O meu 25 de Abril | "Estava na tropa e não me apercebi do que é que estava a acontecer"
50 anos do 25 de Abril >> António Oliveira, antigo jogador, treinador e selecionador, recorda o dia da Revolução dos Cravos e analisa o que mudou no futebol em Portugal ao cabo de 50 anos de democracia
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Onde estava no 25 de Abril?
Tenho uma lembrança giríssima, porque estava na tropa e não me apercebi do que é que estava a acontecer. Fui chamado de emergência e de urgência, porque fechavam os portões do quartel a partir de uma determinada hora. Quando lá cheguei o portão estava fechado. Não entrei.
"Quando lá cheguei o portão estava fechado. Não entrei. Fui para casa e comecei a aperceber-me do movimento do 25 de Abril em casa. Espera aí, e agora?"
Fui para casa e comecei a aperceber-me do movimento do 25 de Abril em casa. Espera aí, e agora? Como é que eu vou fazer, se eu não posso entrar no quartel? Bom, resumindo e concluindo, no dia seguinte dá-se o 25 de Abril e eu andei pela cidade, como toda a gente, a festejar. Porque a maior parte da malta não sabia o que é que estava a acontecer sequer. Achávamos que aquilo era uma revolução. E o que é que eu refleti? Foi a melhor coisa que podia ter acontecido.
Como analisa a evolução da sua modalidade/clube de então para cá?
O FC Porto, até aí, não tinha ganho quase nada. A partir do 25 de Abril, vejam os títulos que ganhou. Ter liberdade é uma coisa impagável, uma coisa que às vezes até não sabemos quantificar. Até exageramos e abusamos. No futebol também foi uma grande felicidade. Tínhamos de prestar vassalagem, ia tudo para a capital, como estão a querer que aconteça de novo. Não comparando com o 25 de Abril, como é evidente, que foi o momento mais bonito, o mais brilhante dos momentos que Portugal pôde assistir. A partir daí, vejam até onde chegamos já. São os valores que nós temos que preservar e defender com todas as forças. É exatamente essa liberdade que o 25 de Abril nos permitiu.