Pavlo Duvko, ucraniano de 41 anos, hoje no Olhanense 1912, era o fisioterapeuta do Qarabag na época passada. Passagem rápida por razões familiares mas suficiente para ficar com ideia perfeita do "profissionalismo e trabalho duro", de Gurban Gurbanov
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Em Olhão como fisioterapeuta do Olhanense 1912, presidido por Manuel Cajuda, clube erguido a partir da distrital, a partir das cinzas do tradicional e saudoso Olhanense, trabalha Pavlo Dubko, de 41 anos. Este ucraniano, com 16 anos de ligação ao futebol profissional, também viveu por uma época, precisamente a última, a era dourada do Qarabag, esmagador dominador do futebol azeri. Pode testemunhar essa liderança de Gurban Gurbanov, o técnico que com 16 anos no cargo, é um caso raro de longevidade, apoiada por títulos e profundo carisma.
"É um clube especial, em redor da equipa há microclima caloroso e ameno, todo um ambiente amigável e de grande respeito entre todos. Pude testemunhar a coexistência ideal de profissionalismo e simplicidade. O papel do treinador é fundamental, é ele que personifica essencialmente a marca Qarabag. Gurban Gurbanov e Qarabag são coisas inseparáveis, se falarmos de determinação, trabalho, empenho, profissionalismo, inovação. Tudo isso é pregado pelo treinado, não há lugar a preguiça ou conformismo, apenas trabalho duro. Esta é a melhor descrição que posso fazer dele", relata Pavlo Dubko, reconhecendo que há uma realidade tocante na cumplicidade entre adeptos e clube, mesmo que o Qarabag estava afastado do seu berço.
"A ligação das pessoas ao clube é enorme, há uma distância de casa, é verdade, mas o Qarabag multiplicou adeptos pelo país e em Baku já muito bem representado. Os adeptos dão uma contribuição enorme em cada jogo, empurram a equipa para muitas vitórias e enchem o estádio, muito mais na Europa", relata, deixando uma ideia da atmosfera que espera o Braga.
Pavlo Dubko passou pelo Qarabag, depois de trabalhar muitos anos na Ucrânia e também em Portugal, no Olhanense e Farense, tendo passado pela Rússia, pelo Akhmat Grozny. "A experiência de trabalhar no Qarabag foi ótima, adorei tudo. Foi um meteorito a cair do céu, brilhante, bonito e rápido! Acho que assenta bem à minha passagem esta descrição. Agora estou a implementar a metodologia de trabalho do Qarabag no Olhanense 1912. Foi uma opção regressar para fortalecer laços com a minha família, que vive no Algarve. Estive três anos fora, difíceis até pela guerra iniciada na Ucrânia. Tive de renunciar ao trabalho na Rússia por motivos políticos. É terrível o que está a acontecer", justificou o ucraniano, que mesmo não tendo competências técnicas, debruça-se sobre esta eliminatória a meio entre Qarabag e Braga.
"Não sou bom em táticas mas se há algo que define o Qarabag é ser uma equipa ambiciosa, permanentemente motivada, além de incrivelmente trabalhadora. Depois há uma grande mão do treinador a transmitir disciplina, os jogadores têm qualidade, por aí se faz o segredo deles", revela, analisando a estranha diferença vista na primeira mão e plasmada num resultado bem alarmante para o conjunto português. "Não sou especialista, nem sei bem dizer o que se passou. Acredito em fatores que precederam o jogo, como a excelente forma física do Qarabag e o declínio físico acompanhado de crise de resultados do Braga. Num jogo há sempre chances para os dois lados mas eu torço pelo Qarabag, um clube muito querido para mim. Mas tudo é possível!", avisa, informado também da relação especial do seu presidente, Manuel Cajuda, com os guerreiros do Minho.
Duvko tem uma história curiosa ligada ao futebol iniciada na Crimeia, ao trabalhar no Sebastopol. Logo aí sentiu o peso das intromissões russas. "Nasci, morei, estudei na Crimeia, mas parti para Kiev em 2005, pois tenho lá quase todos os parentes. Comecei a carreira no futebol em Kiev, retornei a Sebastopol após trabalhar com os sub-21 da Ucrânia. Devido à anexação da Crimeia pela Rússia,voltei com a minha esposa para Kiev. Mas guardo de Sebastopol uma atividade brilhante e intensa. Hoje, mais do que nunca, vivendo no Algarve, sou frequentemente invadido pelas memórias da Crimeia, muito parecida...", destaca Pavlo, que acolheu em mãe em tempos complexos de ataques russos em solo ucraniano.
"Ela esteve em Olhão durante mais de um ano logo depois do início da guerra. No ano passado, no verão, regressou à nossa capital. Também tenho uma tia e a sogra em Kiev. Tenho muitos amigos lá, mantenho contato com todos, felizmente está tudo bem com todos", assegura.