"É pertinente questionar: quais as razões para que o voo de Sala não tivesse sido cancelado?"
O JOGO ouviu um investigador português em acidentes aéreos
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Tendo em conta todo o contexto envolvente, nomeadamente quanto ao clima adverso e às condições do avião, o piloto David Ibbotson ter-se-á precipitado ao tomar a decisão de voar entre Nantes e Cardiff, no dia 21 de janeiro, numa viagem em que transportava o futebolista Emiliano Sala. Ambos estão ainda desaparecidos, não havendo igualmente vestígios da aeronave em questão, um Piper Malibu fabricado em 1984.
Esta suposição foi avançada a O JOGO por Luís Garção, piloto de aviões que é também um dos maiores especialistas portugueses em acidentes aéreos.
"Este é um modelo já antigo, com bastantes limitações, como por exemplo, ao ser operado em más condições meteorológicas, como as que se verificavam na altura do desaparecimento. Tudo aponta também para que o piloto, David Ibbotson, não tivesse muita experiência recente de voo por instrumentos, algo imprescindível em condições de má visibilidade e ainda mais de noite", começou por explicar Garção, que, aos 58 anos, tem 18 mil horas de experiência de voo, algumas delas enquanto piloto acrobático.
"Consultando o manual de operação deste modelo concreto de Piper Malibu, inclui muito poucos sistemas que permitam um voo seguro em condições de formação de gelo e/ou precipitação forte, como provavelmente se verificaram nesse início de noite e na rota deste voo", acrescentou.
O comandante coloca ainda ainda a hipótese de ter havido uma desintegração em pleno voo. "No passado, vários acidentes com este tipo de avião foram atribuídos à desintegração do avião em voo, por se excederem os limites de velocidades e/ou as cargas aerodinâmicas admissíveis, após desorientação espacial por parte do piloto, quase sempre em condições meteorológicas adversas. Contudo, nada indica, para já, que possa ser exatamente isso que se passou com este Piper em concreto, muito embora sejam credíveis os relatos referentes à pouca experiência deste piloto e não existirem dúvidas dessas condições meteorológicas adversas, na altura do voo", afirmou, questionando depois: "Perante este cenário, é pertinente questionar quais foram as razões que levaram a que o voo não tivesse sido cancelado..."