"João Félix? Foi obviamente por dinheiro. João Neves? Nem ele queria, nem o Rui Costa em 1994"
Rui Costa, presidente do Benfica e candidato à presidência nas eleições de 25 de outubro, deu uma entrevista à TVI/CNN Portugal, esta quinta-feira
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O que o levou a despedir Bruno Lage, a derrota com o Qarabag ou questões estruturais, como relação treinador-jogadores, administração, imprensa... o que mudou de junho até setembro? "Vai-se criando desgaste, e com semana que passámos, creio que percebeu isso também. Derrota com o Qarabag, não vale a pena escalpelizar. Derrota muito pesada, vinda do empate com o Santa Clara. Tenho muita pena. Com todos os dados na mão, custa-me, doeu-me, mas tenho de pensar primeiro no Benfica."
Pensando num desgaste de Bruno Lage no Benfica, por quê o manteve? "Depois da derrota do Qarabag, sucedida ao empate, havia dados que nos fizeram perceber que era necessário dar volta ao plantel, criar dinâmica diferente no plantel, nos objetivos do plantel do Benfica, e não arrastar coisas que a situação estava a ficar pesada."
Mas vindo da época passada? "Não, lutámos pelos títulos. Ganhámos Taça da Liga, a uma jornada do fim estivemos com o Sporting em casa a discutir o título, e temos a Taça de Portugal, nem vale a pena falar..."
Os adeptos queixam-se de que Rui Costa não fala... "Falei logo a seguir. O facto de não falar após todos os jogos, e penso que o presidente não tem de fazê-lo, mas o presidente do Benfica nunca deixa de manifestar-se onde tem de manifestar-se. Agora, não tem de falar constantemente. Não implica que esteja impávido e sereno a assistir ao que aconteça."
Como é a sua relação com Pedro Proença? "Tive oportunidade de explicar aos benfiquistas, não apoiei Pedro Proença, mas o projeto, como todos os clubes da I Liga e II Liga. Percebo os adeptos, mas o Benfica ao apoiar o projeto considerou o melhor em cima da mesa, e considera que o futebol português está em momento de enorme mudança, e aí o Benfica jamais está ausente das decisões."
Convidou-o para o camarote frente ao Qarabag... "Não é questão de convidar, é presidente e tem acesso aos camarotes nos jogos das competições europeias."
João Félix: o que falhou na sua contratação? "Houve muita expectativa, falhou porque é impossível combater com clubes árabes. "
Foi por dinheiro? "Obviamente."
João Félix não estava determinado em vir para Benfica? "Sim, estava, até aparecer proposta da Arábia que considerou irrecusável, não posso combater com valores da Arábia para os jogadores de futebol."
João Neves saiu do Benfica porque o clube precisava de angariar dinheiro e ter em caixa? "O Benfica necessita todos os anos de fazer vendas, quem disser o contrário mente. Clubes portugueses não podem sobreviver sem vender ativos. O contrário é falso. Há momentos em que há mais necessidade, naquele momento o Benfica estava necessitado como muitas vezes, mas fez de tudo para ficar com João Neves, chegando a valores incomportáveis para ambas as partes. Percebo os adeptos do Benfica, não se atribui preço em termos benfiquistas, mas financeiros, não é assim? Já vai em 66 milhões e acredito que vai chegar aos 70. Nesse mercado o mais caro foi Julián Álvarez do City para o Atlético de Madrid por 70 milhões."
Não poderia ficar mais um ano? "Nem nós tínhamos possibilidade como o João não tinha. Não quer o João, como não queria o Rui Costa em 94, Abel Xavier... Temos de aceitar a situação de cada jogador, é inevitável que diga que me custa perder jogadores assim, mas há momentos em que não podemos muito mais do que puxar ao máximo as transferências, não posso condenar e achar anormal que um jogador queira ir para liga muito mais importante que a nossa para ganhar valores que nem em brutos chegamos quanto mais em líquidos. É bonito e agradável perder jogador como o João, pelo benfiquismo? Claro que não."
Qual é o teto salarial? "Quatro/4,5 milhões de euros. Implica também bónus de presenças de jogos. Nem em brutos quanto mais em líquidos."
Como viu a situação de Kokçu com Bruno Lage? Teve o impulso de mandar embora Kokçu para Portugal e fazer algo para Bruno Lage? "Considerei situação pontual com um jogador, bom miúdo, mas que no campo se transforma. Não é a primeira vez que fez gesto daquela natureza, já o tinha tido com Roger Schmidt e na seleção, o que fizemos de imediato foi resolver a situação de forma interna. Não pactuo com indisciplina na equipa, mas aceito desculpas do jogador, feitas à equipa e treinador, que cometeu um erro. Chegámos a Lisboa e a questão foi resolvida de outra maneira."
Quais os requisitos e parâmetros para contratar para a dimensão do Benfica? "Quando se contrata, a janela de janeiro serve para reparar e para programar algo para o futuro, não a primeira vez que se contratou que no futuro viesse a ser jogador para o futuro. Em termos de perfil, princípio muito claro, tem de ser bom. Depois, dependendo do treinador, escolhemos perfil para cada posição. Um dos perfis que tentámos melhorar, renovar, foi ter meio-campo muito mais compacto em termos físicos com a venda de Enzo e Rios, acredito que ainda a ganharem o seu espaço e a perceber futebol da equipa. Um internacional colombiano e outro vai ser chamado agora à seleção argentina. Em cada posição temos perfil adequado."
Área do scouting consegue identificar diferença competitiva entre nível nacional e internacional? "Campeonato português não nos dá uma Liga dos Campeões. Por isso também o caminho que fizemos em termos europeus nestes anos. O que serve para o campeonato português é o mesmo que serve para as provas europeias? Não sempre, mas o Benfica não pode escolher, vou comprar X para as provas nacionais e outro para a Europa."