Carlos Daniel: "Se tivesse de apostar, diria que o FC Porto é o candidato mais forte"
FORA DE JOGO - Entrevista a Carlos Daniel
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Começou na rádio em Paredes, terra natal, e foi na Antena Um e na TSF que passou a ser reconhecido como um excelente relatador. Formado em Sociologia, deu um salto para a televisão. Carlos Daniel é um dos rostos mais importantes da RTP, admirado por muitos. E um grande companheiro.
Dá-te alguma saudade dos tempos da rádio, onde começaste?
Muitas, sempre. De tanto que vivi, dos lugares onde comecei e sobretudo das pessoas que me acompanharam nesses tempos e que me ajudaram muito. Destaco o Manuel Costa Monteiro e depois o Óscar Coelho, os meus primeiros "chefes", sem os quais não teria tido as oportunidades que tive depois.
Criaste um estilo inconfundível, que foi mais marcante na TSF. Tens orgulho do que fizeste na rádio?
Não posso negar, até porque foi um tempo profissional muito marcante para mim. E chega a emocionar-me o facto de tanto tempo depois (deixei de fazer relatos em 1997) ainda haver tanta gente que me fala disso.
Começaste por ser visto como um "jornalista de desporto", mas de repente começas a falar de tudo. Como é que foi isso?
Na rádio, em particular nos primeiros tempos (ainda na Rádio Paredes, antes da legalização), fui fazendo um pouco de tudo. Depois é já na RTP a primeira solicitação para fazer outras coisas. Começou por ser a apresentação do programa da manhã em 1993, de onde transitei para o Jornal da Tarde alguns meses depois, foi tudo muito rápido.
Estiveste muito pouco tempo na SIC. O que aconteceu, zangaste-te com o Balsemão ou não te deste com os cenários?
Nada disso, fui muito feliz e muito bem tratado. Guardo da SIC e das pessoas da SIC memórias ótimas. Sucedeu apenas que a RTP me convidou para voltar e liderar a informação a norte e eu não consegui resistir ao apelo de regressar ao Porto, à proximidade da família e à casa profissional que era a minha e onde sentia que podia ajudar a uma renovação, geracional e de processos. Não duvido que valeu a pena, mas ainda hoje questiono se foi a melhor opção que tomei.
Em que papel é que te sentes melhor, no de um pivô de telejornal ou a conduzir um debate?
Sinto-me bem em ambos. O papel de pivô é talvez mais confortável, porque quando se vai para o ar está tudo estruturado, quase tudo escrito. Um debate como o "É ou não é?" é sempre uma incógnita do primeiro ao último minuto, por ser em direto, de improviso permanente e de colocar pessoas de perfis diversos, na maioria dos casos que nunca se encontraram num estúdio, a debater temas que são também diferentes todas as semanas.
Também gostas de mandar os teus palpites no desporto. Não tens medo que alguém diga, "olha este gajo acha que percebe de tudo"?
Já terão dito muitas vezes, não tenho dúvida, mas sei que no desporto, e no futebol em concreto, as minhas opiniões são respeitadas e consideradas, desde logo pela maioria dos profissionais, verdadeiramente ligados ao jogo. E eu sou cada vez mais um apaixonado que estuda o jogo, que procura debatê-lo a fundo e com distanciamento. Sou do jogo, não do que anda à volta, sou do bife e não da guarnição.
Nunca te apeteceu mandar às malvas um convidado de um programa por lá no íntimo achares que ele está a ser estúpido?
Estúpido talvez seja um termo demasiado forte, mas por estar a ser pouco concreto, evasivo nas respostas, repetitivo, isso já, seguramente muitas vezes.
A RTP é uma família para ti. Já foste tentado a sair muitas vezes, ou convidado?
Fui tentado mais vezes e por duas saí, a já citada para a SIC e, mais recentemente, para o canal 11. Em qualquer dos casos, e a despeito do carinho com que fui tratado nessas outras casas, acabei por regressar. E sim, foi sempre como voltar à família.
Faz lá o papel do Marques Mendes... Quem vai ganhar o campeonato de futebol?
Se tivesse de apostar hoje, diria que o Futebol Clube do Porto é o candidato mais forte, pelo rendimento que tem tido e pela maior profundidade de plantel que apresenta este ano. Mesmo assim, não me surpreende nada se vier a ganhar outro dos grandes e acredito mesmo numa decisão mais perto do fim.
Ficaste muito irritado com a derrota da Seleção ou já esperavas?
Irritado não digo, mas desiludido sim, sem dúvida. Não digo que esperava mas temia, que a Seleção não deu ainda o salto de qualidade para aproveitar melhor o talento disponível, em linha com o que o próprio Fernando Santos admitiu.
És uma pessoa feliz?
Tanto quanto se pode dizer isso, sim, sobretudo porque tenho uma família que adoro e alguns amigos de verdade que nunca falham. Além de que sou mais de valorizar o que tenho do que o que me falta, de olhar para o futuro que de lamentar o passado. Apeteceu-me escrever um livro de futebol e fi-lo. Se tenho a oportunidade de uma viagem não protelo, gosto de cantar e entrei na aventura da Tertúlia dos 40 (com o João Ricardo Pateiro e o Filipe Fonseca); sou de festas e jantares de amigos o mais possível. Aprendi, em definitivo, que na vida não devemos adiar o que verdadeiramente nos faz felizes.