Villas-Boas aborda o FC Porto de Conceição e recorda lance: "Não sei se eu teria gostado..."
André Villas-Boas, treinador do Marselha, fala em exclusivo a O JOGO sobre o atual FC Porto, com palavras de elogio para Sérgio Conceição.
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"É preciso ser-se pragmático e continuar a ganhar, para depois virem as exibições com mais algum nível. Nessa altura defendi-me dessa forma e penso que terá acontecido o mesmo ao Sérgio"
Jogou duas vezes com o FC Porto esta temporada e sofreu duas derrotas. Qual é a principal qualidade da equipa de Sérgio Conceição?
-Penso que o melhor elogio que eu posso fazer à equipa técnica atual, aos jogadores do FC Porto, é sublinhar a atitude competitiva única e singular, que é a sua principal arma. É um detalhe que eu aprecio e que marca muito a equipa do Sérgio Conceição e pode ser precisamente o reflexo do que ele é enquanto líder e do que são os seus jogadores enquanto liderados por ele. Aliás, há um bom exemplo disso no jogo em Marselha: em inferioridade numérica e em vantagem no resultado, não sei se uma equipa minha tinha acelerado para apanhar a bola que saiu para lançá-la o mais rápido possível, e que na sequência disso ganhasse um penálti e uma expulsão de um jogador da equipa adversária. Não sei se eu, nessa altura, a ganhar 1-0, em campo adverso, com um a menos, teria gostado que o meu jogador tivesse acelerado para buscar a bola.
É uma equipa de autor?
-Sim, podemos dizer isso. Vincada por essa natureza e esse espírito competitivo.
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Sérgio Conceição vai com quatro vitórias consecutivas sobre o Benfica. O André viveu uma série parecida em 2010/11. Quando há esta tendência, até que ponto é que isso mexe com a cabeça dos jogadores?
-Bastante. E apesar de Jorge Jesus ser meu amigo, tendo em conta quem ele é, bastante. Porque há algo que marcou sempre as equipas do Benfica e do Jorge Jesus, que foi o seu nível de jogo. E todos reconhecemos que o atual não é o nível que Jesus nos habituou. E quando assim é, as coisas não estão bem. E penso que isso pode ser um ponto de vantagem para o FC Porto. Depois há um desafio em competição que é ser-se regular. Não vejo essa regularidade exibicional no Benfica, mas ela existe no Sporting, que neste momento se encontra bem e com uma chama e um nível exibicional bastante bom.
Quando o André era treinador do FC Porto, houve um momento em que disse aos adeptos que não podia haver ópera todos os jogos. Sérgio Conceição já usou uma expressão parecida: disse que quem queria espetáculo teria de ir ao Coliseu ou ao Sá da Bandeira. Como se gere a exigência dos adeptos portistas, esta luta entre estética e resultados?
-Há alturas em que é preciso ser realista. Falo do meu ano, que é mais fácil para mim. Tivemos uma altura, em fevereiro, de muitos maus jogos do ponto de vista exibicional. E momentos decisivos. Contra o V. Setúbal em casa, por exemplo, em que há um penálti que é marcado mas obrigado a ser repetido e é falhado. E depois algumas vitórias justas em casa. Fevereiro foi o mês difícil porque perdemos o Álvaro Pereira e o Falcao, mudámos o Hulk para ponta de lança, demos a oportunidade ao James de ser titular, também ganhámos um pouco com isso, mas a nível exibicional, estávamos no limite. É preciso ser-se pragmático e continuar a ganhar, para depois virem as exibições com mais algum nível. Nessa altura defendi-me dessa forma e penso que terá acontecido o mesmo ao Sérgio.
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Preparação exaustiva no reencontro
Como viveu os dois jogos com o FC Porto?
-Foi muito duro. Por causa da minha relação com o FC Porto, nunca preparei jogos como preparei estes dois, principalmente o segundo, que ditava a nossa eliminação da competição. Mas foi uma preparação até à exaustão. Ambos os jogos da liga francesa foram anulados antes de jogarmos com o FC Porto e talvez tivesse ajudado que isso não tivesse acontecido. Na altura parecia-me uma benesse, mas a realidade é que eles poderiam ter ajudado a tomar melhores decisões. Ganhei mais três dias de preparação para esse jogo e continuei de forma intensa um trabalho que do meu ponto de vista já era exaustivo. Nenhuma das duas funcionou. Eu, como responsável máximo, sinto-me culpado. Acabámos por cometer muitos erros, não tem nada a ver com o 4-4-2 losango com que jogámos no Dragão, nem nada a ver com o sistema que escolhemos para a segunda mão: tem a ver com uma equipa que não está talhada para corresponder aos detalhes que são decisivos nos desafios da Liga dos Campeões, não tem experiência na competição. Nós tivemos o Mandanda e o Payet com alguma experiência de Liga dos Campeões. O resto não, todos estavam a jogar pela primeira vez e pagámos um preço forte por isso. Cometemos muitos erros no encontro do Dragão, entre uma grande penalidade falhada e o penálti que acabámos por doar ao FC Porto.
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