O meu 25 de Abril | "Agora, é uma mentira intencional, porque há meios tecnológicos"

Onde estava no 25 de Abril?

Estava em Lisboa. As televisões e as rádios anunciaram que estava a haver uma revolução e depois toda a gente saiu à rua. Eu e a malta que estava na Faculdade de Direito fomos até ao quartel do Carmo ver a rendição do Marcello Caetano e o início do novo regime.

"Toda a gente saiu à rua. Eu e a malta que estava na Faculdade de Direito fomos até ao quartel do Carmo ver a rendição do Marcello Caetano"

Estava muita gente, muita euforia, lembro-me de um sujeito em cima de uma árvore, a gritar, com um megafone, “Viva a liberdade, viva a liberdade”, e da saída do Marcello Caetano, de chaimite, com o Salgueiro Maia. São cenas que ficam registadas na nossa memória.

Como analisa  a evolução do futebol de então para cá?

Há uma evolução de natureza jurídica. Os clubes, dantes, eram associações desportivas, agora são SAD por imposição legal. Aí, há uma alteração total, mas na orgânica está tudo igual. São sempre os mesmos clubes a ganhar os campeonatos. Para haver verdade desportiva teria de se alterar a composição dos órgãos jurisdicionais. A nível do “modus operandi” da arbitragem também está igual, com uma agravante: agora há meios tecnológicos e se quisessem que a verdade desportiva imperasse, podia conseguir-se perfeitamente.

São sempre os mesmos clubes a ganhar os campeonatos. Para haver verdade desportiva teria de se alterar a composição dos órgãos jurisdicionais

Teria de alterar-se o protocolo, a nomeação dos árbitros tinha de ser sorteio, e não ao sabor de quem está à frente do Conselho de Arbitragem. O futebol português continua a ser uma mentira a nível do “modus operandi”, com a agravante de que, agora, é uma mentira intencional, porque há meios tecnológicos que permitem eliminar a mentira, e isso não acontece.