ENTREVISTA (parte 1) - José Tavares: coordenador da formação do FC Porto fala de uma reestruturação que começou há dois anos. E coloca a Academia em prioridade.
Corpo do artigo
A vitória na Youth League e o título nacional de juniores A são a face visível e mediática do êxito da formação do FC Porto, mas são as chamadas dos jovens Tomás Esteves, Fábio Vieira, Romário Baró e Fábio Silva para integrar o plantel principal na pré-época que deixam realizado José Tavares, coordenador da formação dos dragões.
Mais do que conquistar títulos nacionais ou europeus nas camadas jovens, José Tavares lembra, em exclusivo a O JOGO, que o mais importante é servir a equipa principal
Que balanço faz desta época da formação do FC Porto?
- Foi um excelente ano. Desde que assumi estas funções, e este é já o terceiro ano, propusemos-mos a reestruturar algumas questões internas e a renovar algo que não estivesse tão bem. Ao fim deste tempo, e quando conseguimos algo inédito para o FC Porto e para o futebol português, como foi a conquista da Youth League, só podemos estar satisfeitos. Também adicionámos o título de campeões nacionais de juniores A, algo que não conseguíamos há algum tempo, mas fundamentalmente percebemos que a lógica do sucesso da formação é inquestionável e, ao mesmo tempo, pouco quantificável. O sucesso não pode ser só medido pelos jogadores que chegam à equipa A, pelos títulos alcançados ou pelos títulos que podíamos ter alcançado e não alcançámos. Relembro o título de sub-15 deste ano, que depois de uma campanha extraordinária de dois anos, desde os sub-14, não foi por 35 minutos em que as coisas não correram bem que passou a estar tudo mal. Há um sucesso invisível que dá frutos a longo prazo.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2019/06/jose_tavares_balanco1_20190624173712/hls/video.m3u8
Essa reestruturação significa o quê? O que mudou?
- A reestruturação que fizemos desde há dois anos para cá foi ligar o clube de cima a baixo, ou seja, neste momento o FC Porto não tem fronteiras internas: a ligação entre a equipa A e a formação é real. Os nossos treinadores e os nossos jogadores têm acesso a todos os departamentos de saúde, recuperação, psicologia e nutrição. Quisemos renovar a nossa cultura, fundamentalmente no futebol de formação, porque estávamos a perder uma ou outra questão importante. O FC Porto habituou-se a vencer desde que foi criado e um dos nossos lemas é formar e vencer. Todos os jogadores que estão cá têm de perceber esta cultura. Quando vencemos, perfeito, quando isso não acontece, temos de perceber o que não fizemos.
A dobradinha nos sub-19 é a face visível dessa reestruturação?
- O sucesso do FC Porto é fundamentalmente o sucesso da equipa A do clube. O departamento de formação é um dos núcleos mais importantes. O nosso presidente e a administração estão muito atentos à formação, o nosso diretor-geral, o eng.º Luís Gonçalves, é um dínamo muito potente para acrescentar valor à nossa formação, e quando a estrutura hierárquica dá imenso valor aos escalões de baixo, acrescentando isso à ligação com o Sérgio Conceição e com o Rui Barros, percebemos que o caminho vai dar frutos. Externamente, só as vitórias interessam, mas, para nós, é a promoção dos jogadores, o desenvolvimento do talento e o recrutamento de novos jogadores. A história de um jogador cá é interminável. Temos jogadores como o Diogo Dalot, por exemplo, que chegou cá muito novo e já saiu [para o Manchester United]. Ele deixou uma marca cá. Temos outros exemplos, como o Diogo Costa, o Diogo Leite e o Diogo Queirós, que fazem um percurso de anos cá e chegam à equipa A. Portanto, não é só o título, mas o desenvolvimento individual de cada um deles. Interessa é que a equipa A seja munida de talento.
A nova academia trará mais oportunidades e também maiores responsabilidades.
Acredita que vai haver um aproveitamento forte de jovens na equipa principal?
- Com toda a certeza. Já foram assumidos, pelo presidente e pelo Sérgio Conceição, os jogadores de 18 e 19 anos que vão iniciar a próxima época com a equipa principal. Vamos continuar a trabalhar para que outros se sigam. Aproveito para dizer aos nossos sócios que em todos os escalões temos jogadores com talento para chegarem aos patamares mais elevados do clube.
"Academia prioritária
para o crescimento"
Coordenador da formação do FC Porto, José Tavares está entusiasmado com a construção da academia do clube, que começará a ser uma realidade até final deste ano. Acredita, inclusive, que será um passo fundamental para o clube.
Qual é a importância da construção da academia do FC Porto e o que muda?
- A construção da nova academia é algo prioritário na atualidade para o clube, como já foi comunicado pelo presidente. Estamos a sofrer de dores de crescimento e, quando assim é, temos de escolher continuar a crescer, para continuar a corresponder no futuro às exigências do clube e do próprio fenómeno. A nossa operação diária por vezes é muito difícil, o que não nos impede de continuarmos a conquistar títulos relevantes e a desenvolver talento para que os jovens possam concretizar os seus sonhos no clube, no entanto passaremos a ter a oportunidade de dar mais conforto, espaço e melhores condições no dia a dia aos jogadores, ao staff e aos pais, usar recursos físicos e financeiros de forma mais eficiente e lançar projetos ambiciosos que já estão a ser preparados ou em fase embrionária.
11038863
O que muda entre ter a nova academia ou os jovens treinarem no Olival, na Constituição ou dormirem na Casa do Dragão?
- A nova academia trará mais oportunidades e também maiores responsabilidades. Como concentrará a operação diária, que é extremamente complexa, permitirá uma maior fluidez dos recursos humanos, que poderão estar dedicados com maior profundidade e discussão de todos os casos e sobre todos os assuntos. Com certeza, novos desafios se aproximarão, mas fundamentalmente todos poderão concentrar mais energia, conhecimento e consciência ao cerne do que nos une, que é desenvolver o talento que já temos.
Com capacidade para albergar os jovens que residem fora da área metropolitana do Porto, a nova academia vai alargar a captação de talentos. Isso é fundamental?
- A captação de talentos é fundamental em todo o processo no clube, de forma transversal e longitudinal. O trabalho do nosso departamento de scouting, liderado por uma das grandes referências do clube, o nosso Fernando Gomes, é essencial para o nosso crescimento qualitativo. Só poderemos desenvolver talento se esse talento existir. E quantos mais e melhores conseguirmos de forma equilibrada por gerações, mais aptos estaremos para cumprir o que nos propomos. Como falamos de uma atividade humana, o talento é algo que existe de forma diferenciada e para a qual não existe equação ainda, ou seja, é necessário talento para se desenvolver o talento. Estou a falar de jogadores, treinadores e restante staff interveniente no nosso modelo de desenvolvimento.