FORA DE JOGO - Entrevista a Cristiana Freitas
Corpo do artigo
Cristiana Freitas é uma pivô de televisão que entrou para a história por ter sido ela a inaugurar as emissões da NTV. Natural de Santo Tirso, espanta pela simpatia, por uns bonitos olhos azuis e pela qualidade profissional.
Ora, tu és de Santo Tirso e moras lá. Vou concluir que gostas muito de jesuítas...
-Gosto, e ainda bem, caso contrário, teria um problema! Não me falam noutra coisa, sempre que digo que moro em Santo Tirso, essa afirmação é acompanhada da pergunta: "Quando trazes jesuítas?"
A tua filha, quando te vê na televisão, diz que tu estás bonita ou nem passa cartão?
- Não passa cartão, quase não vê televisão!, mas quando lhe peço uma opinião sobre a imagem, é muito sincera e muito crítica! Não é nada meiga! Mas é melhor assim, prefiro que me digam a verdade. Perguntar e saber, à partida, que a resposta vai ser simpática, sabe bem, mas não tem interesse.
Os teus olhos azuis já te causaram muitas chatices?
-Já, muitas vezes! Os olhos azuis são muito sensíveis. Ficam vermelhos com muita frequência, principalmente no estúdio, por causa do ar condicionado, o que em nada favorece a imagem.
Foste a pivô que abriu as emissões da NTV. Isso deu-te um estatuto diferente, passaste a ganhar um ordenado de jogador de futebol?
-Existe essa ideia, a de que os pivôs de televisão têm ordenados milionários. Mas desangane-se quem compara os jornalistas aos jogadores de futebol. É verdade que há ordenados acima da média na televisão, e generosos, mas essa não é a realidade da generalidade dos jornalistas.
E entre os teus colegas, houve muitas invejas por teres sido tu a primeira?
-Se houve, não me apercebi! Estava demasiado focada nessa difícil missão de ser o rosto de abertura de um canal de televisão. A redação da NTV era um grupo muito unido e só senti boas energias. Numa analogia com o futebol, posso dizer que estavam todos empenhados em fazer uma boa assistência para que eu pudesse marcar golo.
Estavas muito nervosa no dia da emissão ou tiveste uma sensação tipo borboletas na barriga?
-Sim, bastante nervosa, mas menos do que estaria se fosse hoje. A ingenuidade, na altura, serviu para me dar tranquilidade.
E hoje ainda ficas com um nervoso miudinho quando vais par o ar?
-Sem dúvida! Acho que o genérico dos jornais tem esse efeito, mas o nervoso miudinho vai passando com o decorrer do jornal.
Qual foi a gafe que te deixou muito aborrecida?
-Não me lembro de ter cometido uma gafe, e se cometi, não me marcou! Não gosto quando não digo corretamente o nome ou o cargo de um convidado, é sempre constrangedor.
A RTP sempre foi a tua casa. Nunca foste tentada a sair do canal? Sentes-te bem aí?
-Sim, sinto-me bem na RTP. Identifico-me com as opções editoriais e com o jornalismo que se pratica na estação pública. E tenho amigos no local de trabalho, alguns acompanham-se desde sempre! Mas como referiste, a RTP sempre foi a minha casa, não experimentei outra, e quem não prova, não sabe se gosta.
Achas que a RTP é o canal mais sóbrio de todos os que temos?
-Penso que sim, é reconhecida essa sobriedade. Para além disso, e mais importante, a RTP tem sido destacada como marca de confiança. Os portugueses confiam na informação.
Porque é que vocês atiram as notícias de desporto para o fim do jornal, a não ser quando há borrasca num jogo de futebol, por exemplo, ou quando somos campeões de qualquer coisa?
-Essa é prática habitual, mas os resultados de alguns jogos de futebol também são, por vezes, notícia de abertura dos jornais. Claro que as conquistas de títulos são, e bem, mais evidenciadas, mas, no geral, o futebol tem grande destaque. Os conflitos, dentro e fora de campo, dependendo da dimensão, é verdade, também são destacados, nesse caso com a perspetiva de denunciar a violência.
Nunca te apeteceu mandar um convidado apanhar gambozinos?
-Já pensei em muita coisa, mas nunca me lembrei de gambozinos durante uma entevista!
Qual foi a notícia que mais prazer te deu dar aos telespectadores?
Fico feliz por dar qualquer notícia que seja positiva! Infelizmente, são mais destacados os aspetos negativos da nossa realidade.
E o momento mais triste?
-A tragédia em Pedrógão Grande foi um momento muito triste, com tantas mortes em Portugal e nas circunstâncias em que ocorreram. Também me entristecem notícias que espelham o sofrimento das crianças.
És capaz de dar um palpite sobre quem vai ser o campeão este ano?
-Nem me atrevo a dar semelhante palpite! É muito arriscado! Primeiro, porque nada pode ser dado como certo no futebol, e como os treinadores gostam muito de dizer, enquanto matematicamente for possível, tudo pode acontecer. Segundo, e mais importante, não há nada que mexa tanto com as emoções como o futebol! Até a antecipação de um cenário pode provocar as piores sensações! Não quero ser responsável por isso!
És uma pessoa feliz?
-Sim, sou feliz. Vivo com simplicidade as coisas simples do dia-a-dia, e, cada vez mais, isso me traz felicidade.