Cumprem-se, este domingo, 15 anos desde que o FC Porto conquistou a sua segunda Champions, vencendo o Mónaco por 3-0. Uma história de ouro recordada pelas palavras de Vítor Baía, Maniche e Pedro Mendes (C/ VÍDEO)
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Gelsenkirchen não é uma palavra fácil para um português, mas há 15 anos, principalmente os adeptos do FC Porto - e os portugueses de boa fé, de uma forma geral - até aprenderam a dizê-la. É o nome da cidade onde o FC Porto se sagrou pela segunda vez na sua história campeão europeu.
Depois de ganhar a taça UEFA em 2003, o FC Porto voltou a encantar a Europa no ano seguinte
26 de maio de 2004, ainda o nome dos meses se escrevia com letra maiúscula, ainda não tinha entrado em vigor o novo tratado da Língua Portuguesa. O tratado era outro, era o FC Porto, um verdadeiro tratado a jogar futebol, uma equipa que encantava, e um treinador que preparava a sua despedida do clube, depois de na época anterior ter alcançado a vitória na Taça UEFA.
O FC Porto tornava-se na primeira equipa, em 27 anos, a vencer a Taça UEFA e a Liga dos Campeões em dois anos consecutivos, igualando o registo do Liverpool que entre 1976 e 1977 conquistou os dois troféus máximos da UEFA. Sim, aquele FC Porto respirava futebol e cedo se percebeu que o impossível não existia para os comandados de Mourinho.
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"Vencer a Champions era realmente uma missão muito difícil, mas nós estávamos mentalizados para conquistar impossíveis. Em miúdo, estive na Baixa a festejar o título de 1987 e aqueles jogadores que cresceram no FC Porto, como eu e o Jorge Costa, sonhavam em fazer algo idêntico para ficarem na história", memória de Vítor Baía, o guarda-redes que nessa final com o Mónaco evitou o primeiro estrago dos monegascos, logo aos dois minutos, quando Giuly se isolou.
"Era uma das minhas missões, controlar a profundidade do ataque do Mónaco, que tinha em Giuly um perigo. Era muito veloz. Felizmente, saí-me bem e o Giuly até se lesionou nesse lance", recordou.
Vítor Baía, Maniche e Pedro Mendes recordam para O JOGO os momentos felizes que essa equipa viveu em 2004, com um treinador que era um craque a motivar os jogadores
O avançado seria substituído aos 23 minutos por Prso. "Tínhamos muita confiança nas nossas capacidades e o discurso de Mourinho antes do jogo foi impecável. Era um mestre na motivação. Não falou muito, mas marcou com insistência a frase de que as finais são para se ganhar", conta ainda o guarda-redes.
Esse jogo da final nem foi muito difícil para Vítor Baía. A equipa do Mónaco, orientada por Deschamps, não conseguiu nunca superiorizar-se ao FC Porto, a partir do momento em que ficou a perder (Carlos Alberto, 39"). "O início foi mais complicado, e o Mónaco não era uma equipa qualquer. Tinha eliminado o Real Madrid, que tinha vencido o nosso grupo. Não tive muito trabalho, mas fiz trabalho de qualidade nos momentos em que foi necessário. Nesse percurso até à final realmente houve jogos mais exigentes, como foi o caso do encontro com o United", diz ainda Baía.
"Não tive muito trabalho, mas fiz trabalho de qualidade nos momentos certos", confessou Vítor Baía
Pedro Mendes, que nesse encontro alinhou de início, diz que o grande segredo dessa equipa foi a relação que os jogadores tinham extra-relvado: "Éramos uma verdadeira família e isso foi muito importante. Esse jogo não foi o que mais marcou a minha carreira, mas em termos de conquista foi inigualável."
Os boxers do Mourinho tinham piada
Maniche era um dos mais brincalhões do balneário. E metia-se muito com Mourinho por causa... dos boxers: "Os boxers que ele usava pareciam mais pano de toalha de praia. Quando ele entrava no balneário, o Bicho já olhava par mim à espera que eu mandasse uma boca, só que o Mourinho percebia... mas nunca mudou o tipo de boxers."
A FICHA DO JOGO
MÓNACO 0 - FC PORTO 3
Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen
Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)
MÓNACO - Roma, Ibarra, Julien Rodriguez, Givet (Squillaci, 72") e Evra; Edouard Cissé (Nonda, 64"), Bernardi e Zikos;Giuly (Dado Prso, 23"), Morientes e Rothen. Treinador: Didier Deschamps.
FC PORTO - Vítor Baía; Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Costinha, Pedro Mendes e Maniche; Deco (Pedro Emanuel, 85"), Carlos Alberto (Alenichev, 60") e Derlei (McCarthy, 78"). Treinador: José Mourinho.
Golos: Carlos Alberto (39"), Deco (71"), Alenichev (75")
Cartões amarelos: (Nuno Valente, 29"). Carlos Alberto (40"), Jorge Costa (77")
PERCURSO: Lyon foi o mais complicado
No percurso até à final, FC Porto só teve uma derrota (com o Real Madrid, na fase de grupos). Jogo na Corunha (meias-finais) foi o melhor exemplo do que é jogar em equipa e ter poder de superação
Maniche foi um dos heróis no percurso vitorioso do FC Porto nessa época. "Quando começámos a acreditar? Em Manchester, nos oitavos de final, olhámos uns para os outros e começámos a falar na possibilidade de chegar à final, mas o jogo que nos traçou o caminho do sucesso foi com o Lyon. Aliás, os dois jogos com os franceses, que tinham uma grande equipa", responde.
No jogo em França o herói foi... Maniche. "Tinha de ser [risos]... Fiz um jogo realmente muito bom e marquei dois golos muito bonitos e fundamentais para o apuramento para as meias-finais." A seguir veio o Corunha, uma das últimas grandes equipas da história dos galegos, que tinha em Jorge Andrade, ex-FC Porto, uma parede.
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No jogo da primeira mão, no Dragão (0-0), o defesa português foi expulso numa "brincadeira" que envolveu Deco, e falhou a segunda mão, onde Derlei, de penálti, carimbou o passaporte para a final: "Foi um jogo de grande exigência, tivemos de nos superar, tivemos de ser mesmo uma família dentro do campo. Sabíamos que estávamos muito perto do sucesso..."
Com a final garantida foi só controlar a ansiedade. "Na semana que antecedeu o jogo da final, lembro-me de que andei muito por casa, procurei não ir jantar a restaurantes para que o foco não fosse para outro lado. Havia um enorme sentido de responsabilidade. Acho que todos entendemos que aquele era o nosso momento e o treinador muitas vezes nos disse que tínhamos uma oportunidade que podia ser única nas nossas vidas", recorda Maniche.
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