SÓ CONVERSA, todos os domingos em O JOGO. Segundo números da Organização Mundial de Saúde, há quase um milhão de portugueses, com mais de 30 anos, que sofrem de diabetes
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Começa este domingo o campeonato da Europa de futsal para diabéticos, que conta com uma equipa que representa Portugal e que chega a Sarajevo, na Bósnia, com aspirações bem altas e determinada a provar que desporto e diabetes são compatíveis.
São dez os jogadores que integram uma equipa de 30 elementos da DiabPT United, a equipa que vai representar Portugal no DiaEuro 2016, o campeonato europeu de futsal para diabéticos. São atletas oriundos de todo o país, que têm em comum a doença e que querem provar que a diabetes não impede de sonhar alto e alcançar os objetivos definidos. A liderar o grupo está Vítor Perry Sengo, treinador de 47 anos, ligado ao futsal há duas décadas, que encontrou neste grupo uma segunda família.
Como se constituiu este grupo de jogadores?
Temos vindo a referenciar jogadores que jogam em distritais ou em equipas universitárias e fizemos também alguns treinos de captação. Chegámos a ter 30 atletas para chegarmos agora a esta seleção de dez jogadores.
Todos diabéticos.
Sim, claro. Ser diabético é condição obrigatória. Aliás, no Europeu só podem participar os atletas mediante prova médica. Mas eles são atletas como quaisquer outros. Vão competir e ajudar a desmistificar a ideia de que os diabéticos não podem fazer desporto.
Como nasceu esta equipa?
Por iniciativa do Núcleo Jovem da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal a que se juntou depois a Associação de Jovens Diabéticos de Portugal. Somos uma seleção autónoma, sem qualquer apoio da Federação Portuguesa de Futebol. Quando cheguei a este projeto, há seis meses, fiz uma apresentação junto da FPF, mas nada aconteceu. Nem um saco de bolas para treinarmos nos deram. Tiveram de ser os atletas a comprar.
A logística dos treinos é a parte mais complicada?
Já conseguimos um pavilhão para treinar, porque até isso tínhamos de pagar, mas a Câmara do Seixal cedeu-nos um espaço, sem custos para nós. Os jogadores dão tudo para vir treinar e jogar. Temos atletas de Aveiro, Beja, Évora ou Faro. São pessoas que suportam os custos para treinar todas as semanas. Não estão aqui porque é giro. Eles querem mesmo estar neste projeto e representar o país, o que aumenta ainda mais a responsabilidade.
Em termos de treino e jogo, há cuidados especiais a ter, tendo em conta a diabetes?
Os jogadores controlam os níveis de açúcar e todos conhecem os respetivos organismos para saber quando têm de consumir e compensar níveis que baixam. Mas, de resto, são atletas como outros quaisquer. Temos o acompanhamento de um enfermeiro especialista nesta doença e com uma experiência enorme e que está sempre a ensinar-nos algo. Estou no futsal há muitos anos, mas nunca tinha treinado uma equipa assim.
E em termos de talento?
São futebolistas normais, como os outros. Temos dois jogadores de futebol de 11, que jogam em Lisboa, nos distritais, e temos outros em equipas de futsal. E nas equipas em que jogam, são atletas normais. Aliás, o João Carrasco tem fortes possibilidades de integrar a equipa de juniores do Benfica na próxima época.
Há jogadores diabéticos na liga de futsal, em Portugal?
Não sei se há, mas acredito que sim. Na seleção da Croácia, que esteve no último Europeu, havia jogadores que jogavam no campeonato do país, quase profissionais. Mas quiseram jogar em nome da causa e integraram a seleção.
Orlando Duarte, antigo selecionador nacional de futsal, é o padrinho desta equipa. Qual é o papel dele?
Tem sido fantástico. Está connosco sempre que pode, assiste a treinos e a jogos amigáveis que temos feito, dá dicas e apoia-nos. Tem sido muito participativo.
Quais as aspirações da equipa neste campeonato?
Tenho visto vídeos de algumas equipas e há conjuntos fortes e muito físicos. Nós temos as nossas armas que são a velocidade e a qualidade técnica e vamos usar essas armas. Vamos para sermos campeões. Temos trabalhado muito para trazermos o título para Portugal, para levantarmos a nossa bandeira e para abrirmos os olhos de pessoas que não têm dado muita atenção a esta causa e estes jogadores merecem tudo.