O árbitro de Setúbal revelou à J porque voltou em 2015 ao lote de melhores árbitros nacionais. O segredo, segundo disse, está no trabalho extra de preparação física que começou a fazer, há cerca de ano e meio, com o personal trainer Samuel Castela. Fomos acompanhar um treino e contamos-lhe como foi, passo a passo. O leitor pode experimentar, mas atenção: é para duros!!
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Bruno Paixão não tem sombra de dúvidas: se voltou ao top 10 dos melhores árbitros nacionais em 2014/15, com um 6.º lugar, tal deveu-se ao treino suplementar que começou a fazer, há cerca de
ano e meio, duas a três vezes por semana, com a orientação de um personal trainer (PT). O juiz de Setúbal, atualmente com 41 anos de idade, fora 20.º classificado do ranking nacional em 2013/14, depois de algumas épocas menos positivas, que o levaram inclusive à perda das insígnias da UEFA.
"Pareço mesmo um balofo." Bruno Paixão recorda as suas palavras no verão de 2014, quando, enquanto se olhava ao espelho, após uma avaliação inicial, num ginásio de uma grande cadeia de health clubs, o personal trainer (PT) lhe disse que precisava de perder massa gorda e lhe sugeriu uma mudança de treino.
Dentro da estrutura de arbitragem, os juízes fazem em conjunto quatro treinos por semana, dois deles de presença obrigatória. "Eu tenho de trabalhar muito mais do que os meus colegas. Se eles treinam cinco horas, eu tenho de treinar 10 para o mesmo efeito", justifica Bruno Paixão, à reportagem da J, em pleno Parque Desportivo do Jamor, antes de iniciar mais uma sessão sob a orientação de Samuel Castela, o tal PT que, cerca de ano e meio antes, o avaliara fisicamente.
"Costumava treinar no ginásio um pouco por minha auto-recriação e não rentabilizava aquilo ao máximo. Decidi, então, investir, a título particular, e com parte do dinheiro do subsídio de treino, num trabalho complementar. Não tenho dúvidas de que foi a condição física que fez a diferença na minha prestação durante a última época", acrescenta o árbitro de Setúbal, que pretende "continuar a apitar enquanto entrar em campo com a mesma motivação de há 26 anos".
Bruno Paixão foi o árbitro mais jovem a estrear-se na I Divisão, aos 23 anos de idade, e é o que, estando ainda em atividade, tem mais jogos no principal escalão do futebol nacional, podendo-o fazer ainda até aos 45 anos, idade legal permitida.
"HÁ UM ANO, NADA DO QUE FAÇO HOJE ERA POSSÍVEL"
"O objetivo era fazê-lo perder massa gorda e torná-lo mais forte e ágil", conta Samuel Castela, enquanto o árbitro começa a correr em redor de um dos relvados sintéticos do complexo desportivo. "Se ele tiver uma condição física de excelência, vai ter também mais capacidade de oxigenação e resistência durante o esforço, para além de força, flexibilidade, potência, equilíbrio e estabilidade", diz ainda o instrutor, que foi atleta e treinador de trampolins durante mais de uma década, ao serviço do Sporting e da Seleção Nacional; e agora, por influência de Bruno Paixão, tornou-se também árbitro de futebol.
Foi numa quinta-feira de manhã que acompanhámos o treino de Bruno Paixão, com um jogo da I Liga marcado para daí a dois dias, no sábado à noite. "Hoje faz treino de força e resistência, com exercícios que envolvem o corpo todo. Amanhã pode fazer jogging de baixa intensidade", esclarece o PT, frisando que este trabalho, definido por ele, é complementar ao
que o árbitro já faz quatro vezes por semana, ao final da tarde, com os restantes juízes de futebol e o qual inclui, naturalmente, uma parte mais técnica, com simulação de situações de jogo.
Depois de alguns minutos de corrida, Bruno Paixão prossegue o aquecimento: três vezes um minuto de saltos à corda e um minuto de um exercício chamado "bear crawl" - gatinhar à urso, na tradução livre. Com o árbitro já a suar, vamos para junto da zona de escalada do Estádio Nacional, onde existe algum equipamento útil para o treino de crossfit, que alterna exercícios aeróbicos e de força, através do levantamento de pesos e/ou o uso do peso do próprio corpo.
"Há um ano, nada do que faço hoje era possível", afirma o juiz, que, com tendência para engordar, introduziu também mudanças na sua alimentação, adotando uma dieta mais próxima da paleolítica, centrada numa maior ingestão de proteínas (ovos, carnes e peixe frescos), legumes, frutas frescas e sementes, bem como numa redução da ingestão de alimentos processados e/ou refinados. "Antes do treino como uma banana e antes dos jogos um bocado de marmelada", diz o árbitro e engenheiro de produção industrial, antes de iniciar a parte principal do treino. Quem quer fazer?
Vamos treinar com Bruno Paixão (galeria)
http://www.ojogo.pt/multimedia/fotografias.aspx?content_id=5011121