<strong>TEMA - </strong>As diretrizes da UEFA uniformizaram a formação de treinadores e os requisitos para exercer nos diferentes escalões. O último de quatro níveis é obrigatório em praticamente todas as primeiras ligas. O caminho até à elite exige seis a oito anos e cerca de dez mil euros.
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Muito se tem discutido em Portugal a impossibilidade de alguns treinadores assumirem na plenitude o papel principal na I Liga, por lhes faltar o último nível de formação.
Além da formação específica, os candidatos fazem uma formação geral, até ao nível III, que aborda temas como nutrição, fisiologia e ética. São avaliados através de testes escritos e práticos, trabalhos e estágios
No meio de tanta polémica, importa explicar do que realmente se trata. E o primeiro facto a salientar é que a detenção do nível máximo (IV - UEFA Pro) é tão obrigatória na I Liga como em La Liga, Premier League, campeonato romeno, sueco ou holandês. Isto porque praticamente todas as federações europeias respeitam a Convenção da UEFA para o Reconhecimento Mútuo de Treinadores, criada em 1997 e à qual Portugal aderiu em 2004.
Com o intuito de proteger a profissão, melhorar os padrões de treino e promover a livre circulação de treinadores, criaram-se diretrizes para a formação de técnicos, desde os conteúdos até às horas de aprendizagem. O caminho até à elite contempla quatro etapas, descritas nos quadros imediatamente abixo.
No nosso país, até ao terceiro nível, há uma formação geral que resulta da integração no Plano Nacional de Formação de Treinadores, do IPDJ, o que faz com que a formação leve um pouco mais de tempo em comparação com outros países e que também respeita a Lei 40 de 2012. Norma alterada recentemente com a principal mudança a ditar que seja a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) a fiscalizar o cumprimento das regras.
Contas feitas, falamos de um investimento pessoal de seis/oito anos e de cerca de 10 mil euros. Mas, regras da UEFA à parte, até que ponto é realmente necessária a formação completa? "Quem não tem o nível IV não tem conhecimentos nem experiência. Oferece-se um maior nível de complexidade no que diz respeito à metodologia de treino. Fala-se sobre modelos de jogo e tendências evolutivas, onde vai mudar o jogo nos próximos cinco anos, para que os treinadores se preparem para o choque do futuro", explica Jorge Castelo, autor de uma vasta bibliografia sobre futebol e formador de nível III e IV durante 18 anos, além de ter sido responsável pela coordenação dos conteúdos programáticos dos cursos.
"O nível IV oferece um maior nível de complexidade na metodologia de treino. Fala-se sobre modelos de jogo e tendências evolutivas, onde vai mudar o jogo nos próximos cinco anos"
"Também se fica a saber quais são os métodos de treino mais importantes. Não é por acaso que os nossos treinadores têm bons resultados lá fora. Se não respeitássemos a Convenção, sabe quantos seriam no estrangeiro? Zero. Porque não poderiam trabalhar em lado nenhum", acrescenta Jorge Castelo, com o alerta de que a formação não termina no nível IV: "De três em três anos, os treinadores têm de fazer cursos de atualização. Eu próprio como formador tenho de o fazer, porque o futebol muda todos os dias. E só é formador quem for reconhecido pela UEFA." Abrem-se cursos todos os anos, à exceção do nível IV, que se realiza de dois em dois anos por recomendação da UEFA para um país da nossa dimensão. O próximo arranca no final desta época.
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A revolução académica de Jesualdo Ferreira
Com o impulso de Jesualdo Ferreira, os anos 70 testemunharam a revolução na formação de treinadores, que estava à distância de uma especialização através do Sindicato de Treinadores. Foi uma espécie de movimento académico que nasceu no então Instituto Superior de Educação Física e no qual Carlos Queiroz teve também um papel preponderante. Introduziu conceções de treino e do que deveria ser um treinador. Nasceu o conceito de treino integrado, sem separação entre físico e técnico-tática e que pôs termo às peladinhas de 11x11 e às corridas na mata e na praia. Houve resistência da velha guarda e dos jogadores, mas a nova vaga veio para ficar e levou ao primeiro curso de treinadores, em 1983 e em consonância com a FPF.
Hoje em dia, o futebol mantém-se no mundo académico: há licenciaturas e mestrados que dão equivalência ao nível II e a Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, disponibiliza uma pós-graduação em treino em futebol de alto rendimento, coordenada por José Mourinho e António Veloso. De norte a sul também existem cursos superiores de gestão desportiva.