O meu 25 de Abril | "Quando um jogador acabava contrato com o seu clube não tinha liberdade para sair"
50 anos do 25 de Abril >> Augusto Inácio, ex-jogador e treinador do Sporting, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Estava no centro de estágio do Sporting, que ficava por baixo das bancadas do Estádio José Alvalade. Não estava em estágio, é verdade, mas estava com dois/três colegas a jogar às cartas e não demos pelos primeiros sinais da revolução. Depois, quando fui para casa, ouvi na rádio que estava a haver uma revolução. Fiquei estupefacto porque cresci dentro de uma ditadura. Eu tinha muito medo da possibilidade de ir para a tropa em África e, a partir daquele momento, senti um enorme alívio. O meu irmão tinha ido para Angola. Acabei por cumprir o serviço militar na Trafaria. Mas foi um momento muito marcante para quem viveu a revolução, uma grande mudança no país.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Mudou muita coisa, como por exemplo, não estarmos presos aos clubes. Anteriormente, a única hipótese de não ficarmos agarrados às instituições onde estávamos era fugir para a Académica ao abrigo da lei estudantil. Foi isso que aconteceu por exemplo com o Fernando Peres. Saiu para a Académica e depois para o FC Porto e foi fazendo a sua carreira. Quando um jogador acabava contrato com o seu clube não tinha liberdade para sair e a partir da revolução tudo foi diferente. Com essa transformação foram aparecendo as leis que permitiam liberdade total na mudança de clube e até rescisões de contrato se houvesse algum problema com a entidade patronal. Ou seja, do nada, passámos a ter tudo. Tratou-se de uma grande mutação, os jogadores já não estavam fechados. Cada um escolhia o que pretendia. Mais tarde até apareceu a Lei Bosman, que alterou radicalmente o estatuto do jogador na Europa.