Extremo do FC Porto explicou os desafios que teve de superar na adolescência, a mudança de vida de Lisboa para o Porto e a forma como modelou o estilo de jogo
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Numa entrevista à sua assessoria de Imprensa a que O JOGO teve acesso em exclusivo, Gonçalo Borges abriu o baú das memórias para explicar a pessoa e jogador que é hoje e o que quer conquistar.
“A minha caminhada tem muita superação. Muitos obstáculos, situações delicadas para um rapaz novo lidar, mas com as pessoas que tenho ao meu redor fomos conseguindo superar”, começou por dizer o extremo de 22 anos, que aos 15 trocou Lisboa e o Benfica pelo FC Porto.
Na casa do Dragão encontrou uma “família”, mas a de sangue ficou longe. “Falo disto muitas vezes com eles, saí de casa cedo e ligava muitas vezes ao meu pai a chorar a pedir para me deixar voltar a casa. Ele foi forte e pediu-me calma. Apesar de ter sido bem recebido na casa do Dragão, adoro toda a gente de lá. Era um menino muito ligado à família e naquela fase tão precoce sair de casa sem as bases não foi nada fácil. Muita superação e apoio do meu pai. Sem ele a indicar-me o caminho não seria o que sou hoje”, recordou Borges, plenamente identificado com as cores que passou a representar: “Jogar no FC Porto significa ser eu mesmo, entregar aos adeptos o que eu sou. Preenche-me muito estar neste estádio, ir à cidade e ver o carinho dos adeptos. Estou a viver um sonho e espero continuar por muito mais tempo”.
Gonçalo recordou o acompanhamento “fundamental” que recebeu de psicólogos de “grande nível” e o “muito trabalho específico” na formação. “Às vezes sozinho, porque ia mais cedo fazer finalizações e cruzamentos. Houve um trabalho para comigo muito interessante”, explicou, convicto que todo este trabalho o fez ser “um jogador diferente”. “O talento sempre tive, é algo natural, mas o Gonçalo que existe hoje é trabalhado. Passou por uma fase de maturidade na compreensão do jogo, mas sobretudo do meu talento. Quando cheguei a esta casa, apreendi muito a lidar com o meu talento porque tive treinadores e colegas que diziam ‘joga à bola, passa a bola’. Diziam que era egoísta mas é completamente o oposto, quem me conhece fora do campo... Mas se pensavam isso de mim, se calhar tinha de mudar alguma coisa. O Gonçalo de hoje aprendeu a lidar com a adversidade e as críticas. Uso-as para ser melhor”, referiu o jogador, que também teve desafios para superar no primeiro ano no futebol profissional, na equipa B: “Houve momentos em que pensei: ‘porque é que o meu futebol não surge? Que se passa?’. Foi ter de compreender o que se passava”.
Certo que o “futebol está cada vez mais tático e físico”, o avançado não duvida que também “é talento e magia”. “Às vezes não dá no talento e dá na atitude. O futebol é diversão para todos. É importante ganhar e ter resultados, é disso que vivemos neste clube, mas também é importante entregar diversão, que os adeptos sintam que gostaram e queiram vir de novo. Que venham ao estádio por ser um espetáculo ver os golos, as assistências. O jogador em si, falando de mim, é diferente. Umas vezes vou acertar dez, noutras oito, mas vai acontecer alguma coisa de diferente”, concluiu Gonçalo.
Formação: Borges destacou trabalho técnico específico e ajuda de psicólogos
Borges recordou um ídolo da infância. “O meu maior ícone do FC Porto que não cheguei a ver aqui [Dragão] é o Quaresma. ‘Sacava’ muitos vídeos dele para depois ver no telemóvel. Ainda hoje os vejo. É a principal referência pela irreverência, perde três bolas, mas na seguinte resolve o jogo. A confiança nele mesmo, revejo-me muito”, disse. No crescimento enquanto jogador, o estádio da Reboleira fica marcado.
“Foi onde me estreei pelos sub-21 e como titular pelo FC Porto. O meu pai estreou-se ali, o meu irmão também”, revela, com mais sonhos pela frente. “Ser campeão este ano, festejar com todos no estádio. Depois, ganhar uma Champions e um Campeonato do Mundo em que eu jogue com a minha família no estádio a ver o jogo”, projeta, considerando que tem condições para chegar à Seleção A. “Sinto que não há limites para sonhar”.