Dalot em entrevista: "Não queremos ser a Seleção que só ganhou sub-17 e sub-19"
Os sub-21 de Portugal começam amanhã o ataque ao pleno. Antes, uma das principais figuras conversou em exclusivo com O JOGO. A viagem começou no FC Porto, terminou em Itália e passou por Manchester.
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Utilizado regulamente no AC Milan, o mais direto perseguidor do Inter na Série A, Diogo Dalot é um dos nomes em foco na jovem equipa italiana, que mudou o paradigma e tem dado a conhecer, esta época, muitas figuras que gravitam à volta do "pai" Ibrahimovic.
Portista quase desde o berço, o lateral (à direita ou à esquerda) viajou com O JOGO ao longo do seu percurso, terminando obviamente na Eslovénia, onde amanhã, quinta-feira, defronta a Croácia no primeiro jogo de um Europeu que desejava muito. Depois dos títulos anteriores, é preciso confirmar estatuto a nível sénior, avisa. Mas sem esperar que a fama garanta alguma coisa...
Pergunto-lhe de forma muito clara. Não ser campeão europeu de sub-21 será uma desilusão?
-Essa pergunta faz-se bastante pela expectativa que nós criámos...
Também, mas se virmos as listas de convocados das outras seleções, não encontramos nenhuma com tantos internacionais a jogar a um nível tão elevado...
-Percebo perfeitamente. Para nós é um objetivo, é uma ambição. Mas vou dizer por experiência própria, recuando, por exemplo, ao Europeu de sub-17: queríamos ganhar, mas definimos objetivos principais primeiro. Todos querem ganhar, e nós não somos exceção. Percebo a expectativa dos portugueses - e é aquilo nos interessa -, que podem achar que pela geração e equipa que temos, pelo que já fizemos, será um grande objetivo para nós. E é. Mas temos três jogos muito difíceis pela frente, porque a este nível não há jogos fáceis. Apanhámos no apuramento algumas seleções que, claramente, não estavam ao nosso nível, mas isso deixa de existir agora. Acho que ao melhor nível conseguiremos vencer, mas isso não basta. Temos de mostrar em campo, vencer estes jogos para no final da época, em junho, podermos lutar pela vitória no Europeu, que seria algo fantástico, não só para nós mas também para o país.
Rui Jorge disse que não haveria junho sem março...
-É um bocado isso e só pode ser esse o espírito. Por ser dividido em duas partes, este é, por si só, um Europeu diferente. Temos de nos adaptar muito rapidamente, porque vamos chegar, treinar e jogar. Normalmente temos uma semana de preparação, onde podemos assimilar ideias, voltar a habituar-nos a jogar juntos, algo que acontece muito poucas vezes durante a época. Temos de nos adaptar rápido e acho que esse é também um ponto chave: quem se adaptar mais rapidamente e melhor, vai estar mais bem preparado.
Mas boa parte destes jogadores já vêm de seleções anteriores. Esse conhecimento parece uma vantagem...
-Sim, é, porque tivemos o privilégio de crescer e jogar muitas vezes juntos, e esse processo de adaptação pode ser bastante positivo. Mas, dos outros lados certamente haverá também jogadores que cresceram juntos, que jogaram juntos e que também têm essa vantagem. Vai valer muito mais o que fizermos dentro de campo. Vamos tentar preparar da melhor maneira e tentar vencer os três jogos.
Como é que um grupo tão novo, mas já com um currículo tão recheado, consegue gerir as expectativas? E, já agora, quem serão os principais adversários na prova?
-Há seleções muito fortes, a começar pela Inglaterra, Croácia e Suíça que estão no nosso grupo. Diria também a França, Itália e Espanha. Quase todas as seleções têm jogadores ao mais alto nível. Acredito que vamos ver um torneio com muita qualidade e, quanto a nós, vamos seguir o que disse o nosso treinador e pensar jogo após jogo. Parece repetitivo, mas no futebol é mesmo isso. Queremos estar na fase final, vamos dar tudo por isso.
O mau exemplo do Mundial de sub-20 e o falhanço nesses objetivos deixa-vos, de alguma forma, mais alerta?
Olho para o Mundial como um momento de aprendizagem. Achava que poderia ter corrido melhor - e poderia, sem dúvida. Serve de aprendizagem, mas são momentos diferentes, temos jogadores diferentes, estamos em fases da carreira diferentes... Olhar para trás não nos serve de muito, mas serve para perceber que a expectativa que se cria de fora de que podemos ganhar não é de todo suficiente para se vencer e temos que demonstrar, como fizemos na qualificação, que somos fortes e conseguimos vencer. Espero que consigamos isso.
Esta geração já foi duas vezes campeã da Europa, tem jogadores muito jovens em grandes clubes europeus. É geração para sustentar o futuro de Portugal?
-Temos muito orgulho no que já conquistámos, mas aqui volto a fazer minhas as palavras do míster Rui Jorge: o passado é o passado e não nos garante nada para o futuro. Sabemos da qualidade que temos e queremos ter impacto também ao nível sénior, temos de dar esse passo. Não queremos ser a seleção que ganhou só nos sub-17 e nos sub-19, agora temos de prová-lo também com os sub-21. É o momento para isso.
"À direita ou à esquerda estou a valorizar-me"
Nove vezes titular à direita, nove à esquerda, eis um lateral cada vez mais polivalente.
Joga à direita e à esquerda. Vê isso como vantagem ou algo prejudicial, capaz de complicar a afirmação como titular num clube?
-Prejudicial não acredito que possa ser. É um desafio para mim, e quem vivenciou algo do género saberá o que vou dizer. Não é fácil estar sempre a trocar da direita para a esquerda, principalmente em termos de perceção das posições a estar em campo, mesmo a linguagem corporal é diferente, mas é um desafio bom, gosto de desafios destes porque acho que consigo desempenhar um bom papel em ambos lados. Sabemos que onde me sinto mais forte é na direita, mas já demonstrei que consigo jogar à esquerda, e para um treinador será positivo ter alguém que possa fazer os dois papéis. Um prejuízo não acredito de todo que seja, porque valorizando à direita ou à esquerda, estou a valorizar-me, e não o Dalot lateral-direito ou lateral-esquerdo.
Há quatro laterais direitos nos sub-21, nenhum lateral esquerdo. Vai ser o Dalot? E tendo em conta a quantidade de laterais direitos na seleção principal, será mais fácil chegar lá pela via da esquerda?
-Eu estou pronto para jogar onde o treinador Rui Jorge considerar que devo jogar. Esta temporada, no Milan, tenho jogado tanto à direita como à esquerda e sinto-me bem em ambas as posições. No futebol de alto nível é muito importante estarmos prontos para render em várias posições. Dada a exigência e competitividade dos grandes clubes, tentei sempre adaptar-me.
Alguns jogadores começaram esta qualificação convosco e hoje estão na equipa principal, como Pedro Neto e agora Nuno Mendes, precisamente o lateral esquerdo. São exemplos daquilo que vocês pretendem?
-Chegar à Seleção principal é o objetivo de todos. Mas isso também demonstra que não é obrigatório passar pelas seleções de sub-15, sub-16, sub-17 para chegar lá, tem é de ter a qualidade necessária para ser escolhido pelo selecionador. O Nuno e o Neto estão lá com todo o mérito, sem dúvida, são dois grandes jogadores que merecem estar onde estão. Para nós, companheiros que fomos na qualificação, é um motivo de orgulho vê-los conseguir esse objetivo. Sem dúvida que desejamos o melhor para eles nestes jogos.
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