Pedro Proença: "A Liga vivia um regime presidencialista, passámos a um regime parlamentar"
ENTREVISTA, PARTE I - Pedro Proença passa em análise, O JOGO, o primeiro mandato e projeta o segundo, com a convicção de que o órgão que rege o futebol profissional em Portugal está no bom caminho.
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Em entrevista a O JOGO, Pedro Proença passa em análise o primeiro mandato e projeta o segundo, com a convicção de que o órgão que rege o futebol profissional em Portugal está no bom caminho.
Foi recentemente eleito para um segundo mandato com a quase totalidade dos votos. Sinal de confiança total ou de que ninguém se quis "chegar à frente"?
-Acho que tem de haver uma leitura responsável daquilo que foi o passado e perspetivar o futuro próximo. Vamos recuar um bocadinho para ver o que foi o nosso processo de candidatura de 2015. E eu tenho sempre por norma relembrar o passado que encontrámos, o que herdámos, e o esforço que fomos obrigados a fazer, a Liga e os clubes, para chegar a 2019. A Liga estava numa posição de insustentabilidade económica e financeira. Nos dados do passivo, tínhamos um registo contabilístico deficitário de mais de cinco milhões de euros e em termos de tesouraria a rotura era de cerca de oito milhões, com dívidas a fornecedores, à banca, credores e Segurança Social.
Os clubes tiveram conhecimento desse quadro?
-Nessa altura, a radiografia foi transmitida aos clubes, que tiveram a perceção de que esse processo de recuperação e criação de sustentabilidade tinha de acontecer inevitavelmente. Nestes quatro anos fomos obrigados a um esforço grande, a uma recuperação económica e financeira, mas sempre pugnando para que a Liga cumprisse a sua missão, dinamizando todo o futebol profissional. E acho que esses dois desideratos foram conseguidos.
Mudou também o modelo de governação...
-A Liga vivia um regime presidencialista, passámos a um regime parlamentar, a própria Direção passou a ter oito clubes nas suas decisões estratégicas, clubes esses que rodavam todos os anos, e, neste modelo de governação, havia que fazer face a estes desafios, o que foi feito com mérito. Relembro que 23 clubes passaram pela Direção, mais de 70 por cento assumiram papel na Direção, e, para além da recuperação económico-financeira, restabelecemos o quadro competitivo. Recordo que tínhamos 24 equipas na II Liga, agora temos 18, e uma redução tão drástica é demonstrativa da perceção e do esforço para restabelecer a normalidade. E isso foi feito com sucesso. Os números que temos das três competições são elucidativos. Três competições que são agora unidades de negócio, numa linguagem empresarial, com mudança de paradigma, que entrou também no léxico dos clubes. Estamos a tratar de uma indústria, que é o futebol, depois de termos tapado o "buraco" económico. Ainda existem processos em litigância, densos, mas a verdade é que respiramos hoje um ar diferente. Fazemos coisas a outros níveis, e aqui é justo endereçar uma palavra aos clubes, que deram confiança ao presidente e à Direção executiva para este plano estratégico.
Estão então reunidas todas as condições para melhorar, diga-se assim, esse modelo de governação?
- Há condições agora para trazer à mesa este novo modelo de governação. Houve sentido de responsabilidade dos clubes e agora é o momento de se refletir e tentar que a Liga se possa aproximar do que acontece nas grandes empresas, com centralização de alguns poderes na sua Direção executiva, mas trazendo os presidentes à discussão, naquilo que é a cimeira dos presidentes, um palco fundamental para que todos possam ter uma palavra sobre o presente e o futuro da Liga Portugal. Atingimos um processo de maturidade que nos permite pensar assim.
Pluralidade sugere "um processo mais inclusivo"
O novo modelo de governação implica mais autonomia para a Direção executiva da Liga, e, ao mesmo tempo, a instauração de um "processo mais inclusivo", que pode passar por uma Direção sem a presença dos três grandes. "Voltando a 2015", conta Pedro Proença, "a vontade de trazer os denominados três grandes passou pela necessidade de termos as marcas mais fortes na discussão e responsabilização". Hoje, atendendo a que existe outra estabilidade e maior maturidade, "esta pluralidade e possibilidade de todos poderem participar, depositando na Direção executiva a gestão do dia a dia, acho que sim, que podemos avançar para trazer de novo à discussão um processo mais inclusivo".
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