"Sporting e Atalanta? Podes soar muito bem em estúdio, mas ao vivo não se sabe..."
"Let there be Rock!", músico da banda fute-rock 47 de Fevereiro dividido entre dois amores. Receção do Sporting à Atalanta entusiasma Francisco 'el Killo' Beirão, baterista repleto de amizades em Bérgamo explica paixão pela Dea na cidade. Sportinguista antevê espetáculo de ponta pela dimensão dos dois técnicos
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Sporting e Atalanta já se conhecem de se enfrentaram na UEFA.... dando-se um reencontro nesta Liga Europa. Confrontos especiais para adeptos conhecedores dessa história mas também para Francisco 'El Killo' Beirão, baterista da banda 47 de Fevereiro, que homenageia o léxico futeboleiro em imensos títulos do seu repertório. O aveirense é apaixonado pelo Sporting mas as amizades em Bérgamo fizeram-no um entusiasta da Atalanta, mesmo que num plano secundário ao seu amor pelo Torino.
"Imediatamente após o sorteio, recebi mensagens de amigos dos dois lados. A Atalanta tem sido presença assídua na Europa, já podia ter jogado antes com clubes portugueses e, agora, calha ao meu Sporting. Vai ser bonito!", evidencia, historiando a cumplicidade.
"A minha admiração pela Atalanta remonta a 2006, quando começo a ir várias vezes a Bérgamo. Antes está sempre o Torino, curiosamente são tifoserias muito rivais em Itália. Há respeito e ódio! Mas falando da 'Dea', tenho amizades em Bérgamo que resultam de concertos, aulas e workshops. É uma cidade muito bonita, onde há uma incrível ligação ao clube. Sempre me fascinou o Calcio, equipas da província com bancadas cheias, muitas bandeiras e cânticos poderosos. Os adeptos dos grandes ficam confinados a um setor pequeno. O meu Beira-Mar, sendo de Aveiro, não tem um terço da força popular da Atalanta", documenta o baterista, sem memória do percalço dos leões contra uma equipa da 2.ª Divisão em 1988.
"Honestamente não me recordo! Só me lembro dos desastres com Grasshoppers, Casino Salzburgo, Rapid Viena, Viking, Skenderbeu ou Linz. Nasci em 1981 pelo que devia andar mais entretido com carros ou trabalhos de casa. E talvez já ouvisse Doors e Beatles", brinca. "Lembro-me, isso sim, de uma das vezes que fui a Bérgamo, um amigo da velha guarda das Brigate Nereazzurre (grupo histórico da Atalanta 70-90's) me mostrar uma fanzine com a história desse jogo e a festa dos que vieram a Lisboa e dos que ficaram em Itália pela eliminação de uma equipa forte como o Sporting...", reporta, emprestando um mandamento roqueiro ao tema.
"Let there be Rock! Aposto em dois jogos muito bons, os treinadores são excelentes com uma ideia de jogo semelhante. Let there be Rock, digo-o com AC/DC de fundo. Em teoria, são os mais fortes do grupo. Mas é como na música, podes soar muito bem em estúdio, mas ao vivo, com a pressão das tifoseria, não se sabe!", ironiza Francisco Beirão, deliciado com o rasto de perdição pela Dea.
"Há dinheiro mas também uma cidade a apoiar"
"Se andares por Bérgamo há alusões em todo o lado à Atalanta. São coisas escritas nas paredes, bandeiras, pessoas com camisolas, gorros e bonés, cachecóis nos cafés. Crianças que brincam na rua. Há autocolantes dos Ultra em todo o lado. E falamos de uma equipa que andou anos na Serie B e só conquistou uma Taça. Posso dizer que, até hoje, só conheci um adepto do Inter em Bérgamo e já lidei com várias pessoas na cidade. Há dinheiro mas também uma cidade, por detrás, a apoiá-la."
"A Curva Bergamasca deve vir em bom número, apesar de alguns amigos se queixarem que está muito caro. Mas é um clube que costuma arrastar bom apoio, ficou célebre a viagem a Goodison Park para o jogo com o Everton. Espero que corra tudo bem, que bebam umas birras tranquilamente."
"O que nos fizeram foi um ultraje e vai refletir-se e música furiosa", diz baterista sobre o fecho do Stop
Francisco 'el Killo' fala da incerteza quanto ao futuro por um abalo profundo no tecido criativo do Porto. A sofrer as contingências do fecho repentino do Stop, contrariedade aflitiva para muitos músicos no Porto, os 47 de Fevereiro enfrentam período de algumas interrogações.
"Estamos a acabar a tour de apresentação do nosso álbum 'Processo Coletivo", que também passou por Bérgamo. Este seria o momento de começar a trabalhar num novo disco mas ficamos sem sítio para trabalhar por causa do fecho compulsivo do Stop. Muitos deixaram de ter local para trabalhar, estudar, dar e ter aulas, gravar, tanta coisa. Estamos a passar por um momento estranho e doloroso, toda a comunidade foi tratada de forma indigna, quase como criminosos", lamenta, acentuando as inquietações. "O desfecho de tudo, além de incerto e nebuloso, não aparenta ser nada favorável para quem precisa daquele espaço. E não são só músicos", avisa.
"É algo que abalou profundamente muita gente, tanto material como emocionalmente. Há mais de 20 anos que frequento aquele espaço, estão ali incontáveis horas de trabalho, de criação e grandes amizades. E muito dinheiro investido em sucessivos melhoramentos das salas, muitas transformadas em estúdios profissionais. O que nos fizeram foi um ultraje, vai refletir-se em música mais ou menos furiosa".