FORA DE JOGO - Começou no desporto, onde ganhou nome, e alargou os horizontes do jornalismo, ao ponto de hoje ser uma reconhecida jornalista da SIC. É de Alcobaça, tem clube, mas não diz qual, e é senhora de uma enorme simpatia. Eis Rosa de Oliveira Pinto.
Corpo do artigo
Como é que uma jovem sai de Alcobaça - bem, ninguém é de Alcobaça... - e vai para Lisboa à procura de novos horizontes?
-Foi um desafio e tanto. Claro que é! A cidade é tão bonita que até mereceria que mais gente vivesse nela. Alcobaça não é só o Mosteiro, que é lindíssimo. É uma cidade que tem uma localização muito central, tem praias maravilhosas, que, felizmente!, são pouco conhecidas. Tem campo, tem ótima gastronomia e uma série de eventos culturais que tornam a cidade muito especial. É uma terrinha com muito charme. Já estás arrependido de me ter dito que ninguém era de Alcobaça? No entanto, para continuar a estudar, tens de sair. Foi o meu caso.
Foi difícil a tua integração numa cidade que é um bocadinho maior do que Alcobaça?
-Nada difícil. Sempre vivi entre três cidades: Alcobaça, Porto, de onde o meu pai é natural, e Lisboa, onde vive a família materna. A integração e a adaptação foram imediatas, até porque já conhecia muito bem a cidade. E depois tive muita sorte porque assim que cheguei à universidade fiz logo amigos, que ainda hoje são das pessoas mais importantes da minha vida. É uma história feliz.
O teu último ano de formação académica foi em Salamanca. Fizeste muitas avarias nas noites de Salamanca?
-Foi o penúltimo ano ao abrigo do programa Erasmus. Diria que fiz aquilo que se espera duma miúda de 21 anos, numa cidade de estudantes e com muita mas muita vida. Foi um ano particularmente intenso, no entanto, porque foi essa a condição que a minha mãe me impôs, não deixei cadeiras por fazer e até tive boas notas.
Para se fazer televisão é preciso ter um sorriso bonito, como o teu. É verdade (o sorriso é...)?
-Será? Acho que são precisos vários predicados, tal como na rádio e na imprensa. Acima de tudo é necessário não ter medo das câmaras, ter uma dose de descontração e gostar de ouvir, mais do que falar. Isto é muito importante, acho que faz toda a diferença. Eu costumo dizer que nunca aprendo nada comigo a falar. E depois tens de ter uma imagem aceitável, uma voz equilibrada e boa dicção. Também dá jeito ter nervos de aço.
Entraste no jornalismo através do desporto, um universo "muito de homens" - felizmente está a mudar... . Foi o que sempre quiseste?
-Nunca quis ser jornalista, foi acontecendo. Eu queria ser juíza, mas a determinada altura percebi que me faltavam aptidões para seguir Direito e não me enganei. Hoje, curiosamente, teria dificuldade em ser outra coisa que não jornalista, até pelas oportunidades que me tem dado. Quanto ao desporto, surgiu naturalmente, porque sempre gostei de várias modalidades. Passava horas a ver as emissões de desporto da RTP2 e o Domingo Desportivo. Eu já sou bastante antiga!
Gostas muito de futebol, já se percebeu. Tens algum clube favorito ou, por decência ética, não me vais dizer qual é?
-Adoro futebol, mas já gostei mais. Aos meus olhos, perdeu alguma magia...e digo isto com mágoa. Tenho um clube de futebol preferido, mas acho que em Portugal ainda não estamos numa fase em que os jornalistas possam dizer qual é o seu clube. Eu já fui acusada de ser de três clubes diferentes. O adepto de futebol vê o que quer ver e não vale a pena tentar convencer ninguém do contrário. Partir do pressuposto que nós, jornalistas, somos uns vendidos e que trabalhamos em função dos interesses dos clubes, diz mais sobre quem pensa assim do que sobre nós. É lamentável.
Tens acompanhado o campeonato de futebol? Já me consegues dizer quem vai ser o campeão?
-Acompanho, sim. Tenho o meu palpite. Há uma equipa que está a jogar melhor do que as outras, mas sabemos que, até ao fim, muita coisa pode mudar, sobretudo com a reabertura do mercado em janeiro. Eu diria que o Sporting vai voltar a ganhar o campeonato.
Está mais emotivo e competitivo o campeonato. Concordas?
-Não concordo. O FC Porto, o Sporting e o Benfica estão de facto muito próximos na classificação, mas ainda há uma grande diferença para as restantes equipas. É um campeonato desigual.
O teu universo jornalístico alargou-se, entretanto. Hoje tratas por tu os temas sociais e políticos. Gostas mais do que do jornalismo desportivo?
-Foi uma evolução natural. Eu sou bastante eclética e senti que precisava de novos desafios. Já estava demasiado confortável a fazer jornalismo desportivo e isso não é benéfico.
Estás confortável na SIC, aparentas, é verdade. Já foste tentada a mudar de "clube"?
-A SIC é o melhor clube para se jogar. A liberdade que nos dão é extraordinária e merece ser louvada, sobretudo nestes tempos coléricos e polarizados. Já fui tentada, mas nada superou o projeto em que me encontro.
A SIC consegue ser sóbria e agressiva ao mesmo tempo. Revês-te neste tipo de jornalismo?
-Complemente. É uma informação equilibrada, plural, confiável e séria.
Trabalhamos muito para estar à altura das nossas responsabilidades.
Gostas muito de ler. Aconselha lá um livro aos nossos leitores...
-Isso não é uma audácia da minha parte? Que difícil...Eu leio muito e talvez por isso não tenha um livro preferido, tenho muitos. Vou aconselhar o último que me deixou completamente viciada, ao ponto de sofrer quando cheguei ao fim. Adorei a "Pátria" do Fernando Aramburu. É passado no País Basco, nos tempos da ETA. É um retrato sublime.
És uma pessoa feliz?
-Sou.