FORA DE JOGO - Uma voz inconfundível da rádio portuguesa, um estilo peculiar de relatar o futebol, uma generosidade imensa no trabalho, um grande camarada de profissão. É assim Pedro Azevedo, um poveiro de nascimento e do coração.
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Era capaz de te ouvir a fazer um relato em japonês e reconhecer a tua voz. Tens realmente uma voz inconfundível. Já te tinham dito isto?
-Sim. Confesso que a maioria das pessoas me abordam sobre a voz, mas se me aventurasse a fazer um relato em japonês ficariam com os olhos em bico... Tenho a noção que o timbre da voz é a minha identidade. E que o relatador desportivo deve ter um aparelho fonador que produza um bom som. É a nossa parte mecânica. Se o motor gripar, adeus ó vindima.
Quando é que percebeste que tinhas um jeitinho para fazer rádio?
- Foram os relatos que me provocaram a paixão pela rádio. Fazia relatos com oito anos de idade com os cromos da coleção Caricaturas de Portugal. As balizas eram caixas de sapatos e a bola era feita com a prata das tabletes de chocolate.
Como é que entraste nesta vida?
- Ofereci-me para fazer os relatos do Varzim numa rádio local da Póvoa, em 1985. No início de 1988, um jornalista amigo indicou o meu nome à TSF, que estava a começar, difundido apenas para Lisboa. Ainda fiz meia dúzia de relatos na TSF, dos jogos dos grandes no norte, até receber um telefonema do Ribeiro Cristóvão a convidar-me para a Renascença. Seguiram-se perto de 2100 relatos de futebol na RR, dos quais destaco as narrações de cinco Mundiais, cinco Europeus e três finais europeias de clubes.
Quem foi ou é a tua grande referência?
-Ribeiro Cristóvão. O melhor e mais completo jornalista de desporto no meio audiovisual que conheci. Devo-lhe a minha carreira.
A Rádio Renascença é a tua casa há muito tempo. Nunca foste assediado para sair para outra rádio? Se sim, por que é que não saíste?
- Tive convites, dois deles mais vantajosos financeiramente, mas nunca troquei porque me senti sempre muito bem na Renascença e sobretudo porque continuo a considerar que a gratidão é o bem imaterial mais valioso.
Tiveste já grandes momentos na tua carreira. Qual foi que maior prazer te deu relatar?
- A final do Europeu de futebol de 2016. Fiquei afónico no fim da transmissão tal o entusiasmo daquele momento. Foi indescritível e único, até porque não acredito que Portugal volte a ganhar um Europeu... Mas Deus queira que o futuro contrarie e minha premonição!
Vocês na Bola Branca às vezes surripiam notícias aos jornais. É verdade?
- Já apresentei mais de 20 mil edições de Bola Branca. Nem sei se será um recorde mundial no número de apresentações de um programa de rádio (risos)... Quando cheguei à RR o programa estava no ar há oito anos, no próximo mês completa 42. Acho que tenho legitimidade para responder a essa pergunta muito provocadora (risos)... A Bola Branca é o programa de rádio mais citado pela imprensa escrita o que por si só comprova as inúmeras notícias que avançamos e as entrevistas distintivas que apresentamos. Também destacamos as notícias dos jornais, citando a fonte. E o jornal O JOGO está contido nesses bons exemplos.
Não achas que a Bola Branca devia ter mais espaço noticioso?
- O segredo editorial da Bola Branca passa por aí. Muitas notícias em pouco tempo... As edições de Bola Branca têm diferentes formatos ao longo do dia, mas a mesma marca de confiança. Penso que não será uma descortesia para ninguém, mesmo para as rádios concorrentes, considerar consensual a ideia de a Bola Branca ser uma marca distintiva na informação desportiva radiofónica em Portugal.
Confessa: já deste uma calinada daquelas que te apeteceu partir tudo em casa...
- Confesso que já dormi mal várias vezes por calinadas que não deveriam acontecer. O som é imutável e um erro em antena é irreparável mesmo que emendado em tempo útil...
Nasceste na Póvoa de Varzim. Nunca te apeteceu relatar um golo do Varzim com maior emoção do que todos os outros?
- Nasci na Póvoa e nunca tive qualquer pudor em assumir o meu varzinismo porque antes de ser jornalista já era adepto e sócio do Varzim. Joguei nos escalões jovens do clube e recebi o troféu Lobo do Mar, em 2016, na gala do centenário. A regra que estabeleci e nunca incumpri foi a de não ter qualquer tipo de ingerência ou colaboração com o Varzim (nem com qualquer outro clube) desde o dia em que me tornei jornalista profissional. Não relato o Varzim na rádio há muitos anos porque o clube não tem andado no escalão principal. Mas quando relatar um golo garanto a mesma intensidade dos golos de todos os clubes, com a imparcialidade que esta profissão exige.
Consegues abstrair-te das emoções quando estás a relatar um jogo do Varzim?
- Em consciência sim. Mas prefiro que sejam os ouvintes a responder...
Gostaste daquele Belenenses-Benfica da penúltima jornada?
- Detestei. Foi um gigantesco atentado à integridade da competição. Um ato de irresponsabilidade inaceitável.
Quem achas que vai ser campeão?
Respondo a essa questão no dia 1 de fevereiro, depois de fechar o mercado de inverno. Há clubes que podem ficar mais fragilizados com a necessidade de vender ou com a chegada de propostas irrecusáveis por jogadores importantes. Até ao fim do mercado de inverno coloco Sporting, FC Porto e Benfica em pé de igualdade.
És uma pessoa feliz?
- Regozijo-me por ser católico e cristão. Tenho uma família excelente e bons amigos. Na minha vida profissional faço o que gosto e gosto do que faço. Claro que sou feliz!