"Uma vez parado o único motor, o tempo de voo não excederá os dois minutos"
Análise de um profissional ao fatídico voo de Emiliano Sala no Canal da Mancha.
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O comandante Luís Garção, em declarações a o JOGO, lembra que um monomotor como o Piper Malibu, utilizado no passado dia 21 pelo piloto David Ibbotson no transporte do futebolista Emiliano Sala, pode sofrer perturbações graves em casos de condições climatéricas adversas como as que, nessa noite, se verificavam na zona do Canal da Mancha.
"O motor deste avião pode falhar com um nível de ingestão de água ou de gelo consideráveis, como o que é provável ser encontrado em condições semelhantes às descritas na altura do desaparecimento", analisou Garção, piloto de 58 anos com 18 000 horas de voo e, ao mesmo tempo, investigador de acidentes com aeronaves pela USC (University of Southern California).
Segundo disse, o pedido de Ibbotson no sentido de, a certa altura, perder uma altitude considerável, terá tido a ver precisamente com o mau tempo. "O pedido de descida para uma altitude inferior poderá ter sido motivado para procurar melhores condições de visibilidade e/ou temperatura, neste caso para fugirem a um eventual acumular de gelo na estrutura do avião", avançou, lembrando, no entanto, que se trata apenas de uma possibilidade e não de uma certeza quanto ao que poderá ter acontecido.
Garção explicou depois que, possivelmente, uma eventual amaragem forçada poderá ter demorado cerca de dois minutos: "Uma vez parado o único motor de um qualquer Piper Malibu, o tempo de voo, desde uma altitude de 5000 pés, até uma amaragem forçada, ainda que controlada, não excederá em muito os dois minutos."
Este piloto e investigador português lembrou, a terminar, que um relatório oficial trará as primeiras conclusões oficiais. "O facto de as buscas se terem alargado a uma área muito considerável (4400 km quadrados), terá a ver com o facto de as condições na zona do desaparecimento se terem mantido muito dinâmicas em termos de ventos e correntes, durante a última semana, fazendo com que, por cada hora que foi passando, a área de busca e de incerteza tivesse necessariamente de se ir alargando. A desistência da operação ao fim de quatro dias, após terem estado envolvidos vários meios aéreos e marítimos, terá a ver exatamente com o facto de essas condições meteorológicas reduzirem muitíssimo a possibilidade de se encontrarem vestígios do avião, assim como a possibilidade de serem encontrados sobreviventes, ao fim de tanto tempo. Aguarda-se o relatório preliminar sobre este acidente, para que se conheçam mais dados concretos sobre o sucedido", disse.