O meu 25 de Abril | "João Rocha falou com o General Spínola e lá abriram a fronteira..."
50 anos do 25 de Abril >> Fernando Tomé, antigo jogador do Sporting e do Vitória de Setúbal, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
Corpo do artigo
Onde estava no 25 de Abril?
Eu estava integrado na comitiva do Sporting, que joga em Magdeburgo no dia 24 para a Taça da Taças. Quando vínhamos de viagem, na autoestrada que ligava as duas Alemanhas, Oriental e Ocidental, mandaram parar o autocarro. O falecido Sr. João Rocha comunicou que havia um golpe de estado em Portugal, ficámos todos apreensivos, só quando chegámos a Frankfurt é que nos disseram, mais ou menos, o que se passava. As fronteiras estavam todas fechadas, terra, ar e mar, fomos para Madrid e fizemos a viagem de autocarro para Badajoz no dia 25, mas, então, não nos deixaram entrar.
"Apanhei uma boleia de um amigo e perguntei: Então houve muitos mortos? Ele, prontamente, respondeu ‘não pá, os tropas andam com as espingardas e cravos nos canos da mesma’"
Só no outro dia e, a pedido de João Rocha, que falou com o General Spínola, é que lá abriram a fronteira para nós passarmos. Foi doloroso porque estávamos sem notícias das nossas famílias, que era o mais importante. Não havia qualquer contacto com o país. Eu fiquei em Setúbal, porque só havia autoestrada até ao Casal do Marco, apanhei uma boleia de um amigo e perguntei: Então houve muitos mortos? Ele, prontamente, respondeu ‘não pá, os tropas andam com as espingardas e cravos nos canos da mesma’. Aí eu descansei mais um pouco, depois foi chegar a casa e ver a minha família, foi doloroso.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Houve evolução a nível social e desportivo, acabou logo a seguir a lei da opção que não era muito boa para os profissionais na altura. Eu não me posso queixar porque ainda fui transferido para o Sporting em 1970.
"Eu não me posso queixar porque ainda fui transferido para o Sporting em 1970"
É evidente que muitas coisas foram ultrapassadas e hoje olhamos para trás e verificamos que nem tudo foi bom para o futebol, mas, enfim, essa é a evolução dos anos. E já passaram 50 anos.