Rui Pinto, recorde-se, foi acusado de 147 crimes pelo Ministério Público.
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A defesa de Rui Pinto, denunciante do Football Leaks acusado de 147 crimes de acesso ilegítimo, violação de correspondência, sabotagem informática e de tentativa de extorsão, vai requerer a abertura de instrução.
A informação foi transmitida à Lusa pelo advogado Francisco Teixeira da Mota, o qual acrescentou que a instrução, fase facultativa que visa decidir por um juiz de instrução criminal se o processo segue e em que moldes para julgamento, vai decorrer no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça.
A 19 de setembro, o Ministério Público (MP) acusou Rui Pinto de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, sete deles agravados, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, do fundo de investimento Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol e da Procuradoria-Geral da República, e posterior divulgação de dezenas de documentos confidenciais destas entidades.
A sociedade de advogados PLMJ fez parte da defesa do Benfica no processo conhecido como E-Toupeira.
No dia seguinte, em 20 de setembro, a defesa do arguido considerou que a acusação do MP "contém numerosas falsidades, nulidades e ilegalidades", visando "silenciar e destruir" o criador do Football Leaks.
"Com a acusação agora tornada pública e o pedido de manutenção da prisão preventiva, confirma-se a vontade do MP de silenciar e destruir Rui Pinto, evitando que prossiga a colaboração que vinha mantendo com as autoridades de investigação de outros países", indicava uma nota enviada à Lusa nesse dia pelos advogados Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon.
A nota acrescentava que a equipa constituída pelo MP para investigar a criminalidade no mundo do futebol "parece estar mais dedicada a perseguir aqueles que a denunciam do que a investigar aqueles que a praticam".
"A defesa de Rui Pinto lamenta que o MP, ao mesmo tempo que consegue evitar que a SAD de um clube de futebol seja pronunciada, consegue descobrir 147 crimes contra o seu constituinte e enquanto em Espanha a Doyen é objeto de processos fiscais e criminais, em Portugal goza do beneplácito das autoridades de investigação", criticaram os advogados.
A acusação do MP diz que, entre 6 de novembro de 2018 e 7 de janeiro de 2019, o arguido "efetuou um total de 307 acessos" à Procuradoria-Geral da República, e obteve documentos dos processos de Tancos, do BES e da Operação Marquês, entre outros.
Em prisão preventiva desde 22 de março deste ano, Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu (MDE), que apenas abrangia os acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e da Doyen.