Hoje o Benfica luta contra a história. Só duas equipas recuperaram de derrotas caseiras de dois ou mais golos; O Ajax abateu o Benfica na Luz (1969) depois de os encarnados terem ganho em Amesterdão e o United recuperou no Parque dos Príncipes em 2018/19. Há mais quatro reviravoltas, mas por margens mínimas.
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O Benfica entra esta quarta-feira no Giuseppe Meazza a precisar não só de bater o Inter, o que nunca logrou na história, mas também de confirmar uma das maiores revoltas de sempre como forasteiro na Liga dos Campeões. Essa é a dimensão da tarefa do líder do campeonato nacional que, ao olhar para as estatísticas, só encontra seis outros exemplos de reação após uma derrota caseira na fase a eliminar na maior prova de clubes, sabendo que agora o critério dos golos fora a valerem por dois já não se aplica. Destas seis recuperações, o Ajax é senhor de três delas e em 1969 os neerlandeses foram capazes de apagar a vitória do Benfica por 3-1 em Amesterdão, tendo o jogo de desempate sido favorável por 3-0 aos neerlandeses.
Essa memória dolorosa pode servir de mote e foi a primeira grande machadada a jogar fora na Liga dos Campeões. Só em 2018/19 se repetiu um cenário de o anfitrião perder por dois golos de diferença e conseguir apurar-se. Nos "oitavos", o PSG foi a Old Trafford ganhar por 2-0, mas o Manchester United deu a volta ao texto em Paris (1-3), celebrando o apuramento com um penálti de Rashford, aos 90"+4". A eliminatória começou a ser virada pelo tento de Lukaku (adversário de hoje dos encarnados) na primeira parte.
A estes dois exemplos de reviravoltas após derrotas caseiras por dois golos de diferença, juntam-se quatro outras após desaires pela margem mínima. Em 1995, o Ajax perdeu em casa por 1-0 perante o Panathinaikos, porém recuperaria com um 3-0. Em 2010/11, o Inter foi batido pelo Bayern em casa por 1-0 e recuperou na Baviera por 3-2. Os dois últimos momentos de reação tiveram o Ajax como protagonista... no bem e no mal. Na meia-final de 2018/19, a turma de Ten Hag ganhou em Londres ao Tottenham por 1-0, mas Pochettino levou os spurs a um 3-2 e à final.
Nos oitavos de final da Champions, o Ajax escandalizou o mundo porque, depois de perder 2-1 com o Real Madrid em Amesterdão, silenciou o Bernabéu com um 4-1 sobre o mais vezes campeão da prova. O Benfica tem de seguir o feito do Ajax e de... Neres, que marcou em Espanha, consagrando uma época de afirmação. Um jogo que estará na cabeça do brasileiro e que pode ser o prelúdio para uma conversa de balneário inspiradora. Em jogo está o regresso do Benfica às meias-finais da prova milionária, o que não acontece desde a epopeia com o Marselha em 1990. E ainda há o "bónus" de mais 12,5 milhões de euros caso o Benfica agarre o bilhete das meias-finais, a somar aos 72,5 milhões já angariados na campanha europeia.
Um Benfica a inspirar pergaminhos italianos
Os confrontos entre os dois clubes são escassos face ao poderio que mostraram na Europa em alturas semelhantes. O Benfica foi campeão europeu em 1961 e 1962 (contra Barcelona e Real Madrid) e foi a cinco finais nessa década. Gerava respeito em Itália. "Lembro-me de Eusébio e do equipamento encarnado. Fiquei espantado com a cor quando os vi ao vivo. Era miúdo", lembra Gregorio Santi, enquanto beberica um café na Avenida Copérnico. A vitória da Liga dos Campeões pelo AC Milan em 1963 ante o Benfica foi na altura o mote para o Inter construir uma equipa de pergaminhos históricos, conta a O JOGO o septuagenário. Os nerazzurri conseguiriam bater o Real Madrid em 1964 e o Benfica em 1965. Esse embate, que podia valer o terceiro título europeu ao Benfica, foi o afirmar do Inter como uma das potências da década. Mourinho daria a terceira Liga dos Campeões, em 2010, projetando os nerazzurri acima do Benfica.