O que dizem ilustres adeptos do FC Porto: Sérgio tem condições, mas falta explicação
Palavras do treinador dividem adeptos, mas todos querem saber a quem se refere quando fala de falta de união. Decisão do presidente é correta, pensam
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As declarações de Sérgio Conceição tiveram um impacto muito forte juntos dos adeptos do FC Porto.
A maioria continua ao lado do treinador e entendem que este tem condições para continuar a líder a equipa.
Ou seja, que Pinto da Costa tomou a decisão correta e mais ajustada à estabilidade que a equipa necessita. Nas redes sociais, várias páginas portistas elaboraram sondagens a propósito da permanência do treinador. Uma maioria confortável votou a favor, tal como os adeptos mais conhecidos que O JOGO inquiriu. Nas conversas que, ao lado, reproduzimos, fomos ainda mais longe e quisemos também perceber que interpretação estes fizeram sobre as declarações do treinador e quem consideram ter sido os principais visados na acusação de falta de união. A verdade é que, 24 horas depois, a maioria continua sem saber a quem Sérgio Conceição se refere. E exige explicações imediatas do treinador ou do presidente portista. E isto, também, porque os adeptos não acreditam serem eles a razão de um clube menos unido. "Se não se dirige à equipa, aos dirigentes também não acredito, porque seria muito grave, imagino que seja aos adeptos. Mas isso seria uma enorme injustiça, porque estes têm dado muito apoio, estão e estarão incondicionalmente ao lado da equipa. Nenhum treinador pode ser consensual, mas a Sérgio nunca faltou apoio", vincou Miguel Guedes, perplexo e "desiludido" com o discurso de Conceição. "Não pode falar disso numa flash-interview. Senti mais união nas expressões desiludidas dos jogadores do que nas palavras do meu treinador", resume.
Manuel Serrão acha que "ele ou alguém tem de explicar". "Se é para ficar tudo na mesma, expliquem-me em que medida esta falta de união fez com que perdêssemos a Taça da Liga e duas vezes com o Braga no espaço de uma semana. Não estou a ver que haja falta de união com os adeptos, portanto deve estar na administração, mas não consigo saber. Estou à espera de uma explicação. Se isso acontecer e eu perceber, aceito bem que continue", reforçou.
Manuel Pizarro foi mais comedido: "Foi uma reação normal de um treinador apaixonado pelo FC Porto e perturbado pelo momento. Mas não esqueço que é um portista ferrenho nem o extraordinário título de 2017/18".
Cândido Costa, ex-jogador do clube, vê "condições para Sérgio continuar", mas importa que alguém esclareça o que se passou. "Não sei se está a referir-se aos adeptos, às claques, a uma situação particular no balneário entre dois jogadores, não sei se está a referir-se à estrutura. É tudo um mar de dúvidas que devem ser esclarecidas para não andarmos nesta conversa diária que é nefasta para a instituição", justifica.
Carlos Tê acredita que "a decisão do presidente foi a mais correta", embora ele tivesse tomado uma diferente. O discurso é interpretado como uma resposta à incapacidade: "A equipa joga mal e ele não sabe o que fazer..." Por fim, José Guilherme Aguiar, que acredita que "se calhar Sérgio tem razão, porque o que disse é o que foi vendo ao longo dos tempos", mas espera que tudo se resolva a bem e nem acreditaria noutro cenário. "Ainda há pouco tempo o presidente o comparou a Pedroto", lembrou.
Miguel Guedes, músico e jurista
"Estavam no frigorífico..."
"Ouvi com perplexidade e alguma desilusão. Um treinador do FC Porto não pode, numa flash, falar em falta de união. Fez o contrário do que tantas vezes pediu, que as coisas se resolvam internamente, em família. Pareceram-me declarações a quente, mas vindas do frigorífico. Se não se dirige à equipa técnica nem aos dirigentes - seria muito grave porque também seria ao presidente - imagino que esteja a falar dos adeptos, o que seria uma enorme injustiça. Era o que faltava que atirasse a toalha ao chão e o FC Porto deixasse. O clube é muito maior do que algumas atitudes de alguns treinadores, dirigentes, funcionários. O momento exige responsabilidade e essa união, nunca divisão. Senti mais união nas caras e expressões dos jogadores no campo do que no meu treinador".
Carlos Tê, letrista
"Não tem condições para continuar"
"As declarações são uma manifestação de impotência, porque a equipa joga mal e o Sérgio não sabe o que há de fazer. Umas vezes diz que é ele o responsável, agora decidiu alargar o âmbito da responsabilidade e atribuiu à falta de união interna, algo que se fala há muito tempo. Diz-se que o ambiente não será bom, mas isso é o que se fala e eu não tenho conhecimento disso. A única coisa que tenho conhecimento é que a equipa joga mal e que perdeu duas vezes com o Braga. Portanto, na minha opinião, o treinador não tem condições para continuar. Mas aceito a posição do presidente em tentar mantê-lo e evitar uma rutura até encontrar uma outra situação. Depois do que foi dito, a tendência seria operar uma mudança qualquer, mas a posição do presidente foi a mais correta".
Cãndido Costa, ex-jogador
"É tudo um mar de dúvidas"
"Inicialmente levei as declarações à letra e comecei a questionar: há desunião, mas onde, protagonizada por quem, quem é que não está a tornar o FC Porto mais vencedor? Naquele momento interpretei dessa forma, mas passadas umas horas, somei outras coisas à equação, uma delas o feitio do Sérgio, porque ele tem o coração perto da boca... Não sei se está a referir-se aos adeptos, às claques, a uma situação particular no balneário entre jogadores, não sei se está a referir-se à estrutura. É tudo um mar de dúvidas que devem ser esclarecidas pelo treinador ou pelo presidente para não andarmos nesta conversa diária que é nefasta para a instituição. O Sérgio tem condições para continuar, mas não é assim tão linear, porque ele disse que é difícil trabalhar em determinadas condições".
Manuel Pizarro, médico e político
"Perturbado pelo momento"
"Percebo que depois da sucessiva insatisfação dos adeptos, ele próprio [Sérgio Conceição] queira manifestar a sua insatisfação com o momento atual da equipa. A interpretação que faço do discurso de Sérgio Conceição é simples: parece-me a reação normal de um treinador apaixonado pelo FC Porto e que está, também, perturbado pelo momento atual. Eu, depois de ver o FC Porto perder, nem tenho tempo de ficar perplexo com o que ele disse. Em relação à continuidade, às críticas... justo ou injusto, a vida de treinador é semelhante à de um político, depende do sucesso. Aconteça o que acontecer no futuro, nunca esquecerei que o Sérgio Conceição é portista ferrenho e não esqueço a extraordinária vitória no campeonato há duas épocas debaixo da sua liderança".
José Guilherme Aguiar, advogado
"Se calhar, Sérgio tem razão..."
"Parece-me que o Sérgio Conceição disse aquilo que lhe ia na alma e que resulta daquilo que foi vendo ao longo dos tempos. Ao dizer que o problema do FC Porto é a falta de união, se calhar o treinador tem razão. Em relação à decisão do presidente e de ter ou não condições para se manter, apesar do que ele disse no final do jogo, acho que o Sérgio tem condições para continuar como treinador do FC Porto. Aliás, no final da Taça da Liga, ao saírem todos juntos de Braga, foi no sentido de apoiar o Sérgio Conceição e manifestar a confiança na continuidade no FC Porto. Foi a atitude mais inteligente. É até preciso não esquecer que ainda há pouco tempo o presidente comparou o Sérgio Conceição ao José Maria Pedroto. Portanto, agora não era de esperar que prescindisse dos seus serviços".
Manuel Serrão, empresário
"Se ficar, têm de explicar"
"Não consigo interpretar. Estou à espera é que o treinador ou o presidente, se é para ficar tudo na mesma, expliquem onde está a falta de união e porque é que isso fez com que perdêssemos a Taça da Liga e duas vezes com o Braga. Ele deu a entender que a falta de união não era no grupo de trabalho. Se não está na equipa técnica nem nos jogadores, porque nos adeptos não estou a ver, deve estar na administração, na estrutura... Se Sérgio ficar no FC Porto, alguém tem de explicar aos sócios o que é isto. Se for explicado e eu perceber, aceito tudo e mais alguma coisa. Só não aceito o que não percebo. Falei com vários adeptos e ninguém consegue explicar que falta de união é essa. Ele pôs lugar a disposição. O presidente quer que fique, deve uma explicação, não pode encolhe os ombros".