ENTREVISTA A COATES (PARTE 3) - É um dos temas mais sensíveis da entrevista, mas Coates... não disse que não. O ataque à Academia respondido ao detalhe e com a crença num futuro muito melhor.
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Recuemos até ao dia 15 de maio. Como viveu os momentos da invasão à Academia?
-Não gosto muito de voltar a esse dia. Já se disse muita coisa e também se passaram muitas coisas. O caso está nas mãos da Justiça e temos de ver o que vai dar. Foi um momento muito duro que não teve nada a ver com tudo o que de lindo tem o futebol. São coisas que espero que não se repitam, seja cá ou em qualquer outro lugar do mundo. O futebol é outra coisa e não tem espaço para a violência. Tem de desfrutar com as famílias e com quem goste da modalidade.
Considera que houve negligência por parte da então Direção do Sporting? Acredita que o ex-presidente do clube, Bruno de Carvalho, tenha instigado o ataque?
-É difícil saber. Até que a Justiça dê o seu veredicto, haverá sempre espaço para todo o tipo de especulações. Considero que foram cometidos muitos erros por todas as partes, porque, para mim, não é normal que tenham deixado entrar aquelas pessoas na Academia. Mas é um tema que já passou e sobre o qual se disseram muitas coisas sobre algo cuja verdade ainda não é conhecida.
O que sentiu toda a equipa quando subiram à tribuna do Estádio Nacional para receberem a medalha de finalista vencido na Taça de Portugal? O que vos disse Jorge Jesus quando chegaram aos balneários?
-O primeiro sentimento foi de tristeza por tudo o que passou. Tínhamos um grupo espetacular, muito bom, mas que não terminou bem o ano. Ficámos tristes por não capitalizar todo o trabalho que tínhamos desenvolvido durante a época. Não gosto de apresentar desculpas, mas é óbvio que não estávamos 100% focados na final da Taça. Depois do jogo, viu-se que a semana tinha sido dura para todos. A frio, foi um orgulho para mim ter entrado em campo nessa final. Ter dado o nosso máximo numa altura em que não estávamos bem da cabeça. Optámos por representar o Sporting e toda a gente que não foi responsável pelo ataque.
Receberam alguma mensagem de Bruno de Carvalho depois do jogo?
-Sinceramente, não me lembro. Foi um momento duro e não gosto de voltar para trás, de recordá-lo. Apaguei toda essa semana e só espero que não volte a acontecer.
"Não recorri a qualquer psicólogo. Apoio-me muito na família"
Tiveram algum tipo de apoio psicológico?
-No meu caso, não recorri a qualquer psicólogo. Apoio-me muito na família, nas pessoas que me rodeiam e é a elas quem peço conselhos para muitas coisas, inclusive esta.
"RESCINDIR? ATO FOI DE UMA MINORIA"
Na sequência do ataque à Academia, nove jogadores rescindiram com o Sporting. Porque é que decidiu não o fazer?
-Foi uma decisão muito difícil. Estávamos todos muito magoados pelo que se tinha passado: fui para o Mundial, falei muito com a minha família e cheguei à conclusão que havia muita gente que não tinha sido responsável pelo ato de uma minoria. Também havia um clube que me tinha aberto as portas e que me tinha tratado muito bem. As decisões de cada um de nós, fosse no sentido de ficar ou ir embora, foram muito difíceis. Optei por continuar no Sporting por todas as coisas positivas que tinham feito por mim desde 2016. Precisava de dar outra oportunidade a este clube.
"Havia um clube que me tinha aberto as portas e tratado bem"
Bas Dost, Bruno Fernandes e Battaglia optaram, posteriormente, por regressar. Como foram recebidos pelos colegas?
-Tenho uma boa relação com os três e falámos muito durante as férias. São decisões pessoais e cada um tem os seus argumentos, tal como eu tive os meus para tomar a decisão de não rescindir. A minha família quis ficar e isso foi muito importante para eu não rescindir - às vezes não é só o futebol a ditar as regras. Os três foram muito bem recebidos.
Ainda é complicado entrar naquele balneário?
-Não... No início da época disseram-se muitas coisas sobre o Sporting; hoje, vê-se o contrário. A Academia funciona da melhor maneira, os jogadores estão a jogar. Isso também ajuda quem passou por esse período. Quando tomei a decisão de continuar, tentei esquecer tudo o que se passou. Para mim, não foi duro [voltar]. Desfruto do dia a dia, de vir treinar e de ver o clube a melhorar a olhos vistos.
"CHATEADO" COM TEXTO DE BRUNO DE CARVALHO
Em abril, fica ligado à derrota (0-2) em Madrid com um erro aos 26"". Como lidou com isso e como viu, depois do jogo, a publicação de Bruno de Carvalho a criticar os jogadores?
-Falei com a minha família e falei com as pessoas que me rodeavam. Quando entras em campo, pode acontecer qualquer coisa: às vezes, estás a fazer um jogo espetacular e cometes um erro. Outras vezes, o contrário. Nesse jogo, tocou-me a mim; faço sempre uma autocrítica quando não jogo da melhor maneira e nesse momento fui eu que cometi o erro. Mas sabia que tínhamos muitos jogos pela frente, o da volta, em casa... Sobre a publicação, logicamente que me chateou, mas quando tivemos a reunião com o presidente ficou tudo claro, falou-se sobre esse assunto. São estas coisas que permitem aos jogadores continuar a aprender.