Depois da glória na Taça, Caldas luta pela Liga 3: "Vivemos o futebol de forma romântica"
EQUIPA DA SEMANA - Três anos depois de ter estado debaixo dos holofotes pelo que fez na prova-rainha, o Caldas encontra-se estável e à procura de subir à Liga 3. Sonho dos profissionais existe, mas sem ilusões
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Pensar em surpresas na Taça de Portugal é sinónimo de lembrar a caminhada gloriosa do Caldas na época 2017/18. O clube foi deixando adversários dos campeonatos profissionais pelo caminho e só parou nas meias-finais, onde foi eliminado pelo Aves, já no prolongamento. Três anos volvidos, está ainda no CdP, mas com o objetivo claro de subir à Liga 3.
Em 2017/18, o clube ficou às portas da final do Jamor, caminhada que é recordada "quase diariamente"
Em conversa com O JOGO, Jorge Reis, presidente do emblema das Caldas da Rainha, recorda uma trajetória de "muita alegria" e que aproximou "a cidade do clube". "São memórias que nos invadem quase diariamente", diz sobre uma campanha que "marcou uma viragem relativamente ao respeito que se tem pelos clubes do CdP". "O Caldas ajudou a esse acreditar de que é possível causar surpresas". Thomas Militão, um dos capitães e titular indiscutível nessa equipa, também guarda os momentos "inesquecíveis e emocionantes" e refere que a queda nas meias-finais ainda deixa um "amargo de boca", mas que é rapidamente substituído "pelo orgulho do que foi feito". O segredo? Uma equipa com "muita qualidade", "união e espírito de grupo muito grandes": "nas horas das dificuldades, corríamos ainda mais uns pelos outros".
De 2017/18 para a temporada atual, mantêm-se 11 jogadores no plantel, além do treinador. O dirigente admite que alguns "mereciam ter saído para os profissionais" - apenas três deram esse salto -, mas explica que o Caldas mantém os jogadores por ter um projeto seguro e de confiança. "Não temos SAD, não há investidores. Temos uma forma romântica de viver o futebol, a treinar ao fim do dia, com jogadores amadores. Mas os atletas preferem ganhar menos aqui, mas manterem-se seguros, porque cumprimos escrupulosamente, do que aventurar-se noutros lados", afirma.
Também o central e lateral direito partilha desta opinião. Revela que esperava ter tido propostas, mas diz-se feliz onde está. "Depois daquela época, achava que iam aparecer propostas dos profissionais. Custou-me, não há que esconder. Mas é o meu clube e dou a vida por ele, sempre motivado". Ver alguém repetir o feito do Caldas, "treinando ao final do dia, depois do trabalho", será "muito difícil", mas o experiente defesa torce para que alguém consiga, porque isso é "a essência da Taça".
Para já, o objetivo é subir de escalão - o que está perto de acontecer -, porém o sonho é ver o Caldas de regresso aos grandes palcos. "Também gostava de ver o clube mais acima, mas temos os pés assentes no chão para não gerarmos dívida e acontecer o que aconteceu a muitos. Mas a ambição ninguém nos tira. No entanto, é muito difícil. A pandemia prejudicou, só temos despesa... muitos clubes vão acabar, não conseguem resistir a isto", atira Jorge Reis.
Até lá, há duas finais para disputar, de forma a garantir a fase de subida à Liga 3. "Estamos confiantes e tenho a certeza que vamos atingir os objetivos. Espero uma equipa à Caldas", refere Militão acerca dos duelos com Torreense e Loures.
O capitão nunca conheceu outro clube na carreira e agora só se vê a pendurar as botas no clube do coração. "Não me passa pela cabeça jogar contra o Caldas. É o meu clube, é especial jogar no clube do coração e eu tenho essa sorte", vinca.
O TREINADOR
José Vala
Idade: 49 anos
Um homem da casa. Depois de alguns anos a representar o Caldas enquanto jogador, José Vala orientou as camadas jovens do clube e, em 2016/17, começou a aventura na equipa principal, que lidera até agora. Levou os pelicanos às meias-finais da Taça de Portugal, em 2017/18, e este ano tenta subir à Liga 3. Como treinador, conheceu apenas outro clube: o AE Óbidos.
O JOGADOR
Thomas Militão
Idade: 29 anos
Posição: Defesa central/Lateral
Se José Vala é uma das figuras do clube, Thomas Militão não menos o é. O defesa-central/lateral-direito nunca vestiu a camisola de outro clube. É um dos capitães e um dos pilares no onze titular, além de jogadores como Luís Paulo ou André Simões. Contava dar o salto depois do percurso glorioso na Taça de Portugal, mas agora já não se vê a sair da Mata encantada.