50 anos do 25 de Abril >> José Capristano, antigo dirigente do Benfica, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Estava em casa perto do Estádio da Luz e o meu pai e a minha mãe, que viviam em Leiria, telefonaram-me para me dizerem o que se estava a passar e para rapidamente ir às compras porque não se sabia que consequências haveria. Como tivemos algum receio, e já tinha dois filhos e a minha mulher estava grávida, ficámos em casa. O meu pai nunca foi um homem do sistema passado, na altura votava-se como se vota agora da Rússia com o Putin, e foi ele que me informou sobre a revolução, que até foi pacífica. Não andei no meio da confusão porque eu não sou revolucionário, sou mais reformista, não gosto de desequilíbrios, como sempre mostrei também no futebol durante a minha vida. Só se vive uma vez, a vida tem um preço e deve-se respeitar os outros, não posso pensar que aquilo que eu penso é melhor que aquilo que os outros pensam. Já trabalhava nessa altura como empresário, tinha duas empresas, uma em Lisboa e outra em Leiria, de importação de peças automóveis. Sempre fui um homem de trabalho, como o meu pai que quando entrava num banco tirava o chapéu por respeito, hoje entram de chinelos.
Como analisa a evolução do futebol de então para cá?
Mudaram regras e houve maior profissionalismo. Está mais industrializado, há menos amor à camisola. Quando fui diretor do Benfica lembro-me bem como era o Estádio da Luz e como é agora. O futebol não é comparável, embora os grandes jogadores de então também o seriam hoje, como Eusébio, Simões, José Augusto, Germano, Costa Pereira, entre muitos outros. E quando me dizem que este ou aquele é o melhor do mundo, com o devido respeito acho que o Eusébio é o melhor de todos e acima de tudo. De qualquer forma, hoje o caminho é o profissionalismo e também é tempo de antigos jogadores de nomeada terem cargos importantes nos clubes e por isso considero que Rui Costa é o homem certo no lugar certo. Quanto ao sentimento dos adeptos, e apesar dos acionistas valerem hoje mais do que os sócios, a paixão continua igual, com estádio cheio no caso do Benfica. Já não é o mesmo da parte dos jogadores, pois mudam de clube como quase se muda de camisa.