Nascido na Normandia, Hidalgo foi também um médio de qualidade. Representou o US Normande e o Le Havre, transferindo-se em 1954 para o Stade de Reims, então grande potência do futebol francês
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Michel Hidalgo tinha 87 anos quando faleceu, anteontem, em Marselha, de doença não relacionada com a Covid-19. Há muito afastado do futebol, deixou uma marca importante no futebol francês, como jogador e sobretudo treinador, assumindo-se um romântico. "Nunca falei de resultados aos jogadores. Fui jogador, treinador e espectador. Quero lá saber se passo por um poeta ou por um piroso", dizia citado pelo "Le Monde".
Aos portugueses deixou más recordações no penúltimo jogo em que orientou a seleção francesa (cargo que exerceu de 1976 a 1984). Foi precisamente em Marselha, no Vélodrome, que os bleus eliminaram Portugal nas meias-finais do Euro"1984, com um triunfo por 3-2 num jogo épico e decidido no prolongamento por um golo de Platini, já depois de Domergue ter, por duas vezes, respondido aos golos de Jordão. Quatro dias depois, a 27 de junho, no Parque dos Príncipes em Paris, Hidalgo liderou um geração de ouro - que integrava Amoros, Trésor, Bossis, Tigana, Luiz Fernandez, Giresse e Six entre outros -, do futebol francês ao triunfo (2-0) sobre a Espanha e à conquista do seu primeiro grande título de seleções.
Foi o culminar de oito anos de um trabalho que incluiu ainda a presença nos Mundiais de 1978 e 1982, tendo estado neste último muito perto de chegar à final. Caiu nas semifinais ante a RFA, perdendo nos penáltis após um 3-3 e numa partida que ficou marcada pela infame agressão do guarda-redes Schumacher a Battiston. Um lance que o árbitro não puniu com falta apesar do avançado francês, que seguia isolado e tinha entrado aos 50", ter saído de campo (aos 60") inconsciente, com menos dois dentes e três costelas fraturadas.
Nascido na Normandia, Hidalgo foi também um médio de qualidade. Representou o US Normande e o Le Havre, transferindo-se em 1954 para o Stade de Reims, então grande potência do futebol francês e pelo qual foi campeão em 1955, disputando no ano seguinte a primeira final da Taça dos Campeões Europeus, perdida para o Real Madrid (4-3), apesar de ter feito um golo. Representaria ainda o Mónaco, onde foi duas vezes campeão e levantou duas taças.
Foi fundador do sindicato dos jogadores de França. Após deixar a federação francesa, onde foi diretor-desportivo até 1986, ocupou cargo idêntico até 1991 no Marselha, ajudando este a construir uma equipa que dominou o futebol francês. Contudo, seria depois arrastado pelo escândalo de corrupção que teve Bernard Tapie, o presidente, como figura central.