ENTREVISTA, PARTE II - Pedro Proença passa em análise, O JOGO, o primeiro mandato e projeta o segundo, com a convicção de que o órgão que rege o futebol profissional em Portugal está no bom caminho.
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À boleia das novas "formas de comunicar", o presidente fala das alterações que a Liga quer fazer em taxação de impostos e acidentes de trabalho.
A "guerra" entre Benfica e FC Porto continua a arrastar-se, "turvando" a imagem do futebol português. O que se pode e deve fazer?
Durante estes quatro anos tudo temos feito para credibilizar a indústria do futebol e assim vamos continuar. Herdámos um modelo de governação onde nem a figura da cimeira de presidentes existia. A única coisa que deve separar os clubes do futebol profissional são os 90 minutos de jogo. Se assim for, teremos melhores espetáculos e todos ficam a ganhar. Há um conjunto de dossiês em cima da mesa, através dos quais a Liga quer fazer alterações, por exemplo em termos de taxação de impostos, dos acidentes de trabalho e dos quadros competitivos. Um conjunto de matérias onde os clubes têm de estar unidos e dialogar entre quatro paredes. Ultimamente emergiram algumas realidades na forma de comunicar de alguns clubes, e acho que temos de trazer de novo à discussão os verdadeiros intérpretes, os líderes, apostando nos discursos ponderados.
A Liga é a favor ou contra a propalada Superliga Europeia?
Já tomámos posicionamento. Não somos contra novas competições que possam criar mais valor em termos desportivos e de receitas, mas não se pode fazê-lo à custa das ligas nacionais. Deve existir um espaço para compatibilizar realidades nacionais e calendários internacionais. Quem não entender que é no plano nacional que jorra a fonte das seleções... nunca teremos grandes competições internacionais. Importa que haja equilíbrio nos calendários, na forma e na distribuição de receitas. Não vamos criar uma pequena elite que fique com aquilo que é para o fomento do futebol.
"A única coisa que deve separar os clubes do futebol profissional são os 90 minutos de jogo"
Mercado televisivo atingiu 170 milhões de euros de receita
A centralização dos direitos televisivos, uma bandeira da anterior gestão, não foi totalmente conseguida. Agora há mais condições?
Como em todos os negócios e mudanças de abordagem há momentos para se fazer as coisas. Em 2015 e 2016, com a concorrência forte no audiovisual, havia essa possibilidade, mas na altura a Liga tinha tantos problemas que não teve hipóteses de criar um modelo suscetível de criar mais riqueza e melhor distribuição. Mesmo assim, passámos de um mercado que atingia os 80 milhões de receita para algo que se pensava impensável, na ordem dos 170 milhões de euros para os clubes das competições profissionais. O momento é de ponderação, a Liga respeita todos os acordos firmados, mas há espaço e tempo para refletir e criar condições para um novo ciclo nos direitos televisivos.
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E há alguma ideia mais concreta?
Se tivermos como meta a finalização e a caducidade dos próprios contratos, podemos encontrar um bom momento para a discussão. O grande objetivo é rentabilizar receitas e ter uma melhor distribuição das mesmas, sendo a própria Liga a monitorizar a produção de conteúdos, defendendo a integridade das competições. As boas práticas internacionais apontam o caminho. E serem apenas três os países na Europa evoluída onde os direitos não são centralizados, deve fazer pensar.
A Taça da Liga...
É uma vitória fundamental, sobretudo dos clubes. Em 2015 nem data havia para a final. Agora há um glamour diferente. A recente Liga das Nações, também no sistema de final-four, agradou a todos. No nosso caso, foi arrojado, mas marcámos uma nova era. E o título de campeão de inverno faz todo o sentido.
"E serem apenas três os países na Europa evoluída onde os direitos não são centralizados, deve fazer pensar"
A falta de apoio do FC Porto
O que sentirá Pedro Proença por não ter o apoio, pelo menos declarado, do FC Porto, que, por sinal, até o apoiou em 2015? A resposta é politicamente correta. "Acho que os processos eleitorais são conjunturais. Este é um percurso de quatro anos passados e quatro anos futuros. É um processo de envolvimento. Pela primeira vez, alguém foi reeleito com 96 por cento dos votos. Quero fazer deste projeto um processo de inclusão e conto com todos."