"Acho que o FC Porto vai ser campeão, tem grandes jogadores e um treinador que é o anjo da guarda"
FORA DE JOGO - Entrevista a Júlio Magalhães
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Júlio Magalhães vai ser um dos rostos da CNN Portugal, que arranca na próxima semana, com a chancela TVI. Lá volta o jornalista a Lisboa, mas o coração continua no Porto e, claro, no FC Porto!
O que é que ainda resta daquele rapazinho esguio que um dia entrou na redação de O Comércio do Porto?
-Desse tempo já nem o esguio sobra. Passaram 30 quilos mais, ficou apenas a memória da minha primeira redação, os meus primeiros companheiros de trabalho, de longas noites à espera que o jornal saísse da rotativa. Essas memórias e esses momentos únicos já ninguém me tira.
Alguma vez te passou pela cabeça que ias ter uma grande carreira na TV?
-Nunca me passou pela cabeça. O meu sonho era o jornal. Ali comecei e ali pensei que ia ficar o resto da vida. Ainda hoje considero que é nos jornais que se faz melhor e mais completo jornalismo. A televisão foi um mero acaso onde comecei a colaborar só para fazer uns jogos para o Domingo Desportivo. Não sobra nenhuma percentagem para ninguém. Ou seja, tudo o que fiz foi à minha custa, sem cunhas, sem me dobrar a ninguém nem levar a pasta a quem quer que seja. E sem passar por cima de ninguém. Isso é o que me deixa mesmo orgulhoso.
Não renegas o teu passado na rádio?
-Claro que não. Fui um dos fundadores da Rádio Nova, foi uma viagem extraordinária pois estávamos no tempo da legalização das rádios locais. Conheci muita gente que hoje está na televisão. Mas sinceramente, nessa altura, entre jornal, rádio e jornais, a rádio era para o que eu tinha menos jeito. Foram só dois anos de rádio em 1990. Mas a vida dá tantas voltas que hoje estou de novo na rádio. Trinta anos depois regressei, agora na Observador. E estou a gostar tanto!
O teu trabalho na TVI deu-te enorme notoriedade. Por que saíste?
-Porque já levava 12 anos de viagens entre o Porto e Lisboa, tinha atingido o ponto mais alto da minha carreira, em termos profissionais e sempre disse que a cidade do Porto devia ter uma televisão generalista. Há cerca de 20 canais de televisão em Lisboa e fora do país não havia nenhuma desse género. E esse foi o desafio que, na altura, Antero Henrique me lançou com a anuência da administração do FC Porto. Eu nunca fui para Lisboa. Eu ia e vinha. A minha família estava cá. Era um novo e grande desafio, era o regresso definitivo ao Porto e sempre defendi que não devemos estar eternamente num sítio sob pena de não evoluirmos. Este foi o caldo que me fez regressar e deixar a TVI nessa altura quando apresentava com o professor Marcelo Rebelo de Sousa aquele que era o jornal mais visto do país. Na vida devemos mudar, ter novos desafios e não olhar para trás ou para a visibilidade que temos ou deixamos de ter. Tenho sido muito feliz assim. Quando fui para a TVI o estúdio e as instalações eram absolutamente indignas. A minha ida obrigou a administração de então a dar dignidade às instalações e aos jornalistas do Porto. Quando fui para o Porto Canal, as instalações eram más de mais e até cenários caíam em direto. Depois da minha ida para o Porto Canal, hoje, as instalações são próprias de um canal de televisão. Pelo menos nisso dei algum contributo.
Estás arrependido de ter ido para o Porto Canal?
-Claro que não estou arrependido. Foram nove anos extraordinários. Conheci tanta gente boa e cheia de vontade de trabalhar e colaborar, ainda que fiquem sempre dois ou três pelo caminho e que deixem de fazer parte da nossa memória. Felizmente menos do que os dedos de uma mão. Tudo o resto foi magnífico.
Ainda ficas aborrecido quando o FC Porto perde?
-Acompanho o FC Porto desde os meus tempos de Angola, ou seja desde os cinco anos. A minha família era toda do FC Porto. Ouvíamos os relatos na rádio, lá não havia televisão, num tempo em que o Porto não ganhava campeonatos. Hoje tenho os anos suficientes e já vi o Porto ganhar tanto que uma derrota no clube já não é sinal de que a seguir temos várias derrotas e uma crise. Hoje uma derrota significa, três dias depois, outra grande vitória. Já não há tempo para ficarmos aborrecidos. Até porque não temos motivos para isso.
E achas que o FC Porto vai ser campeão nesta época?
-Acho que é a equipa mais forte e mais sólida. Mas os rivais também estão melhores. Mas sim, acho que o Porto vai mesmo ser campeão. Porque tem grandes jogadores e sobretudo um treinador que é o anjo da guarda do FC Porto e que dá sempre uma garantia. Ganhar, ou pelo menos discutir até ao fim e até ao último segundo a vitória.
Estás na Rádio Observador com prazer, eu sei, e agora surge a CNN Portugal...
-Como vês tenho tido sorte na vida. Mas acho sinceramente que a mereço, tenho o melhor de dois mundos. Estou na Rádio Observador, um projeto moderno, extraordinário, com gente de alta qualidade com quem tenho aprendido imenso e acumulo ali ainda mais amigos a juntar aos muitos que já fiz nesta longa caminhada. A par disso, e depois de tantos anos de carreira tive a honra de me convidarem para um projeto televisivo com a marca CNN, a maior e mais global marca do mundo da televisão. Um regresso à televisão, curiosamente a uma casa que conheço e onde fui muito feliz, a TVI, agora para dar um contributo para um novo projeto que estou certo vai ter um grande impacto e melhora a qualidade da boa informação que já se faz nas televisões em Portugal.
És feliz?
-A nível pessoal tenho tudo o que é necessário para ser feliz. A nível profissional, sou apenas um jornalista com uma carreira razoável, mas o que me faz mesmo feliz é não ter passado por cima de ninguém, nem me ter dobrado a nada para chegar até aqui.