Só Conversa, espaço d' O JOGO nas edições do domingo, falou com Edite Fernandes
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No Euro"2016 que terminou no domingo, Cristiano Ronaldo ultrapassou não apenas Figo (127), mas também Edite Fernandes (131) no número de internacionalizações A no futebol de onze. À frente do capitão da Seleção Nacional, que esta noite cumprirá a sua 133.ª internacionalização, está apenas Carla Couto (145), já retirada. Edite Fernandes, contudo, também ela capitã, da Seleção Nacional feminina, prepara-se para mais uma temporada, curiosamente a primeira de facto como profissional em Portugal, em duas décadas de carreira, na recém-criada equipa feminina do Braga, que vai estrear-se na igualmente novíssima Liga Allianz.
Quanto tempo prevê que a Seleção Nacional feminina vai ter de esperar para marcar presença numa fase final de um campeonato da Europa?
Na verdade, podemos ter de esperar muito pouco. Em setembro temos mais dois jogos de qualificação para o Euro"2017. Se os vencermos - frente à Finlândia e à Irlanda - e, por seu turno, a Finlândia perder com a Espanha, ficamos apuradas.
Isso parece difícil. Não depende apenas de vocês.
Continuamos a acreditar que é possível. Dificilmente a Espanha irá deixar-se empatar ou perder em casa com a Finlândia. E os nossos jogos são acessíveis também. Basta olharmos para a nossa Seleção, que está na final do Euro, para acreditarmos.
Imaginando que conseguem qualificar-se para o Europeu feminino de 2017...
Seremos umas outsiders, como foram a Islândia e o País de Gales neste Euro"2016. E foram longe na competição... É verdade que ainda estamos a crescer e a evoluir, mas nunca se sabe! Primeiro temos de conseguir o apuramento. Se conseguirmos, vamos desfrutar do momento e ir até onde conseguirmos.
Fez a sua estreia na Seleção Nacional em 1997, portanto, há 19 anos. O que mudou desde essa altura no futebol feminino em Portugal?
Muita coisa mesmo, até a atitude das próprias jogadoras, que, sendo amadoras, têm uma atitude profissional. E esta Direção da Federação tem sido excecional no reconhecimento que nos tem dado e no trabalho que tem feito por nós.
Jogou em Espanha, na Noruega, nos Estados Unidos; voltou a Portugal e representou o Valadares nas últimas épocas, com cirurgias pelo meio. Como está a encarar, aos 36 anos, o novo desafio de jogar no Braga?
Muita gente achava que eu já estava acabada para o futebol. E, afinal, vou ter a oportunidade de pela primeira vez viver do futebol em Portugal. Estar em casa e poder jogar como profissional é um grande motivo de orgulho para mim. Neste momento estou de férias no Algarve, mas a partir de segunda-feira vou começar a treinar, ainda sozinha, por minha iniciativa. Já quero estar em forma quando os treinos começarem.
O que vai a nova Liga Allianz trazer ao futebol feminino, na sua opinião?
Vai ser muito mais competitivo e a qualidade vai aumentar. Vamos ter clubes grandes envolvidos, o que vai permitir o regresso a Portugal de boas jogadoras que têm feito a sua carreira no estrangeiro.
De onde veio a sua paixão pelo futebol?
Sinceramente não sei. Sei que os meus pais se conheceram num campo de futebol: a minha mãe era uma malandra e foi ver um jogo só porque andava a galar o meu pai [risos]. Mas não foi o meu pai a influenciar-me, não é por aí... Só me lembro de passar a infância a jogar à bola na rua. Costumo dizer que tive a melhor das escolas de futebol: a rua.
Só começou a jogar num clube já adolescente...
Sim. Sou de Vila do Conde e os meus tios levaram-me a fazer testes ao Boavista. O treinador, assim que me viu a treinar, disse que eu era um diamante por lapidar e atirou-me logo para o meio dos lobos [risos].
Quando ainda jogava na rua, os rapazes queriam-na na equipa deles?
Então não queriam? Eu mandava naquilo tudo. Era a única rapariga, mas fazia a minha equipa e havia muito respeitinho por mim. As minhas primas iam jogar ao elástico e eu ficava a jogar à bola. Acho que nasceu comigo, sempre fui extrovertida e já na altura tinha capacidade de liderança.