Os tempos de glória são uma saudade, mas a paixão dos adeptos nunca esmoreceu perante a adversidade
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Quis o destino que, em 1915, um grupo de estudantes poveiros fundasse o Varzim no dia de Natal. Alípio de Oliveira, um dos fundadores, proferiu, anos mais tarde, uma frase que perdura até hoje: “Um dia os rapazes do Varzim hão-de ver coroados de bom êxito os seus esforços e então poderemos exclamar com orgulho aos indiferentes: eis a nossa obra!”. Esse reconhecimento chegou apenas no início da década de 60, quando o Varzim subiu em dois anos da 3.ª à 1.ª Divisão. Entre 1963 e 1988, os poveiros estiveram 18 vezes no escalão principal, mas, depois disso, jogaram apenas mais três vezes ao mais alto nível, entre 1997 e 2003, somando um total de 21 participações na I Liga.
Atualmente na Liga 3 e tendo na presidência o antigo guarda-redes Ricardo Nunes, o Varzim tenta reerguer-se de mais uma crise financeira, mudando o paradigma para apostar na juventude e recuperar a formação que deu nomes importantes ao futebol português, como Lima Pereira, António André, Bruno Alves, Hélder Postiga, Luís Neto, entre tantos outros. Aliás, em 2016, o Varzim teve quatro jogadores da formação em simultâneo numa convocatória da Seleção Nacional, casos de Marafona, André André, Bruno Alves e Luís Neto. Para a história ficou ainda uma vitória épica sobre o Benfica, por 2-1, nos oitavos de final da Taça de Portugal, em 2007, uma vez que os alvinegros acabaram o encontro com dez jogadores formados no clube.
O Varzim foi inovador, por exemplo, no aquecimento dentro de campo antes do jogos, quando Joaquim Meirim era treinador, na década de 60, assim como foi igualmente o primeiro clube profissional em Portugal a ter publicidade nas camisolas, durante os anos 80. Marcantes foram também duas longas digressões ao estrangeiro, contando que em 1966 o Varzim foi para Angola e demorou 56 dias até regressar a casa, enquanto uma viagem entre Estados Unidos da América e Canadá, em 1970, durou 40 dias. O Varzim era um clube na moda e, pasme-se, tinha até um cobrador de quotas em Luanda para os sócios que moravam em Angola.
Adeptos juntos para a tradição
Como manda a tradição, os sócios do Varzim vão juntar-se hoje no estádio para hastear a bandeira do clube, pelas 10 horas, seguindo-se a romagem ao cemitério da cidade para homenagear os sócios fundadores. Os antigos jogadores Quim Rosa e Artur Ferreira, que faleceram em 2024, serão também lembrados pelo emblema poveiro. Tratam-se de dois filhos da terra que foram marcantes na história do Varzim durante as décadas de 60 e 70. Quim Rosa nunca vestiu outra camisola e Artur Ferreira foi jogador alvinegro durante nove épocas.