FORA DE JOGO - Daniel Leitão é um jovem humorista, benfiquista desde que é gente, tendo escapado às tentativas do pai sportinguista para o virar. Voz da Rádio Renascença, colaborador da BTV, é casado com Joana Marques, humorista/portista. As conversas entre eles sobre futebol não são extremamente agradáveis...
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Onde é que estavas quando o Benfica perdeu 1-0 com o Portimonense no Estádio da Luz?
Antes do jogo começar estive no estádio a gravar o programa Benfica Fanzone, para a BTV, mas não pude ficar a ver o jogo. Fui acompanhar a Joana na Gala dos Globos de Ouro da SIC, porque ela estava nomeada. Foi um serão para esquecer: nem Globo, nem vitória do Benfica. Ainda não me perdoei por não ter estado no estádio a puxar pelo Benfica. Sinto-me um pouco responsável, porque acredito que comigo lá, tínhamos dado a volta ao marcador.
Pronto, era uma provocação... És benfiquista desde pequenino?
Sou benfiquista desde que me lembro de ser gente. Apesar de ter um pai sportinguista que tudo fez para que também eu fosse do Sporting, nunca vacilei. Já nasceu comigo... Os equipamentos vermelhos e brancos enchiam-me o olho e faziam-me sonhar com o dia em que eu próprio envergaria aquele equipamento. Ou um doutra cor, já que a minha envergadura fazia adivinhar, já na altura, que só poderia sonhar ir à baliza. Até os sonhos têm limites. A imponência dos 120 mil lugares do Estádio da Luz causava-me arrepios sempre que passávamos de carro em frente ao estádio. Chamem-lhe mania das grandezas, mas não havia como não gostar daquele clube.
Achas que o Benfica nesta época vai ganhar tudo o que há para ganhar em Portugal, ou seja, que vai finalmente arrasar?
O Benfica tem sempre que ganhar tudo o que há para ganhar, em todas as modalidades, seja em Portugal, seja na Europa. Para um clube como o Benfica, isso é o mínimo dos mínimos, não dá para pensar de outra forma. A época passada ficou muito aquém das expectativas, mas de uma forma geral, não só desportivamente, ninguém sabia o que esperar, num ano tão atípico.
Quando o Benfica perde reages mal, apetece-te partir a louça lá em casa?
Tento não extravasar, principalmente desde que temos miúdos. O máximo que já fiz foi sair simplesmente de casa após o apito final e ir dar uma volta a pé, para praguejar sozinho, longe de terceiros, e retomar a calma e a compostura. Ao final de uma hora, a minha mulher começou a colocar o cenário: será que ele vai voltar?
Tu e a Joana são dois humoristas jovens e com classe. Os vossos filhos têm tudo para serem humoristas no futuro. Querem isso para eles, por outras palavras, é muito difícil fazer humor?
Nós queremos que eles façam aquilo que os faça felizes, seja humor, seja cozinhar, seja mesmo fazer processamentos de salários num escritório de contabilidade. Se considerarmos que o objetivo do humor é fazer rir o maior número de pessoas, e não sendo uma ciência exata onde se possa aplicar uma fórmula, diria que sim, é difícil fazer humor. Não só fazê-lo como gerir e lidar com todas as reações que o nosso humor provoca em terceiros.
Vocês (tu e a Joana) riem-se do que um e outro escrevem e dizem? Ela pede-te opinião sobre os textos do Extremamente Desagradável, por exemplo?
Claro que nos rimos. Do outro e de nós próprios quando temos saídas menos "felizes". Algo está mal quando um humorista já não se consegue rir de si ou rir com os outros. Nós temos a vantagem de termos feedback logo em casa. No fundo, é um primeiro teste ao material que estamos a escrever. Somos muito críticos e exigentes um com o outro, até porque sabemos o que cada um de nós é capaz de fazer. Acabamos por pedir opinião um ao outro quando estamos a começar um novo projeto ou qualquer coisa do género. Nas coisas do dia a dia, acabamos mais por pedir a opinião em pormenores: "Diz-me aí nomes de pessoas que faziam novelas"... "esta piada, resulta melhor assim ou assado?"... "achas que aqui se percebe o que quero dizer?"
A rádio surgiu na tua vida quando? É o teu grande amor?
Quando era criança e enquanto a minha mãe preparava tudo para sairmos de casa para ir trabalhar e para a escola, o rádio estava sempre ligado, curiosamente na Rádio Renascença. Profissionalmente, a rádio apareceu na minha vida quando, por curiosidade, decidi, juntamente com a Joana, fazer um workshop de rádio num fim de semana. O formador era o Diogo Beja, que na altura fazia as Manhãs da 3, na Antena 3, e que acabou por nos convidar aos dois para integrar a equipa. No meu caso era uma rubrica semanal. Recentemente, acabou por surgir o convite da Renascença para fazer diariamente o Turno da Tarde. Agora não sei se posso dizer que a rádio é o meu grande amor... rádio, televisão e palco são coisas que gosto muito de fazer, e que têm atrativos completamente diferentes.
Estás a fazer o "Turno da Tarde" com a Filipa Galrão. Ela disse aqui na semana passada que tu és bom de aturar. E ela é boa de aturar?
A Filipa não se tem de aturar... convive-se. É uma excelente parceira de emissão. Aliás, o facto de ela dizer que eu sou bom de aturar já revela o quão boa colega ela é. Se fizerem essa mesma pergunta à Joana, creio que a resposta será bem diferente.
Tu e a Jona falam de futebol lá em casa ou só discutem?
É um misto... falamos muito de futebol, que invariavelmente acaba sempre em discussão. O que é parvo, porque jamais seremos da mesma opinião, pelo menos no que ao futebol português diz respeito. A nossa relação é consideravelmente mais pacífica quando o campeonato está parado.
És uma pessoa feliz?
Faço por isso todos os dias... mas é bem mais fácil quando o Benfica ganha.