Coordenador da formação do FC Porto contesta propostas astronómicas aos 12 e 13 anos
ENTREVISTA (parte 2) - Os clubes portugueses têm colhido os frutos da aposta nos jovens e a Seleção também tem beneficiado. José Tavares garante, no entanto, que nem tudo está bem.
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O FC Porto é um clube formador e o mesmo acontece com o país. O futuro do futebol português está assegurado?
- Vivemos em Portugal um momento muito interessante para o futebol português e para o futebol de formação. É um momento interessante porque parece que muitas coisas estão a correr bem, e cada vez temos mais jogadores com mais talento, temos jogadores portugueses no topo do mundo, a nossa seleção principal voltou a ganhar títulos, o FC Porto está sempre a discutir os lugares cimeiros da Liga dos Campeões, mas a formação requer bastantes cuidados a longo prazo. Para mim, é preocupante perceber que há um clube da capital que tem uma aposta desmedida e uma aposta cega na formação.
José Tavares alerta a Federação Portuguesa de Futebol para aquilo que considera os erros que estão a ser cometidos fruto dessas propostas chorudas a jovens e às suas famílias
O que quer dizer com isso?
- Quando se oferecem valores de três dígitos às famílias de jogadores de 12, 13 anos como prémio de assinatura, a este nível são ofertas pornográficas. É preocupante saber que tipo de jogadores vamos ter daqui a 10, 12, 15 anos e que tipo de valores os jogadores vão começar a ter, isto quando se perde a essência do jogo. É preocupante quando começam a adulterar os princípios pelos quais se devem reger. Parece que não há respeito e não há ética só porque alguém acha que tem de ter os melhores.
O que pode ser feito para alterar este panorama?
- Quem quiser refletir sobre a formação, não a curto prazo, mas a médio e a longo prazo, tem de se dedicar a isto, nomeadamente as instituições que regulam o universo da formação em Portugal, porque podemos estar a cometer erros muito graves fruto desta pornografia financeira para jogadores com 12, 13 anos e para famílias, algo que pode não correr muito bem.
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Está a falar concretamente do Benfica?
- Estou a falar de um clube da capital que dizem que tem uma aposta cega na formação e que oferece quantias astronómicas e pornográficas a jogadores de 12, e 13 anos do FC Porto e de outros clubes.
Tem-se falado muito da Academia do Seixal e, antes, de Alcochete. Sente que a formação do FC Porto tem sido pouco valorizada?
- O FC Porto tem um caminho, independente dos nossos adversários. Acreditamos no que fazemos, nas nossas propostas de jogo, no talento que temos e na nossa cultura. O FC Porto tem uma cultura única no mundo. Não queremos ter sucesso na formação, ganhar um título ou ganhar um jogador. Queremos que a equipa A tenha sucesso.
É importante que os escalões de formação tenham um sistema igual ao da equipa A?
- Quando digo que ligámos o clube de cima abaixo também tem a ver com essa questão. Reestruturámos o nosso modelo de jogo de forma a tirar o melhor dos nossos jogadores. Ao mesmo tempo percebemos que os supra princípios que nos regem cá e têm a ver com uma atitude competitiva máxima, com o olhar para a baliza adversária na procura contínua do golo e com o entrar em jogo do primeiro ao último segundo, dando o máximo pelo clube a alcançar sucesso são os princípios que a equipa A tem dentro do campo. Queremos que os jovens jogadores tenham esta cultura, com máxima exigência e superação contínua. Isso é adequado a qualquer modelo de jogo e queremos que seja semelhante à equipa A. O modelo de base é semelhante.