"Arsenal? Pensei que estavam no gozo, jogava no quarto escalão do futebol português..."
ENTREVISTA, PARTE IV - Luís Boa Morte estava emprestado pelo Sporting ao Lourinhanense, clube que militava no IV escalão nacional, quando recebeu a proposta para assinar pelo emblema londrino
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No verão de 1997, Luís Boa Morte viveu um conto de fadas. Depois de uma época no Lourinhanense, por cedência do Sporting, aos 20 anos saltou do IV escalão do futebol português e mudou-se para a Premier League, assinando pelo Arsenal.
O antigo internacional luso jogou em três clubes de Londres: Arsenal, Fulham e West Ham. “Tive a sorte de viver na melhor cidade do mundo, que teve grande impacto na minha carreira”.
O que sentiu quando soube do interesse do Arsenal?
-Na altura, quando me contactaram, até pensei que estavam no gozo, porque jogava no quarto escalão do futebol português. A verdade é que não queria muito ir para Inglaterra, o desejo era ficar no Sporting e chegar à primeira equipa. Mas não quiseram rever o meu contrato naquela altura e só houve aquela solução. A partir daí, os meus ídolos passaram a ser meus colegas e as coisas começaram a ser feitas de forma diferente ao que estava habituado.
Sente que nos dias que correm ainda é possível dar o salto da IV Divisão de Portugal para a Premier League?
-Para ser honesto, o Arsenal não me foi buscar ao Lourinhanense. Viu-me jogar no Torneio de Toulon, que é uma montra para os jovens. Sabia lá onde eu jogava, viu-me ali e quis contratar-me.
Como foi recebido no Arsenal?
-Fui bem recebido. No primeiro dia, a maioria das pessoas não me conheciam, só sabiam que o Arsenal tinha contratado um extremo português. Mas fomo-nos conhecendo com o tempo. Arsène Wenger foi muito importante na integração e chegou a falar comigo antes de eu assinar.
Já sabia falar inglês quando se mudou para Inglaterra?
-Sabia o básico e era bastante reservado. Tive um professor durante seis meses, o que foi muito importante. Concentramo-nos na linguagem futebolística e do dia a dia.
“O Fulham foi o emblema que mais me marcou, por tudo aquilo que passei e por ter criado uma ligação com o clube e adeptos”
Depois de duas épocas no Arsenal, passa pelo Southampton e muda-se para o Fulham, que na altura estava no Championship. Foi o clube que mais o marcou?
-Foi onde tive mais influência, embora no Arsenal tenha ganho a Premier League, a Taça e a Supertaça. Mas o Fulham diz-me muito: pela subida de divisão, por tudo aquilo que passei e por ter criado uma ligação com o clube e os adeptos. Foi muito importante no meu crescimento como jogador e homem. Acreditaram em mim quando não contava para o Southampton.
Ainda passou pelo West Ham, mais um clube de Londres...
-Tive a sorte de viver na melhor cidade do mundo, Londres, e que teve grande impacto na minha carreira. Ao princípio, não acreditava que pudesse estar lá tanto tempo, mas ainda bem que assim foi.
É no West Ham que sofre uma lesão grave no joelho direito. Foi o momento mais dramático da carreira?
-Sim, foi muito difícil. Sofri essa lesão na pré-época na China e estive quase 10 meses sem jogar, só fiquei disponível para as três últimas jornadas. Felizmente, com a ajuda do Dr. António Martins e a sua equipa, a cirurgia correu bem. Depois, fiz fisioterapia com o António Gaspar, que foi muito paciente comigo durante a recuperação. Regressei no último jogo do campeonato, no qual empatámos com o Manchester City. E marquei nesse jogo.