PARTE II - Em entrevista a O JOGO, Zequinha recordou a experiência no FC Porto, onde era visto como uma grande promessa, o famoso episódio no Portugal-Chile, do Mundial de Sub-20, em que tirou o cartão vermelho da mão do árbitro e ainda as passagens pela Grécia e pela Índia.
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Teve passagens pela Grécia e pela Índia. Como descreve esses anos? O estrangeiro ainda é uma hipótese ou agora só joga em Portugal?
Evoluí a todos os níveis. Na Grécia foi fantástico, mas depois também passei por uma situação no Larissa em que deixaram de pagar. Foi um bocado complicado, mas serviu para o meu crescimento. Depois voltei a Portugal pela mão do mister José Couceiro, com quem tenho uma relação muito boa, ajudou-me muito. Na Índia também adorei, as pessoas são humildes e o campeonato não é nada como as pessoas pensam. É uma cobertura inglesa, com 30 ou 40 mil pessoas nos estádios, relvados de muita qualidade. E só jogam seis estrangeiros por equipa, não é assim tão fácil como pensam. Ao estrangeiro não posso fechar portas nunca. As pessoas têm uma noção errada, pensam que todos os jogadores de futebol têm muito dinheiro e são ricos. Infelizmente, em Portugal, apesar da qualidade que temos, não se paga como noutros países. Terminas a carreira e, se não tiveres conseguido juntar muito, aguentas dois ou três anos e depois tens de fazer alguma coisa. Depois é muito difícil. Portanto, estou sempre aberto a novas experiências.
Não ter ficado no FC Porto foi uma grande desilusão?
Foi uma grande desilusão para mim e para o FC Porto, por tudo o que tinha investido em mim. As pessoas gostavam de mim e eu facilitei. A culpa foi sempre minha, de tudo o que fiz. Não consegui conciliar o dinheiro que ganhava com a profissão e a vida extra que fazia não era o mais indicado. Paguei esses erros. Não sou pessoa de me arrepender, mas poderia ter oportunidades. Respeito muito e mantenho contacto com muita gente no FC Porto, trataram-me sempre bem.
E que carreira poderia ter tido se as coisas tivessem corrido melhor no FC Porto?
Se fosse uma pessoa com mais cabeça, mais tranquilo, se ficasse em casa e não saísse tanto à noite... a qualidade por si só, não chega e eu sou a prova viva disso. Tenho a certeza que seria diferente.
O episódio no Mundial Sub-20, em 2007, marca a sua carreira. Isso prejudicou-o?
Quando acontece esse episódio, eu já tinha contrato válido por cinco épocas com o Sevilha. Antes do jogo, o meu empresário ligou-me a dizer que estava tudo acertado entre o FC Porto e o Sevilha e que tinha o contrato para assinar. Depois aconteceu aquilo - foi um ato irrefletido, só queria tentar defender o meu colega - e acabei por ficar sem o contrato. Mas, mais uma vez, o FC Porto acolheu-me e renovou-me o contrato por mais três anos. Era sinal de que confiavam muito em mim. O chefinho [Reinaldo Teles] é uma pessoa que levo para a vida. Sempre me ajudou, deu muitos conselhos. Dizia que eu tinha de ser o número 9 do FC Porto. Mas depois dessa renovação por mais três anos, eu continuei na mesma vida. A qualidade só não chega. Agora são experiências e eu digo aos mais novos para não cometerem os meus erros que eu. Isso prejudicou-me um pouco, é óbvio. Passaram 13 anos e ainda se fala disso. Essa fama de bad boy, como dizem. Eu sempre fui brincalhão, amigo do meu amigo, um coração enorme. Às vezes tenho um temperamento um pouco mais forte. Não gosto de perder nem por nada, mas isso não quer dizer que seja um bad boy. As pessoas puseram-me esse rótulo e vão passar 20, 30 anos e eu ainda vou ser o Zequinha do cartão vermelho.
E em contrapartida, qual foi o melhor momento da sua vida desportiva?
Tudo o que fiz tenho de agradecer. Tive colegas com a mesma ou mais qualidade do que eu e não conseguiram fazer nem um terço do que eu fiz. 180 jogos na I Liga, muitas emoções, muitas vivências incríveis. Só tenho a agradecer por tudo o que o futebol me proporcionou. Escolher um momento... é difícil. se calhar o meu jogo de estreia na I Liga, pelo Olhanense; depois as minhas voltas ao Vitória; ir à Liga Europa com o Arouca. Todos os jogos que fiz pelo Vitória na I Liga são especiais.
Antes tinha o foco de ganhar um troféu com o Vitória, agora é tentar subir à primeira divisão. Bem ou mal, sem receber, temos suportado tudo pelo grupo. O mister Alexandre Santana é uma das melhores pessoas que conheci no futebol e tenho de agradecer muito a ele e à nossa presidente da Câmara que não nos tem deixado cair.
Veja a primeira parte da entrevista a Zequinha:
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