Vencer o Benfica deixou de ser uma tarefa impossível, à custa de muito suor. Carlos Garcia, Zé Nuno Azevedo e Miguel Pedro recordam jogos marcantes.
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Há muito tempo que a Pedreira se tornou uma espécie de meta volante do campeonato, um género de exame prévio para quem quer cruzar a linha de chegada na frente do pelotão. As deslocações dos três clubes mais poderosos a Braga passaram a ter rótulos de jogos grandes, um sinal inequívoco de crescimento dos minhotos, mas nem sempre os desafios foram tão divididos como agora.
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E ainda que amanhã o Benfica chegue a Braga com um registo de cinco triunfos nas últimas cinco visitas, também é verdade que a equipa minhota venceu os últimos três confrontos (dois na Luz e um em Leiria). A distância entre os clubes encurtou na era de António Salvador, o presidente que festejou dez vitórias e está a uma vitória de igualar, em 18 anos, o registo de todas as épocas que o precederam. O caminho não foi fácil: houve que conquistar os próprios adeptos e as poderosas equipas do Benfica, mas os operários de quase duas décadas de ambição obstinada, dentro e fora do relvado, assistem agora a uma nova era em que o mapa dos jogos grandes inclui a Pedreira: é o caso de Alan, hoje na estrutura da SAD, foi quem mais vezes esteve em campo contra o Benfica; dois golos é o máximo que jogadores do Braga colecionaram diante do adversário de amanhã e nenhum estará em campo - Francisco Moura lesionou-se; Hugo Viana e Maxi Bevacqua já nem andam pelos relvados -, mas o jogo cresceu e, de casa minhota do Benfica, a cidade de Braga passou a guardiã de memórias de grandes desafios e promessas de mais. A meia-final da Liga Europa, ganha com um golo de Custódio, selou a viragem, mas as emoções não se esgotam aí.
O JOGO ouviu três adeptos braguistas e recebeu três respostas diferentes sobre qual o jogo mais marcante com o Benfica que presenciaram. Carlos Garcia, histórico ex-jogador do Braga e que também desempenhou funções de treinador e de adjunto, elegeu a meia-final da Taça de Portugal, em 1981/82. "Naquele tempo, o Benfica monopolizava e tinha equipas fenomenais, mas no Estádio 1º de Maio o Braga transcendeu-se, fez um jogo fantástico e venceu por 2-1, conseguindo o acesso ao Jamor para uma final que ficou conhecida pelo facto de o Quinito ter aparecido de smoking branco. Aquela meia-final marcou-me, via-a na bancada como adepto e no ano seguinte fui adjunto do Quinito", contou Carlos Garcia, atribuindo boa parte do mérito ao treinador. "Normalmente, as palestras são saturantes, mas com o Quinito os jogadores queriam que elas durassem duas horas. Ele mexia com a mente dos jogadores e era visto como um irmão mais velho", juntou. Convém dizer que, naquela tarde de abril, em 1982, Armando Fontes bisou para o Braga e o Benfica, orientado por Lajos Baróti, tinha jogadores como Bento, Humberto Coelho, Shéu, Carlos Manuel, João Alves, Chalana ou Nené.
Três vitórias do Braga nos últimos três jogos com o Benfica provam que a distância entre as equipas está mais curta. Ainda assim, os encarnados ganharam 65 por cento dos jogos com os minhotos
Zé Nuno Azevedo, também ex-jogador da equipa bracarense, avançou no tempo e parou numa outra meia-final da Taça de Portugal com o Benfica, mas na época 1997/98. "Era dia de Carnaval, o 1º de Maio estava à pinha e a tarde tornou-se verdadeiramente inesquecível. Ganhámos por 2-1, com bis de Karoglan, e fomos ao Jamor; foi a única final em que estive. Pela envolvência, pela lotação e pela importância do jogo, para mim esse foi o mais marcante com o Benfica", descreveu o antigo defesa.
O músico e advogado Miguel Pedro, adepto dos arsenalistas e cronista d"O JOGO, nem pestanejou na resposta. "Essa é fácil. Para mim, o jogo mais marcante com o Benfica foi o da meia-final da Liga Europa, em 2011. Deu-nos uma final europeia e festejámos como se a tivéssemos ganho. Quando o Custódio marcou houve uma verdadeira explosão dos adeptos. Havia o mito que a cidade era do Benfica, mas esse jogo provou o contrário".