FORA DE JOGO - O cantor e compositor Toy é o convidado desta semana. O amor pelo clube sadino foi o mote para uma conversa a não perder.
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Apresento-vos António Ferrão, Toy para os amigos, nome artístico adotado em 1988, quando começou a ser conhecido como um dos mais apreciados cantores portugueses. Um cantor de sucesso, um grande compositor, uma simpatia de pessoa, divertido, direto e sem papas na língua. Tem um amor terno e eterno ao V. Setúbal, o clube da terra que o viu nascer e do qual vai ser até morrer. Tirem a cerveja do congelador e vamos à conversa.
Cantaste pela primeira vez em público quando tinhas cinco anos. Ainda te lembras desse momento?
Lembro-me perfeitamente. O meu pai era músico amador, tocava nas coletividades. Eu, a minha irmã e a filha do baterista formámos um conjunto, o Trio União, e atuámos pela primeira vez em Águas de Moura, na Marateca, que, por coincidência, é onde hoje resido.
Quando é que percebeste que ias ter a carreira de sucesso que tens hoje?
Ter a certeza de uma coisa dessas é difícil, acho que ninguém consegue, mas tive sempre muita vontade de lutar por algo assim. Felizmente, concretizou-se.
Há muita inveja no mundo da música?
Há, no mundo da música como noutras atividades, mas eu consigo viver com esse vírus que é uma espécie de pandemia na nossa sociedade.
Criaste um estilo muito próprio. Há quem tente imitar-te?
É natural que a proximidade de vozes dê um ar de imitação. Basta cantar temas de outras vozes para haver essa ideia. É natural que haja quem tente imitar-me, porque canto bem, posso não fazer outras coisas muito bem, mas cantar sei que o faço, sem que isto seja um autoelogio. Se nos tentam imitar, se calhar é porque fazemos alguma coisa bem.
Ensinar o Ricardo Pereira a cantar, na novela da SIC "Amor Amor", deve ter sido um dos teus maiores desafios. Achas que conseguiste?
Quem é cantor, é cantor, ninguém aprende a cantar. Pode-se aperfeiçoar, e hoje há tecnologias que ajudam muito a que o efeito seja razoável. O Ricardo Pereira é um excelente profissional e foi um prazer trabalhar com ele.
Eras capaz de estar uma noite inteira a ouvi-lo?
Com uma mesa bem recheada, boa bebida, boa conversa e um bom grupo de amigos, acho que a coisa se compunha (risos).
Como é que foi viver o momento da descida de divisão do Vitória de Setúbal?
Foi muito triste, mas, sabes, quando, na última jornada, vencemos o Belenenses e ficámos a salvo, desceu o Portimonense. Fiquei desconfiado, achei que qualquer coisa não estava bem. Infelizmente, confirmou-se. As muitas situações que se tinham passado em anos anteriores faziam adivinhar que mais tarde ou mais cedo a desgraça ia acontecer. Não cumprimos com os pressupostos. Foi muito triste, sim.
O V. Setúbal é um histórico do futebol português, que tem muitos simpatizantes pelo país. Como é que se entende que haja em Setúbal quem não goste do Vitória?
Cada um tem a liberdade de apoiar quem quiser. Sendo de Setúbal o mais natural é que se acarinhe o clube da terra. Há quem não pense assim, paciência. Mas somos muitos e bons.
Nunca te apeteceu mudar de clube?
Nunca. Tirando os profissionais de futebol, acho que ninguém tem vontade de mudar de clube, eu tenho a certeza que vou ser sempre do Vitória de Setúbal
E para além do V. Setúbal, gostas de algum outro clube grande?
Não. Tenho muitos amigos no futebol e quero que eles tenham sucesso. Ainda hoje (n.d.r. quarta-feira passada) almocei com o Carvalhal de quem sou amigo como sou amigo do Sérgio Conceição, e de muitos outros... Tenho muitos amigos no futebol e quero que sejam felizes.
Qual foi a maior loucura que fizeste pelo V. Setúbal?
Foi ter ido a Roma ver o Vitória de Setúbal, em 1999. Levámos 7-0 e fomos muito gozados com isso, até pela comunicação social. Como nunca nos ficámos, em Setúbal ganhámos. Isto foi em setembro. Quem gozou connosco também não se pôde rir logo a seguir. Em novembro, o Benfica levou sete do Celta e nem sequer ganhou na segunda mão... Sim, mas foi uma loucura ter ido a Roma para ver um jogo de futebol.
A palavra Chega causa-te arrepios?
A palavra em si não... o que me causa arrepios é haver gente predisposta a esquecer o que foi uma luta difícil, dura e com custos de vidas pela liberdade de um povo. Custa-me que haja pessoas que se esqueçam ou não valorizem como foi o caminho até chegarmos a esse dia tão bonito que foi o 25 de Abril de 1974.
És uma pessoa feliz?
Sim, tenho os meus momentos, como toda a gente, mas fazendo a contabilidade entre o bom e o mau, o balanço é muito positivo.