Clayton foi decisivo na finalíssima de 2000 e Rodrigo Tiuí, saído do banco, fez dois golos em 2008. Quisemos saber o que ambos dizem sobre a final de hoje
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Da improbabilidade resulta frequentemente a surpresa, a estupefação, e até momentos memoráveis protagonizados por heróis improváveis como Clayton e Rodrigo Tiuí, figuras maiores de duas tardes de glória no mítico Jamor que ninguém esquece, até porque no final da época de estreia nos respetivos clubes vingaram a perda do campeonato para os rivais da Taça. Assim foi com Clayton na finalíssima entre Sporting e FC Porto, em 1999/2000, e com Rodrigo Tiuí, em 2007/08, em nova contenda entre as duas formações.
Chegaram como reforços de inverno e, no final dessas temporadas, foram determinantes para atenuar as perdas dos campeonatos para os rivais da Taça
Clayton, que representou os dragões entre 2000 e 2003, recorda-se bem do primeiro 25 de maio que passou de azul e branco. Chegado em dezembro ao clube, proveniente do Santa Clara, o canhoto foi-se afirmando a partir do banco, mas nessa final da Taça foi surpreendentemente titular e autor do primeiro de dois golos que levaram o troféu para Norte.
"A memória está bem fresca. O Schmeichel era o guarda-redes, tínhamos perdido contra o Sporting no campeonato e estávamos em dívida para com os adeptos. Estivemos quatro dias em estágio", recorda, entre a saudade proveniente das suas palavras: "Aquele dia foi o máximo para mim. Numa final ou se é rei, ou se é o bobo da corte. Foi um dia que ficou marcado não só na minha carreira, como na minha vida, ainda hoje conto histórias desse dia nos churrascos com os meus amigos. E o golo? Bom, o Esquerdinha bateu o livre, girei sobre o Duscher e rematei de forma intencional em cima da linha de fundo. Esse golo até tem uma história que me acompanha desde o Atlético Mineiro, onde joguei. Chamavam-me "Mirandinha" ou "Chuta Chuta", precisamente porque treinava aquele tipo de golos."
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A 18 de maio de 2008, o jogo estava "amarrado" e Paulo Bento procurou desequilibrar um prolongamento marcado pelo teimoso nulo. Rodrigo Tiuí, também ele reforço de janeiro tapado pelos craques Liedson - que estava indisponível para essa final - e Derlei, além de um útil Yannick Djaló, foi cartada letal, marcando os dois golos, o segundo de meia bicicleta.
"Foi um dos jogos mais importantes, senão o mais importante da minha carreira de jogador profissional. Não é qualquer jogador que consegue sair do banco de suplentes nos descontos e fazer dois golos, decidir o jogo. Ninguém estava à espera que entrasse no prolongamento e decidisse... mas estava cheio de vontade para entrar. Tanto torci quando estava no banco que acabei por entrar. Nem sei porque isso aconteceu. O Paulo Bento mudou o esquema à última da hora. Mas ficou provado que nem sempre os grandes jogadores é que decidem as grandes conquistas, como foi a Taça de Portugal desse ano. Não entrei com azia por jogar menos tempo, queria era jogar", sublinha, relatando a única solução que teve para arrumar com a final de forma acrobática: "Foi na sequência de um cruzamento de Yannick e a bola é desviada num defesa. Depois, fiz a única coisa que podia fazer. A bola sobrou, nos treinos já tinha feito golos assim, tal como no Brasil, ela subiu para as minhas costas e pronto, atirei. Consegui um grande golo!"
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Medalhas são troféus inestimáveis
As medalhas ganhas no Jamor são inestimáveis para Tiuí e Clayton, até porque no caso do antigo avançado leonino é a mãe Ilda que faz questão de mostrar o quão especial é a recordação de um dia de glória. "A minha mãe [Ilda] guarda a camisola e a medalha religiosamente na casa dela. Sempre que lá vou, e geralmente com visitas, ela coloca as duas coisas na sala para que as visitas vejam! É um orgulho para ela", afiança Tiuí.
Já Clayton até um vídeo de uma reportagem da época tem guardado. "Guardo tudo, camisola, medalha e um vídeo no balneário com o pessoal em cuecas", revelou a O JOGO.
Negócio à espera da reforma
Aos 33 anos, Tiuí é a estrela do Uberaba, mas o sogro já espera pela sua ajuda numa empresa de comercialização de bebidas alcoólicas. A cidade de Uberaba, na fronteira entre Minas Gerais e Goiás, tem sido palco dos derradeiros toques na bola de Tiuí que, aos 33 anos, já tem bem delineado o caminho a seguir para lá dos relvados. "Tenho jogado em equipas pequenas perto de Goiânia, onde moro, e já penso como um empresário, porque vou trabalhar com o meu sogro na área da comercialização de bebidas, como o whiskey", revelou.
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Com as botas prestes a serem arrumadas fica a mágoa de se ter limitado a um grande momento com o leão ao peito. "Eu era muito novo e imaturo. Claro que isso atrapalhou a minha afirmação. Mas o Sporting tinha grandes atacantes, como o Liedson ou Derlei, por isso era difícil jogar. No entanto, feitas as contas, posso dizer que fui feliz no Sporting, um clube enorme que me deu visibilidade na Europa", afiançou o avançado brasileiro.
O sonho de ver o filho no dragão
bbb Clayton (na foto) terminou a carreira em 2012 e, desde aí, investiu em fazendas e num negócio de madeiras. Contudo, o futebol ainda ocupa um espaço importante na sua vida. "Tenho um filho que é profissional no Vitória da Conquista. Vamos ver se ele vai mais longe que o pai. Quando tinha 12 anos dizia que gostava de jogar no Barcelona e eu respondia que se ele um dia conseguisse jogar no FC Porto já seria de dar graças a Deus", contou o antigo avançado de dragões e leões, revelando que chegou a ser reconhecido em Londres e Paris graças à passagem pelo FC Porto.
Dupla vai seguir o clássico desde o Brasil e até tem preferidos para decidir a final
Duas paixões que resistem à distância
Os cerca de 7000 quilómetros que separam Portugal do Brasil não são suficientes para esfriar as paixões de Clayton e Tiuí por FC Porto e Sporting, respetivamente. A O JOGO, a dupla prometeu acompanhar as incidências da final da Taça e deixou algumas previsões sobre o desfecho da mesma
"O Bruno Fernandes é um "baita" jogador. Pode decidir a final da Taça de Portugal como eu decidi, porque tem imensa qualidade", atirou Tiuí, enquanto Clayton, na ausência de Corona (que foi expulso no clássico da liga), recorre à mística para exaltar Felipe. "O Corona tem um estilo "moleque" e é o mais parecido comigo. Depois, há o Felipe, que usa a "minha" camisola 28. No entanto, Marega e Soares também fizeram uma boa temporada. E o Casillas, claro. Parece que os anos não passam por ele", frisou.
Tiuí aposta no "baita" Bruno Fernandes, enquanto Clayton aponta a "mística" da camisola 28 como um ponto a favor de Felipe
Garantindo que o azul e branco reina no seu coração (ver caixa), Clayton também lamentou a "fuga" do título para a Luz e a época aquém das expectativa dos leões. "Infelizmente, o FC Porto não foi campeão por uma questão de detalhes. Já o Sporting pode apagar um pouco o que tem sido uma época fraca com a Taça de Portugal, mas tem obrigação de fazer mais", disse. Imune ao jejum no campeonato, Tiuí não vê a hora de festejar a conquista do Jamor: "Sigo o Sporting nas redes sociais e vibro com os resultados. Para mim, o Sporting é o melhor de Portugal."
Em casa de Clayton só se veem jogos do FC Porto
Clayton representou os dois finalistas da presente edição da Taça de Portugal, mas não hesita em escolher o maior dos dois amores. "Vejo todos os jogos que posso do FC Porto. Passei por muitos clubes na minha carreira, mas foi o FC Porto que virou o clube do meu coração. Em dia de jogo, não se vê mais nada na minha casa", revelou Clayton, elogiando a identificação de Sérgio Conceição com o clube: "Gosto muito do Sérgio Conceição, porque é da linhagem de Vítor Baía, Jorge Costa, Paulinho, todos jogadores à Porto."
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