Luciano Gonçalves anuncia recandidatura e diz: "Qual é o miúdo que apita para levar na cara?"
<strong>ENTREVISTA (PARTE 3) - </strong>A três meses das eleições na APAF - o mandato só acaba em maio de 2020 -, Luciano Gonçalves revela, em primeira mão, que vai avançar.
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O mandato de Luciano Gonçalves termina em maio de 2020, mas em janeiro já deve ser marcado o ato eleitoral. O dirigente de Alcanadas (concelho da Batalha) revela que vai recandidatar-se.
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Tem participado em vários eventos. Já está a fazer campanha?
-Desde maio de 2016, quando tomei posse, até ao final do ano, fiz cerca de 70 mil quilómetros. Uma das minhas apostas, e que pretendia alterar na APAF, era a proximidade. Não havia proximidade com os associados da base. No primeiro ano de mandato fui a todos os núcleos do país, que são 53. Este ano, já vou com 80 mil.
Então fez mais?...
-[risos] No anterior fiz mais, fiz 134 mil quilómetros em 2018.
Pergunta de resposta fácil. Vai ser candidato?
-Já ponderei e vou ser. Não foi uma decisão fácil, foi ponderada porque o desafio lançado por várias áreas da arbitragem levou-me a pensar, juntamente com a minha família, em continuar. Aproveito para agradecer à minha mulher e aos meus três filhos pelo apoio dado nesta caminhada.
Foi desafiado por quem?
-Vários árbitros, dirigentes nacionais e núcleos. Isso deixa-me orgulhoso.
Dirigentes só da arbitragem?
-O que me interessa é a opinião das pessoas da arbitragem, o meu público alvo.
Entende, por isso, que a sua obra não está concluída?
-Ainda temos muitos outros projetos que podemos fazer para bem da arbitragem, principalmente uma mudança de mentalidades, também dentro da arbitragem. Essencialmente a APAF ser um parceiro da formação [continuar a academia da APAF, por exemplo], cada vez mais necessária na arbitragem. Formação de excelência que já é dada por conselhos de arbitragens e pelo da FPF, mas há outro tipo de formação onde a APAF pode e deve ter um papel mais interventivo.
"Não me vejo, para já - nunca digo nunca - como presidente do Conselho de Arbitragem. Não sabemos o dia de amanhã, mas a curto prazo não serei candidato"
José Luís Tavares, Carlos Esteves, Luís Guilherme e Fontelas Gomes foram presidentes da APAF e, a seguir, do Conselho de Arbitragem. O seu destino poderá ser o mesmo?
-Todo este tempo que ando na arbitragem o que me move sempre é estar numa função em que possa ser útil. Sinto-me útil na APAF, não me vejo, para já - nunca digo nunca - como presidente do CA. Para já, não.
Tem perfil para assumir esse cargo?
-Não sei, em 2016 se calhar 90 por cento do movimento associativo podia achar que o Luciano estaria seis meses como líder da APAF e já lá vão quase quatro anos. Não posso dizer que tenha perfil ou não, porque nestas instituições moldam-se, trabalham-se, não é um objetivo. Não sabemos o dia de amanhã, mas a curto prazo de certeza que não serei candidato.
"QUAL É O MIÚDO QUE APITA PARA LEVAR?"
Os casos de agressões a árbitros é uma das "batalhas" da APAF. "Esta época, já tivemos um, na Moita, num jogo de distrital, de janeiro até junho tivemos 23", informou Luciano Gonçalves. "Acredito que isto pouco a pouco vá mudando, mas vai ser um trabalho árduo. Por vários fatores, pela falta de cultura desportiva, a justiça é lenta, a insegurança nos campos de futebol, a falta de policiamento... tudo isto faz com que não se consiga travar este flagelo. Isto é mais grave do que se possa imaginar. Temos conselhos de arbitragem com muitas dificuldades para as suas competições. Quem é o miúdo que quer tirar o curso de árbitro, sabendo que corre o risco de levar na cara? Não se consegue convencê-los. Por mais que tentemos inventar e trabalhar com academias, e temos de o continuar a fazer, torna-se muito difícil mantê-los ao fim de um ano porque nas primeiras experiências vão ter problemas."
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"TRABALHO ALICIANTE DE FONTELAS GOMES"
Deve Fontelas Gomes continuar no CA da FPF? Luciano Gonçalves diz "nim".
Vários agentes entendem que Fontelas Gomes não devia continuar e já pediram a demissão dele por várias vezes. Tem sido um bom presidente?
-Fontelas Gomes é o meu presidente, apesar de divergência em vários temas e das opiniões diferentes sobre a gestão e defesa dos árbitros. Pode e sabe fazer ainda mais. Conheço-o há muitos anos, para além da questão profissional temos um relacionamento de amizade. Não corroboro, de forma nenhuma, os pedidos de demissão do Conselho de Arbitragem. Tem feito um trabalho interessante. Não concordo com tudo o que o Conselho fez, da mesma forma que ele não concorda com tudo o que a APAF fez.
Discorda de quê?
-Nada em específico. Fontelas Gomes e a sua equipa têm feito um trabalho interessante. Se deve continuar ou não, ele é que decide. Depois, a APAF analisará o trabalho dele e também da sua equipa.
LIGAÇÕES FAMILIARES NÃO CHOCAM
Outro assunto à mesa: as ligações familiares entre vários dirigentes.
Como presidente da APAF, como avalia o facto de haver vários dirigentes ligados por laços familiares?
-Também temos isso na política e nos cargos públicos [sorrisos]. Sinceramente, não me choca. Se existir competência para desempenharem os cargos, não podem estar condicionados por estarem pessoas da sua família. Não concordo, naturalmente, que ligações familiares possam indiciar o benefício de alguém, mas estarem familiares nas mesmas funções não me choca. Desde que mostrem competência para tal e não sejam beneficiados, não me choca. É possível que aconteça em vários cargos ou Conselhos porque 80 por cento dos árbitros entraram porque o tio ou o pai eram árbitros. É normal que isso aconteça e, recordo, o recrutamento de árbitros nas escolas, como fazemos hoje, não acontecia antigamente.