O meu 25 de Abril | "Os jogadores deixaram de ficar presos aos clubes onde se tinham formado"
50 anos do 25 de Abril >> Ademar, antigo jogador do Sporting, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Só me apercebi que havia agitação quando cheguei à Emídio Navarro, que era a escola onde eu andava. Não tivemos aulas e no centro de convívio havia algum alvoroço entre as pessoas que lá estavam. Os professores não saíram da sala de professores. Acho que nenhum de nós percebia exatamente o que se estava a passar naquele momento. Quando cheguei a casa, o meu pai explicou-me o que era uma revolução. Sei que nos dias seguintes havia um misto de felicidade e medo porque não sabíamos exatamente o que iria acontecer. Eu vivia do outro lado do rio, em Corroios, e ali era pouco visível o que quer que fosse. Nessa semana, por exemplo, o meu pai proibiu-me de vir para Lisboa treinar. Eu estava no Sporting, tinha treinos três a quatro vezes por semana e lembro-me que nessa semana acabei por ficar em casa. Depois voltou tudo ao normal, regressei naturalmente aos treinos e voltei às minhas rotinas.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Penso que houve uma maior flexibilidade em relação a tudo no desporto. Tornou-se mais aberto, até mesmo na Lei. Recordo-me que os jogadores deixaram de ficar presos aos clubes onde se tinham formado e passaram a ter liberdade de escolha, o que lhes permitiu darem outro destino às suas carreiras. Mas como disse anteriormente, o maior impacto que senti com a revolução acabou mesmo por ser na escola. A escola e os professores tornaram-se mais abertos, houve uma maior aproximação entre professores e alunos e uma maior alegria na relação entre todos.