Emoções na última jornada: "O atleta é como um soldado e quando está no relvado..."
A psicanalista Sónia Soares Coelho falou a O JOGO sobre as emoções sentidas pelos jogadores nos jogos da última jornada. Para esta profissional de saúde, as manifestações entusiásticas dos adeptos nestes momentos podem servir de combustível para alguns atletas, mas também podem colocar mais pressão em outros.
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São esperadas emoções fortes na última jornada e elevados níveis de ansiedade nos jogadores que entram em campo, numa altura em que está por decidir o campeão, os qualificados para a Europa e quem desce de divisão. Os níveis de ansiedade vão estar muito elevados, o que para alguns intervenientes até pode ser positivo, de acordo com a psicanalista Sónia Soares Coelho. “Por vezes, coloca as pessoas mais funcionais. Põe-nos mais ativos e concentrados”, explica, a O JOGO, comparando a postura de um jogador com a de um soldado em ação: “Enquanto estão na batalha, estão impecáveis, não podem pensar muito. O atleta é parecido e quando lá está no relvado, está o mais capaz possível de tomar decisões Não significa que não esteja a sentir emoções durante o jogo.”
Para esta profissional de saúde, com mais de 25 anos de experiência, “os jogadores extravasam mais as emoções no final dos jogos”, o que pode resultar “em choros, vómitos e discussões”. “Tudo acaba por ser libertado de uma forma ou outra. Quando a emoção é mais silenciosa, pode provocar hérnias nervosas ou mesmo problemas de pele”, alertou.
Nesta fase decisões, existem manifestações mais entusiásticas de apoio, como a receção aos autocarros das equipas, o que pode ter efeitos mistos numa equipa. “Está relacionado com o passado dos jogadores. Tive um paciente para o qual isto servia de incentivo, pois lembrava-lhe o professor que o incentivava na infância. Já outro recordava-se do autoritarismo do pai, que exigia que ele fosse o melhor, por ali estar uma multidão, que diz que esse jogador é o melhor e do sucesso dele depende a felicidade para os próximos dias”, partilha Sónia Soares Coelho, considerando que “os adeptos são muitas vezes um combustível”: “Neste último jogo entre Benfica e Sporting, viam-se frequentemente jogadores do Benfica a pedirem apoio, porque precisam disso como de pão para a boca. Por outro lado, há quem se tente imunizar, porque já foram desfeitos pelos adeptos, que libertam as suas frustrações do dia a dia num jogo de futebol.”