"Quando o Vizela subiu à Liga de Honra, o meu filho invadiu o campo em tronco nu"
FORA DE JOGO - A segurança nas palavras, uma excelente dicção, um sorriso que cativa, fazem da jornalista Sandra Fernandes Pereira uma das melhores pivôs nacionais. É a RTP que a tem desde sempre, normalmente acompanha-nos à hora de almoço no Jornal da Tarde. É de Vizela e do Vizela, "com muito orgulho".
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Foi esta profissão que imaginaste para a tua vida ou quando brincavas com as Barbies tinhas outras ideias?
Nunca tive uma Barbie. Ainda vou a tempo? (risos) Mas tive outras bonecas e pensava em profissões como veterinária, advogada, astronauta. Até entrar para a universidade, achei que iria ser professora.
Começaste num projeto novo em televisão a norte, a NTV, mais tarde RTP N. Foi uma escola de vida para ti?
Foi, sobretudo na perspetiva de começar algo de novo com gente nova, cheia de vontade de fazer coisas. Mas não posso ignorar o que aprendi antes disso também na rádio.
Quando é que sentiste que tinhas "um jeitinho" para fazer o que fazes?
(Risos) Não sei bem que "jeitinho" é esse. Prefiro sempre pensar que o mérito vence a genética. Foi-me dada uma oportunidade e eu agarrei-a e tentei aprender o máximo possível. É um ofício para se ir aprendendo, mesmo que já tenham passado quase 20 anos. No início era muito nervosa, falava depressa de mais, sempre a correr... Sei que, às vezes, ainda o faço. Acima de tudo, sei que a responsabilidade é muito grande, se eu falhar, é a minha "casa" que fica em causa, todos os meus colegas que trabalharam muito para produzir peças e reportagens e os que estão na régie e no estúdio muitas horas.
A tua casa sempre foi a RTP. Nunca foste tentada a mudar de canal?
Nunca se proporcionou, acho que nunca pensei muito nisso.
Gostavas de trabalhar num canal onde a informação fosse mais agressiva, estilo, sei lá, CMTV?
A informação não é agressiva, nem suave, são factos contados sob diferentes perspetivas, confirmados, investigados. O registo, esse, é que pode ser mais ou menos agressivo. Não é o meu.
O teu filho, Francisco, é crítico do teu trabalho ou pura e simplesmente desliga a televisão sempre que tu apareces?
Não liga. Quando nasceu, eu já fazia o que faço hoje. Para ele, é uma profissão como outra qualquer.
És nascida em Vizela, moras em Vizela... Dá-me lá uma boa razão, ou uma série delas..., para eu pegar nas minhas trouxas e mudar-me para a tua terra.
O sossego, a segurança, os espaços verdes, as escolas, os espaços desportivos, o pão da manhã pendurado na porta das casas, conhecer as pessoas pelas alcunhas das famílias e, o mais importante, a minha família.
E gostas do Vizela clube, que está agora entre os grandes do nosso futebol, ou passa-te ao lado?
Claro que gosto! A última excursão que fiz de autocarro foi em 2016, quando o Vizela venceu o Anadia e subiu à Liga de Honra (as coisas que faço pelo meu filho). Na altura, levei uma mala térmica com panados e tudo! E o miúdo invadiu o campo em tronco nu no final, felicíssimo. Ver agora o Vizela, um clube de uma cidade tão pequena, na I Liga é um orgulho imenso.
Achas que o Vizela se vai aguentar na I Liga?
Eu espero que sim, vai ter jogos difíceis, mas é uma equipa com bons jogadores, com um excelente treinador. Admiro muito o Álvaro Pacheco, é um homem educado, com um discurso de cavalheiro.
Por que é que os blocos de desporto nos telejornais são sempre atirados para o fim, salvo honrosas exceções? É porque é uma coisa menor dentro do nosso quotidiano?
E na imprensa generalista? E nos noticiários de rádio? Os blocos de desporto ou os blocos de futebol? É uma reflexão que todos nós devemos fazer. Não vejo tanto tempo de antena dedicado a outros temas ou a outras modalidades como vejo ao futebol em diferentes programas televisivos. De resto, no topo dos noticiários, defendo que devam estar as notícias que influenciam mais a vida do maior número de pessoas. Atenção: eu gosto de futebol.
Qual foi a notícia mais triste que deste até hoje?
Aquilo que para mim é triste pode não ser para quem nos está a ler neste momento. É tudo uma questão de perspetiva. Mas tudo o que afete a saúde das pessoas, os direitos humanos ou a democracia, para mim, é triste. Talvez as notícias sobre a solidão sejam as que mais mexem comigo.
E aquela que mais prazer te deu?
Uma pessoa anda nesta vida há tantos anos, que tudo o que idealizamos como prazenteiro se torna quase utópico. É uma boa forma de fugir à questão, não?
Ficas nervosa antes de entrar no ar?
Não. Mas, vendo bem, eu sou uma pessoa nervosa (risos).
És uma pessoa feliz?
Faço por isso.