Ligue 1?
-É um campeonato diferente. Em condições de trabalho é do melhor, temos estádios novos e modernos sempre cheios, terrenos ótimos, bons árbitros e adeptos entusiasmados. Ao nível de jogo é uma liga muito mais aberta, jogos abertos e de muita transição defensiva. Tive de ter algum cuidado com os momentos de contra-ataque dos adversários, até porque quase todas as equipas têm jogadores rápidos e atléticos na frente. Tive de repensar algumas coisas do meu jogo mas sem alterações estruturais. Agradou-me não ser um campeonato tão fechado, logicamente mais atrativo. Foi altamente positivo.
Qual a realidade do Lille?
-Encontrei grandes condições e ótimos profissionais em todos os departamentos. Tive de compreender a realidade recente do clube, que passou a ter novos donos, que lidaram com dívida enorme. O investimento tem sido rigoroso, muito abaixo de outros clubes, pois não temos a capacidade financeira do Mónaco, Marselha, Lens, Rennes, para não falar do Paris-SG. Fizemos um grupo jovem e acredito que vamos andar na frente, tentando a posição europeia. O Lille tem outras coisas, é muito atrativo para jovens de qualidade e tem sido um dos clubes mais vendedores da Europa. Aqui o importante é valorizar e vender jogadores.
Qual a importância do ano sabático pós-Roma e as motivações que o fizeram voltar pela porta do Lille?
-Quando saí da Roma não é segredo que tive tudo acertado com o Tottenham, mas as coisas não se concretizaram. Existiram convites mas decidi que era um ano que devia descansar, observar e ter tempo para a família. Coincidiu com o início da guerra na Ucrânia e decidi que não fazia sentido voltar ao ativo. Surgiu o convite do Lille, as conversas seduziram-me, percebendo que podia construir algo meu e do zero. Foi uma escolha feliz, desenvolvi um trabalho no qual as pessoas acreditam e comungam das ideias.
Está contente com as apostas, apesar do curto fôlego financeiro do clube?
-Nunca estamos completamente satisfeitos. Mas compreendo a política do clube, não posso exigir ao Lille o que treinador do Mónaco pode exigir ao Mónaco. E podia falar do Lens, Rennes ou até Estrasburgo. Não temos a possibilidade de investir grandes quantias e temos de recrutar jovens jogadores. Não tenho dúvidas que vão ser importantes no clube e no futebol europeu.
Há alguma exigência de melhorar o 5º lugar?
-Não há qualquer condição imposta, o que me foi pedido é continuar a jogar um futebol vistoso que potencie os jogadores. Há uma noção geral de que é muito difícil lutarmos contra orçamentos muito superiores e outro tipo de investimento. Mas isso não nos impedirá ou inibirá de entrarmos na luta pela Europa. Não há qualquer exigência classificativa. A única exigência passa por um futebol atrativo que orgulhe os adeptos.
A Liga Conferência é um objetivo importante?
-Não podemos mentir. Não é a Liga dos Campeões! Longe disso. Mas para este tipo de clube é uma competição atrativa. Temos ambições mas há outros clubes fortíssimos. Sentimos que podemos chegar longe e porque não ganhá-la?